Hum! Aquele abraço...
Por Alessandra Leles Rocha
Mudanças. Superficiais ou profundas; mas, sempre
significativas na vida humana. Disso ninguém duvida! Entretanto, há algo em
nossa existência sobre a Terra que foge sim, a todas as transformações: o abraço.
É! Desde as nossas raízes mais primitivas os seres
humanos sempre manifestaram a necessidade de estar entre os braços de seus
semelhantes. Aconchegar-se no calor que emana do outro, sentir a sua pulsação cardíaca,
o respirar profundo e, às vezes, descompassado, a sensação de segurança e afeto
impossível de traduzir em palavras. Não há quem passe pela vida sem
experimentar essa emoção; nem que seja apenas uma única vez!
De tão vital que é não se acanha a falta de tempo,
aos excessos de compromissos, ao cansaço,... É involuntário! Quando nos damos
conta, já estamos entregues nesse laço! Na alegria, na tristeza, na dor, na
dúvida, na ansiedade,... basta à vida nos apertar de alguma forma para que o
abraço se torne a única maneira de respirar, de aquietar os cantinhos mais
profundos da alma. Daí em diante, tudo mais parece lucro; o colo, os afagos, os
carinhos, as beijocas, as mãos acariciando suavemente os cabelos.
O abraço é a porta de entrada da nossa essência. É
a nossa melhor forma de explicar o quanto nos preocupamos, queremos bem,
torcemos pelos outros. É o aceite grato e feliz da presença do semelhante, na
demonstração de intimidade; afinal, só abraçamos verdadeiramente, de corpo e de
alma, alguém que nos seja importante. Por isso mesmo, não tem limites de idade,
nem de etnia, nem de credo, nem de profissão, nem de nada! Abraçar nos liberta,
nos iguala, nos faz verdadeiramente fraternos!
Ele também é o nosso grande colecionador de memórias!
Ainda que inconsciente sobre esse fenômeno interessante, o ser humano tem essa
capacidade de associar os abraços aos grandes e pequenos momentos da sua
jornada. O abraço da família no dia da formatura. O abraço da professora no
primeiro dia de aula. O abraço da turma nos jogos da escola. O abraço da mãe
quando machucou o dedo. ... Talvez não se trate simplesmente do ato de abraçar,
mas da força das emoções, dos sentimentos, que ele consegue reunir e
materializar, a resultante desse imenso painel de lembranças e recordações.
Deveríamos fazer do abraço uma terapia, um remédio
a ser administrado sem restrições, daqueles com gosto de quero mais. Abraçar só
faz bem! Nos mantém vivos em todos os nossos sentidos; o abraço é um regulador
nato das nossas entranhas. Abraçar nos faz enxergar a nossa devida dimensão, nos
ensina a romper o nosso casulo individualista, a nossa autossuficiência, a nossa
pseudo-independência. Abrace a si mesmo, ao outro, ao mundo; só não deixe de
abraçar sempre e cada vez mais!