segunda-feira, 29 de maio de 2023

Oh! Céus! Nossa! Ih! Quê! ...


Oh! Céus! Nossa! Ih! Quê! ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Bom, a não ser que os (as) brasileiros (as) tenham dormido sono profundo, levado um verdadeiro “Boa noite, Cinderela!”, nos últimos quatro anos, para que seja possível justificar a perplexidade que toma conta dos veículos de comunicação e informação, sobre o calote promovido pelo ex-governo federal, na Caixa Econômica 1, tendo como objetivo a sua reeleição.

Por favor, parem com as interjeições! Não deveria haver qualquer surpresa ou espanto a respeito. Sobretudo, para a direita e seus matizes, mais ou menos radicais e extremistas, que foram os grandes responsáveis pela escolha de quem lhes representaria no Planalto. Lamento, mas escolheram mal! Bem mal!  Porque ele não só foi insubordinado quanto às pretensões definidas por essas pessoas, que o colocaram lá no topo, como também extrapolou, dentro do que diz o provérbio português sobre “Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”, aprontando todas as bizarrices impróprias à liturgia do cargo.   

Desse modo, quanta ingenuidade dessa gente, não é mesmo?! A notícia do dia surge como um aperitivo do que ainda virá pela frente. Sim, estejam certos de que virá mais, muito mais. Sugiro recapitular o acervo midiático a respeito do ex-governo para traçar algum panorama do caos que se desenha no horizonte. Afinal, nunca na história desse país se viu tanto dinheiro jogado fora, desperdiçado, gasto indevidamente. De leite condensado à vacina, teve de um tudo na contabilidade esdrúxula e mal-intencionada dessa gente.

Porém, me obriga o dever cidadão ressaltar um detalhe um tanto quanto óbvio. Como já mencionado, o ex-presidente foi uma aposta das elites da direita e seus matizes que almejavam por alguém que lhes fosse plenamente fiel aos seus interesses. Alguém que cumprisse à risca cada um dos seus objetivos. Contudo, já conhecida a fama rebelde do escolhido, acreditaram que colocando gente do staff militar ao seu redor, eventuais arroubos estariam sob controle.

Só que não! O plano infalível deu errado! Diante do poder, a insubordinação pirou na batatinha! E o festival de desobediência, indisciplina, infração e rebeldia, correu solto! Mas, como?! Segundo diria Sherlock Holmes, “Elementar, meu caro leitor”! Tendo tido o ex-presidente uma longa carreira no Legislativo Federal, podendo chamá-lo inclusive de “cobra criada”, não se pode retirar dele a expertise sobre os meandros mais fisiológicos do lugar. De modo que ele “juntou a fome com a vontade de comer”.

Não entendeu? Eu explico. Em se tratando de uma natureza indócil, ele precisava encontrar um caminho para se livrar das cobranças daqueles que apostaram todas as fichas na sua candidatura. Acontece que ele não nasceu para governar. O que ele queria mesmo era o status da posição e todas as regalias e os privilégios a ele inerentes. Só isso. Haja vista as motociatas, Brasil afora!

De modo que a saída estratégica mais conveniente foi estabelecer, por caminhos nada ortodoxos, um acordo com a Câmara dos Deputados, transformando o sistema de governo do país em um presidencialismo de fachada. Afinal, quem dava as cartas eram os nobres Deputados, sob o peso de um tal “Orçamento Secreto”, que só depois de ser levado à deliberação do Supremo Tribunal Federal foi considerado inconstitucional 2.   

E assim, transparecendo uma certa normalidade governamental, decisões terrivelmente nefastas para o país foram referendadas, sem quaisquer sinais de constrangimentos, pelo legislativo federal e aprovadas pelo ex-presidente. Portanto, ele nunca esteve só em suas práxis. A direita e seus matizes, mais ou menos radicais e extremistas, dentro e fora dos poderes Executivo e Legislativo, sempre manifestaram a sua simpatia e apoio aos atos do governo.

Dessa forma, havia uma legitimidade discursiva que não só era disseminada pelas redes sociais direitistas, como criava uma cortina de fumaça para encobrir os malfeitos, e quiçá, os delitos, por meio de Fake News, distorcendo a realidade. A verdade é que essa gente tinha tanta certeza do poder nas mãos, de uma inabalável continuidade governamental, que acabaram metendo os pés pelas mãos, confiando cegamente na impunidade que a imunidade político-partidária lhes conferia.

Diante disso, é óbvio que o caso do calote na CEF merece apuração e análise rigorosa da Justiça. Aliás, não só esse; mas, todos os que ainda vierem à tona. Mas, o que é imperioso considerar é o fato de que não se pode elencar apenas um indivíduo como bode expiatório, quando ele sempre esteve transitando em manada, cercado por asseclas tão ávidos pelo poder quanto ele. Dadas as devidas proporções e responsabilidades, todos devem pagar pelos seus delitos, inclusive, restituindo aos cofres públicos o que lhes foi indevidamente apropriado.

É preciso entender que essa breve reflexão, não trata apenas de delito, de corrupção ou de má gestão pública. Isso é só a espuma da história. O que está submerso nas entrelinhas é, certamente, o mais importante para a análise, pois representa as mais diversas formas e conteúdos da reafirmação expansionista da Direita. É isso tipo de ideário defendido por ela e seus matizes, mais ou menos radicais e extremistas, que normaliza e banaliza a usurpação do dinheiro público para reeleição, por exemplo, que precisa ser veementemente rechaçada.

Afinal, cria-se um modus operandi deturpado de governança, na qual o vislumbre da reeleição leva a Democracia para o palco do ilusionismo oportunista. Sim, porque de uma hora para outra o povo é soterrado por benesses a fim de ofuscar demandas históricas que nunca sequer tornaram-se objetos de discussão para a formulação de políticas públicas efetivas. O velho estratagema de oferecer com uma mão e rapidamente retirar com a outra; mas, deixando sempre um rastro de reverberações negativas, como acontece agora.

E são situações assim que explicam o porquê das desigualdades resistentes e persistentes no Brasil. Enquanto a direita e seus matizes permanecem se sentindo confortáveis nas posições de poder, no país, o jogo político-partidário tende, infelizmente, a ser conduzido dessa forma, reproduzindo tais modelos e práxis.

É fundamental, portanto, a expressão do contraditório, a oposição contundente, para que haja transformação social e se identifique, cada vez menos, na administração pública, a ocorrência de peculato, ou de concussão, ou de prevaricação, ou de emprego irregular de verbas e rendas, ou de abuso de poder.

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