domingo, 30 de outubro de 2011

ESPORTE & CIDADANIA - Para começar muito bem a semana!!!


SUCESSO = Trabalho e versatilidade de mãos dadas

Por Alessandra Leles Rocha

Foi como tinha que ser, de grão em grão, vencendo e superando os limites, os entraves, para no final vencer com maestria, cumprindo a tradicional expressão futebolística “fez cabelo, barba e bigode”. Não, mas não é ao futebol que me refiro! É sobre o “golden volleyball”, os nossos meninos e meninas verdadeiramente de ouro do vôlei brasileiro.
Em xeque neste Pan-Americano as quatro medalhas do vôlei, distribuídas entre masculino e feminino nas areias e na quadra, a delegação brasileira amarelou de euforia, garra e determinação e se colocou a prova para vencer em tudo. Entre revanches e disputas tradicionalmente acirradas, o foco brasileiro esteve sempre muito bem calibrado.
Quando vi os “reis da quadra” subirem no lugar mais alto do pódio 1, nesta madrugada, pensei sobre o quanto o Brasil galgou espaços no esporte nas últimas décadas. Durante muito tempo a participação brasileira em eventos esportivos de alto nível internacionais era quase sempre tímida e se tornava mais um espelho de observação técnica para nossos atletas e profissionais do esporte, do que uma disputa de igual para igual. Uma medalha aqui e outra ali, mas não éramos apontados como uma força, um concorrente a ser vencido ou copiado. E hoje, quanta diferença!
Em várias as situações pisamos os ginásios como francos favoritos. Todos querem nos superar! O país que durante décadas acalentou o status de “país do futebol”, agora se orgulha em verde amarelo por ser um país de muitos esportes 2. Sucesso indiscutível e traduzido em ouro no vôlei, na natação, na ginástica rítmica, na ginástica artística, no atletismo, no judô, no caratê, no tênis de mesa, na vela, na patinação, no triatlo, no tiro, no handebol, no levantamento de peso; além de mantermos ou abrirmos espaço em outros desportos, estando presentes no pódio para a conquista das medalhas de prata e de bronze.
A história do esporte brasileiro fala por si só: anos de luta, perseverança, ausência de estrutura logística adequada e orçamento suficiente; até que, em pleno século XXI, pudesse refletir uma evolução mais concreta rumo à transformação verdadeiramente necessária. A consciência de que o esporte é sem duvida alguma um grande agente de cidadania e construção social já está incorporada; de modo que a sociedade clama cada vez mais por oportunidades de acesso, para que possa apresentar novas legiões de talentos.
Indiscutivelmente, uma significativa parcela nesse processo de consolidação de um novo paradigma do esporte brasileiro merece ser destacada ao trabalho do vôlei no país. Da sofrida medalha de prata em Los Angeles (1984) 3, a tristeza foi convertida em ação e desenvolvimento, para que em uma década depois despontasse a nova referência do vôlei mundial, a seleção de ouro em Barcelona (1992) 4. Dali em diante, os ventos da mudança sopraram sobre o país e descortinaram as infinitas possibilidades de ser e realizar, além dos campos de várzea e terra batida. O Brasil podia muito mais do que simplesmente encantar com a bola nos pés! Podíamos ter o domínio da bola nas mãos, desafiar a resistência das águas, revelar a elasticidade dos corpos, impressionar a delicadeza do equilíbrio,... Legitimar, de uma vez por todas, a versatilidade de um povo genuinamente plural.
Pouco importa se no quadro geral das medalhas, tendo como prioridade as de ouro, ficamos em terceiro lugar nos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara! É o que se esconde atrás dos números o que realmente é relevante; a transformação. A vitória, e isso não significa necessariamente o primeiro lugar, é sempre o combustível para a superação; o modo especial de se olhar a vida e os acontecimentos acima do horizonte visível.  Como disse o poeta Augusto Branco, “Bom mesmo é ir à luta com determinação, abraçar a vida com paixão, perder com classe e vencer com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é “muito” para ser insignificante” 5, e nossos atletas parecem já ter entendido esse recado!

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Acredito que todo comentário é o resultado da disposição de ler um texto até o final, ou seja, de uma maneira completa e atenta, a fim de extrair algo de bom, de interessante, de reflexivo, e, até quem sabe, de útil. Sendo assim, meus sinceros agradecimentos pelo tempo dedicado ao meu texto e por suas palavras.