segunda-feira, 30 de maio de 2011

Crônica

Como sobreviver ao visgo dessa teia?

Por Alessandra Leles Rocha

         Por mais que se queira olhar além dos horizontes, acima da névoa cinzenta impregnada por más energias, e apenas centrar foco na esperança, na expectativa de dias regados pelo o que há de mais belo, justo e melhor nessa vida; a disputa entre o Bem e o Mal não anda nada equilibrada.
         Não falta vontade de fugir, se isolar, se blindar do alvejamento bárbaro e cruel do cotidiano; já que, as notícias e os fatos não se encontram no domínio de algo que possamos efetivamente fazer ou transformar. Fomos “convidados”, ainda que a contragosto, a sermos telespectadores do absurdo, do insensato, do irracional, do desumano.
         O descaso com as regras, as normas, as diretrizes sociais hasteou uma imensa bandeira de banalização dos princípios éticos e morais. Tudo passou a ser “aceito”, “permitido”, consequência das mudanças que o passar do tempo inevitavelmente repercute a sociedade; “necessidades”, “exigências”, que se aderem ao modo de ser, de agir e de pensar dos indivíduos e muitas vezes os alteram além dos limites aceitáveis ou do próprio bom senso.
         Nos assustamos, nos questionamos, por que a inversão da lógica do padrão comportamental humano é surreal. Não sabemos de onde virá à surpresa impactante; estamos desprotegidos, expostos na linha de fronte. Bem nascidos ou mal nascidos, cultos ou incultos, fieis ou infiéis, homens ou mulheres, crianças ou idosos,... parece não haver mais diferença no que diz respeito à ruptura dos padrões sociais, alcançando-se praticamente o nível da barbárie, quando a humanidade submetia-se tão somente à satisfação de seus próprios instintos.
         O germe que parecia dormente e domado ao longo da evolução e dos constantes reenquadramentos sociais, frente às pressões contemporâneas de um modo fortemente competitivo e atrelado a valores materiais, sufocou o pensamento existencialista. TER em todos os sentidos se tornou mais importante do que SER.
         Não é à toa que o tempo se evidencia cada vez mais escasso. De fato ele ficou insuficiente a essa gigantesca demanda de obrigações, de metas, de “sonhos” e de aspirações que acalentamos ininterruptamente nos ciclos de vinte e quatro horas de nossa existência. Lentamente estamos nos esquecendo do valor das simplicidades cotidianas, do tecer silencioso e contemplativo das relações afetivas, do olhar sincero em busca do que há no fundo de nossa retina...
         Então, como sobreviver ao visgo dessa teia? A força com que se move esse “furacão” está nos adoecendo o corpo e a alma, nos enfraquecendo o instinto de sobrevivência, de resistência às adversidades. Se esse processo persistir, muito em breve teremos nos rendido ao mais profundo comodismo alienante. Lembre-se: todo ser humano sabe o que é certo e o que é errado; e não é porque alguns escolheram trilhar “o quanto pior melhor”, que você é obrigado a fazê-lo também! O que nos manterá de pé, apesar de tudo, é a imaterial força pessoal e intransferível de nosso livre arbítrio, nossa escolha entre caminhar, mesmo que solitário, pelo deserto em busca de um oásis; onde possamos repousar seguro e sereno o nosso espírito e lapidar-lhe a beleza arranhada pela rudeza insistente dessa vida.