Das cavernas ao touch screen – a escolha é sua!
Por Alessandra Leles Rocha
Se a vida hoje parece bem mais fácil do que nos tempos da vovó, por detrás de cada bem de consumo que você adquire, por mais elementar que seja o conhecimento gerado a partir de anos e anos de estudo é que permite tal facilidade. Isso, sem falar, no aumento da expectativa de vida que nos trouxe a longevidade pelas mãos da ciência e da tecnologia. Enfim, usufruímos diariamente do que é produzido dentro dos inúmeros centros de excelência científica no mundo e não nos damos conta. Mas, deveríamos.
E essa reflexão, esse olhar mais apurado em relação ao desenvolvimento científico e tecnológico passa fundamentalmente pelo nosso verdadeiro reconhecimento à Educação. Não há como dissociar esses elementos. São nos bancos das escolas que o interesse e a curiosidade científica despontam, a partir dos primeiros experimentos. Do feijãozinho plantado no algodão, na confecção do disco de Newton, na filtração de substâncias diferentes,... é ali que o individuo aguça o seu interesse infantil. É ali que ele estabelece as primeiras conexões entre o conhecimento e o cotidiano. Pergunte a qualquer grande cientista como foi que o seu despertar pela ciência começou. A resposta é sempre a mesma: na escola.
Por meio do trabalho criativo e inovador de milhares de professores, e escolas mundo afora, é que o conhecimento vem sendo implementado para florescer em ciência e tecnologia. Por meio de estratégias transdisciplinares, os alunos descobrem o valor e a importância de agregar as lições de cada conteúdo em busca de encontrar as respostas para seus questionamentos científicos. De modo que a Educação começa a lhes fazer sentido. O conhecimento é empregado de forma alinhavada entre si; como, já dizia Lavoisier , no século XVIII, “na Natureza nada se perde, nada se cria, tudo se transforma”.
Nessa pressa que tem nos feito olhar a vida de maneira superficial e atabalhoada é muito importante resgatar o raciocínio em relação aos processos. Nada é de repente. Nada é por acaso. A vida se estabelece por sucessivos procedimentos, e a ciência também. O celular, o micro-ondas, o carro, a Smart TV,... nada disso chegou a loja num piscar de olhos. Eles são resultado de processos científicos e tecnológicos que se aprimoram ano após ano pelas pesquisas acadêmicas.
Mas, faço aqui uma importante consideração, a de que não somente o universo do ensino superior desenvolve pesquisa. Projetos importantes de alunos do ensino Fundamental II e Médio, iniciados tantas vezes nas pequenas Feiras de Ciências; bem como, de Institutos Tecnológicos, têm originado resultados científicos extremamente relevantes para a ciência brasileira. Produtos pensados para atender demandas importantes de inclusão, de acessibilidade, de melhorias na qualidade de vida de milhares de pessoas.
Estamos tão condicionados a pensar que a ciência e a tecnologia são, também, produtos importados de outras nações, que não prestamos atenção ao nosso próprio quintal. Ficamos tão admirados diante de prêmios Nobel distribuídos aos cientistas de países desenvolvidos, que teimamos em desdenhar o trabalho exitoso e competente dos nossos, apesar das limitações logísticas e orçamentárias. De vez em quando, algum deles rompe as barreiras das impossibilidades e se ergue além do horizonte para a conquista de premiações internacionalmente importantes, elevando o nome do seu país, da sua cidadania, de cada um de nós.
E são essas contribuições científicas nacionais, ainda que em número aquém do desejado, é que nos garantem dispor de algumas tecnologias sem a necessidade de importá-las, a preço de ouro, de outros países. Sim, porque na medida em que a ciência e a tecnologia são produzidas dentro do nosso próprio espaço geográfico nós estamos gerando economia e riqueza de maneira significativa. Primeiro, porque estamos possibilitando a geração de recurso humano qualificado, o que representa a consolidação de capital humano. Segundo, porque podemos produzir tanto para atender as demandas internas quanto externas e, nesse caso, ser exportador é bem mais vantajoso do que importador. Terceiro, porque estamos valorizando o investimento já realizado na Educação, reaplicando a ciência e a tecnologia oriundas dela ao serviço do próprio país.
Aliás, esse é um aspecto importantíssimo porque ao obstaculizar o desenvolvimento da Educação e, por consequência, da Ciência e da Tecnologia, o país não deixa outra opção para os seus cientistas, as suas mentes mais notáveis, do que ir para outros países se quiserem continuar desenvolvendo os seus trabalhos. Isso significa que o Brasil perde tanto o recurso humano qualificado quanto todo o investimento realizado em ciência e tecnologia, até então; de modo que, outros é que irão se beneficiar disso e depois exportar para nós os produtos oriundos dessa produção científica. Portanto, esse é um tipo de economia que só causa mais prejuízo.
Precisamos reconhecer respeitar e dignificar o valor do nosso conhecimento, da nossa ciência, da nossa tecnologia, porque lá fora eles já o fizeram. Lá fora eles já têm a dimensão da competência científica brasileira, e não é de hoje. E por que, então, não fazemos o mesmo? Essa é uma pergunta que merece ser respondida. Afinal de contas, das cavernas ao touch screen – a escolha é nossa!