Quanto custa?!
Por Alessandra Leles Rocha
Um viaduto na época da Copa do Mundo. Uma ciclovia às
vésperas dos Jogos Olímpicos. As obras que desmoronam diante dos nossos olhos
são, talvez, um reflexo daquilo que vem desmoronando há séculos em nosso país:
os valores.
Um povo alegre, risonho, aparentemente feliz. É assim que
descrevem os brasileiros, mundo afora. Mas, quanto aos nossos valores, fomos
sempre reconhecidos como hábeis executores do ‘jeitinho’; uma referência ‘ácida’
ao nosso mau hábito de fazer as coisas de qualquer jeito, burlando os caminhos
éticos e morais, enfim...
A questão é que a ausência de valores nos torna uma imensa incógnita.
O que esperar de gente assim, que fala uma coisa e faz outra? Gente, cujos
interesses materiais estão sempre acima do bom senso, do altruísmo, do respeito...
O confiar ‘desconfiando’ é sempre cansativo, sempre lastimável.
Querendo ou não, nossa imprevidência institucionalizada é tão
danosa que vai além da deterioração da imagem; ela custa caro, muito caro mesmo.
Caro do ponto de vista de projetos e execuções sem o menor critério de
responsabilidade e permite esvair milhões e milhões do dinheiro público. Caro do
ponto de vista humano, porque vidas são perdidas em razão de fatos absurdos; e
não há dinheiro que pague por isso.
A fragilidade dos valores morais do povo brasileiro extrapola
as raias do incompreensível. Puritanos e retrógrados com aquilo que tantas
vezes nem lhes diz respeito. Liberais ao extremo e tão ‘modernos’ diante do que
deveria ser prioridade e passível de ampla e profunda reflexão. Ora, ora; não
temos um posicionamento consciente e nem tampouco responsável diante do que
somos enquanto indivíduos, coletividade e nação.
Estamos sempre esperando que alguém faça por nós, cumpra
nossas próprias obrigações. Sempre esperando os agrados e rapapés, que possam
eventualmente render alguma conveniência social. Sempre dando mais valor ao TER
do que ao SER. Sempre lavando as mãos,
num rito de omissão consciente e voluntária. Desse ‘jeitinho’ em ‘jeitinho’
fundamenta-se a prática de resolver a vida pelo ângulo do ‘menos pior’ ao invés
de buscar o melhor, a excelência naquilo que se faz.
Os ranços coloniais ainda nos amarram a tal ponto que
queremos tudo sem fazer esforço, sem oferecer contrapartida à altura. Algo
contraditório em tempos olímpicos, já que dentre os princípios contemplados
pela Olimpíada está à conquista pelo próprio mérito. Mas, há tempos que deixamos
de levar isso em conta, para nos tornarmos um país cujas realizações ficam
aquém de suas potencialidades humanas e materiais.
Por isso, o país se esfacela. As falácias repetidas exaustivamente
não haveria como suprir as demandas da realidade. O verbo pede ação, trabalho, sacrifício
e compromisso. Com um pouco de lisura admite-se isso com facilidade e se rechaça
o discurso deprimente da vitimização; pois, vítimas só podem ser consideradas
aquelas mortas ou feridas em decorrência de tamanha irresponsabilidade.
Aos que ainda acreditam que os valores éticos e morais são
coisa do passado, estão fora de moda, convido a conferir os veículos de
imprensa. Tenho certeza de que uma breve passada de olhos pelas manchetes lhes
trará uma boa percepção de que nunca o mundo precisou tanto resgatar tais
valores como agora. Ações têm reações; todos sabem disso. Leis, códigos,
doutrinas, educação tudo isso é importante na transformação da sociedade; mas,
se não houver bom senso, consciência humanitária e de preservação da própria
espécie, nada disso adianta.