No
Brasil, velhas ideias parecem nunca morrer!
Por Alessandra
Leles Rocha
O Brasil tem dado passos largos
no sentido de dissecar e depurar a sua história antidemocrática; mas, a tarefa
é árdua. Hoje, já se tem pleno conhecimento, por exemplo, de como os EUA tiveram
um papel crucial no golpe de 1964, no país, fornecendo apoio político e militar
para a derrubada do presidente João Goulart.
A "ameaça comunista”
frequentemente utilizada em discursos para combater o que era visto como uma
subversão pelos governos estadunidenses, ao longo da Guerra Fria, foi explorada
por setores conservadores, militares e a elite brasileira, na ocasião, para
justificar e explicar a repressão política e a violência por parte de grupos
paramilitares e estatais, durante o período da ditadura militar, no Brasil.
Assim, a expansão imperialista
dos Estados Unidos e a "ameaça comunista" estão historicamente
interligadas, principalmente durante a Guerra Fria, onde uma retórica anticomunista
foi usada como justificativa para a influência política e militar dos EUA no
exterior, em contraposição ao imperialismo da União das Repúblicas Socialistas soviéticas
(URSS). Principalmente, na América Latina.
E de todo esse processo, uma
herança importante se estabeleceu na violência e no extermínio de seres humanos,
como um processo enraizado no inconsciente coletivo brasileiro. Algo historicamente
internalizado pelo racismo e pela desumanização de certos grupos sociais, vistos
como fonte de mal a serem controlados e eliminados, e manifestado através de
práticas estatais e paraestatais, em que a violência física, o silenciamento e a
desvalorização, contribuíram para um ciclo de criminalização e de repressão
desmedida, os quais perpetuam a violência.
Acontece que, superado o velho
cenário da Guerra Fria, os EUA se encontram nesse momento do século XXI em uma
nova disputa geopolítica, dessa vez, com a China. O que tem levado o governo
estadunidense a um resgate de suas velhas práxis imperialistas. de modo que o mundo tem acompanhado o
intervencionismo dos EUA na América Latina, sob a justificativa de proteger seus
interesses estratégicos e econômicos, usando táticas como pressão econômica,
apoio a golpes de estado e intervenções militares.
Mais recentemente, ações ostensivas
de poder naval para atingir objetivos de política externa, a fim de influenciar
governos e conter adversários, tem sido implementada, tendo como argumento
principal o chamado "narcoterrorismo". Trata-se de uma postura mais
agressiva, classificando cartéis de drogas como organizações terroristas, o que
em tese permitiria o uso de medidas mais amplas, pelos EUA, incluindo a
possibilidade de ações militares e de inteligência, contra esses grupos e seus
respectivos países.
De modo que ao classificar o
crime organizado como “narcoterrorismo”, a questão é elevada de um problema de
segurança pública nacional para uma ameaça à segurança internacional, o que
poderia, então, legitimar ações externas, sob a alegação de combate ao
terrorismo ou ao crime transnacional. Mas, isso seria uma ameaça direta à
soberania nacional, enquanto pretexto para intervenção estrangeira. Portanto, esse
é o ponto fundamental de análise e reflexão.
Bem, como é de conhecimento público,
herdeiros (a) da Direita nacional e seus matizes, mais ou menos radicais e
extremistas, assim como em 1964, tem se colocado ao lado dos EUA e defendido a
ideia da tipificação de “narcoterrorismo” para permitir o uso de medidas mais
amplas e intervencionistas no Brasil.
O que esses representantes,
simpatizantes e apoiadores da Direita nacional e seus matizes se esquecem é de que
o intervencionismo internacional representa sim, riscos à soberania nacional, ao
interferir nas questões internas do país, podendo se manifestar através de ações
de natureza econômica, pressão política ou, em casos extremos, intervenção
militar.
Assim, em linhas gerais, esse posicionamento
da Direita nacional e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas,
se mostra como mais uma tentativa de atentar contra a Democracia brasileira,
depois do insucesso recente, que culminou no 8 de janeiro de 2023, e pelo qual
respondem judicialmente vários de seus representantes. Em sua visão de mundo
ideal, quaisquer pretextos para o intervencionismo estadunidense no Brasil, serviria
como um retorno triunfante da sua apropriação de poder, desde o fim da ditadura
militar em 1985.
No entanto, apesar de os tempos serem outros, não nos esqueçamos: “Aquele que não conhece a verdade é simplesmente um ignorante, mas aquele que a conhece e diz que é mentira, este é um criminoso” (Bertolt Brecht - dramaturgo e poeta alemão do século XX).
