Hoje é dia de escrever.
Por Alessandra Leles Rocha
Hoje é dia de escrever. De libertar a alma pelas palavras. De expressar
o que não cabe dentro de mim. De eternizar os pensamentos que poderiam se
perder no vento.
Quando tudo parece pesado demais é hora de escrever. Foi assim
que a escrita passou a fazer parte de mim.
Chega de plateias incompreensíveis. Papel e caneta, ou pelos
teclados da tecnologia, o dedo de prosa acontece com mais profundidade, do que
em muita sessão de terapia.
Sem constrangimento. Sem medir palavras e intenções, o diálogo
da escrita é sempre franco, por mais que se pense o contrário. Escrever, meu
caro, minha cara, é desnudar-se por completo.
É por isso que ninguém escreve igual. Escrever é tão pessoal
quanto à própria digital. Tem um traço de invisibilidade que marca a sua
presença de tal jeito que todos sabem que o texto é seu.
E tudo é razão para escrever. Dias de sol, de chuva,... Bateu na
alma diferente, lá vem à vontade doida de fazer confissões ao papel.
Não importa a hora. Não importa o lugar. Pode até começar no
papel de pão. O fundamental é verter a inquietude para que ela não se perca
antes de ser ressignificada como se deve.
Por isso, eu discordo de quem considera a escrita um alento para
a solidão. Nem todo escritor é solitário e nem todo solitário é, portanto,
escritor.
A escrita transcende os rótulos. Escrever é exercitar a
humanidade que habita em nós. É domar caprichosamente os arroubos das ideias
para que possam se tornar compreensíveis.
Aí, o jeito de fazer essa doma é de cada um. Tem poeta. Tem prosador.
Tem músico. Tem repentista. Tem quem abuse das palavras e quem poupe, com
receio de gastá-las sem tanta precisão.
E quanto mais se escreve, mais vontade se tem. Vira hábito. Algo
que se percebe a falta sem mesmo precisar manifestar.
Depois da primeira palavra ali desenhada, algo se transforma. A linha
que liga o questionamento a resposta se encurta. A coragem do registro, então, se aflora.
Não há porque se importar com as opiniões alheias. A sua, pelo
menos, está no papel. Assinada. Reafirmada pelo tempo.
Se algum dia tiver que mudar, partirá da sua escrita um novo
ponto de vista. Afinal, se o ser humano se transforma por que não transformariam
os seus escritos?
Escrever é um modo de manifestar a nossa evolução. Se os olhos são
capazes de enxergar além do visível, as palavras não podem ser indiferentes.
Por isso, mais do que hoje, todos os dias são de escrever. Não importa
que seja uma escrita para si ou para o mundo. Importa à sensibilidade, a
verdade, a profundidade em cada palavra.
Escrever rompe as amarras dos silêncios mais profundos. Contesta
os ditames impositivos do que se deve pensar, dizer, fazer, agir. Porque escrever é, simplesmente, tecer as asas
da própria alma.