10,
9, 8, 7, 6...
Por
Alessandra Leles Rocha
Lá se vão quase
quatro décadas e a sensação que tenho é de que ainda aspiramos (ou esperamos)
por “uma vida melhor no futuro”, a
partir da percepção de quem vê “a vida
por cima de um muro de hipocrisia que insiste em nos rodear” 1. Principalmente, nesse findar anual. O velho e roto
hábito de postergar ao amanhã, fazendo “vista grossa” desde os sonhos mais
singelos até a própria existência.
Mas, ao transferir
as transformações ao destino, ao acaso, ao Ano Novo, ou “a quem possa
interessar”, nos abstemos do nosso protagonismo na defesa de nossos próprios
sonhos e convicções e nos mantemos assistindo ao festival de hipocrisias que continuam
insistindo em nos rodear.
A grande questão é
que essa nossa eterna abstenção não garante, de forma alguma, nos afastar dos incômodos
sociais a que fomos expostos. Por detrás das aparências há sempre uma (in)
consciência pulsante. Por isso, quanto mais ela dói, incomoda, desagrada,...
mais aumenta a vontade de sair por aí desejando esperança por dias melhores,
como se isso bastasse.
Pena que não basta.
Romper o casulo, trocar de pele, rasgar a fantasia, no tocante ao mais profundo
d’alma é isso que de fato encurta o caminho para esse futuro melhor. Arregaçar as
mangas pra valer. Se posicionar diante da sua verdade e não a dos outros;
pois, o futuro melhor começa no nosso próprio quintal. E isso me faz lembrar as
palavras da escritora Chimamanda Ngozi Adichie, “a história sozinha cria estereótipos, e o problema com os estereótipos
é que não é que eles não são verdadeiros, mas que eles são incompletos. Eles fazem
uma história se tornar a única história”.
A sociedade atual
parece um cachorro correndo atrás do próprio rabo; tentando se encaixar, se
moldar a esse ou aquele padrão, ou interesse, ou ideologia. As pessoas parecem
não pensar mais com a própria cabeça, como se entregues a um “efeito manada”; de modo que,
gradativamente, um vazio existencial e comportamental começasse a lhes corroer.
Há um desgaste físico e moral tão grande nessa “maratona” em busca da aceitação
e do pertencimento social que elas estão cada vez mais doentes e desorientadas.
Se por
um lado à tecnologia colocou cada um no seu casulo pessoal e intransferível,
por outro, isso não impediu que esses bilhões de casulos passassem a coexistir
se exibindo e imitando uns aos outros. Tudo em nome da opinião alheia e, então,
de repente, o individualismo se massificou! Em uma relação de amor e ódio, os “Eus”
se aplaudem e se estranham nesse rito social, fazendo a solidão ecoar sem
limite e o singular ser de um pluralismo replicante sem precedentes.
E diante disso,
penso que talvez a humanidade esteja, no fim das contas, mais a espera do que cultivando
a própria esperança, ou seja, no aguardo vão, na passividade inerte, ao invés
da confiança ativa de que algo bom e melhor possa acontecer a partir de si
mesmo. Por isso, permita-se SER; segundo
as palavras de Simone de Beauvoir, “mude
a sua vida hoje. Não deixe para arriscar no futuro, aja agora, sem atrasos”.
Um mundo melhor,
uma vida melhor, começa na perspectiva do seu olhar, do seu entendimento. Só
você pode moldar o seu próprio barro, escrever a sua própria história. Não somos
papel carbono. Não somos carimbos. 10, 9, 8, 7, 6...: “Hoje o tempo voa,
amor / Escorre pelas mãos / Mesmo sem se sentir / Não há tempo que volte, amor / Vamos viver tudo que há pra viver / Vamos nos permitir" 2.