Oh!
Céus! Nossa! Ih! Quê! ...
Por
Alessandra Leles Rocha
Bom, a não ser que os (as)
brasileiros (as) tenham dormido sono profundo, levado um verdadeiro “Boa noite, Cinderela!”, nos últimos
quatro anos, para que seja possível justificar a perplexidade que toma conta
dos veículos de comunicação e informação, sobre o calote promovido pelo
ex-governo federal, na Caixa Econômica 1,
tendo como objetivo a sua reeleição.
Por favor, parem com as
interjeições! Não deveria haver qualquer surpresa ou espanto a respeito.
Sobretudo, para a direita e seus matizes, mais ou menos radicais e extremistas,
que foram os grandes responsáveis pela escolha de quem lhes representaria no
Planalto. Lamento, mas escolheram mal! Bem mal! Porque ele não só foi insubordinado quanto às
pretensões definidas por essas pessoas, que o colocaram lá no topo, como também
extrapolou, dentro do que diz o provérbio português sobre “Quem nunca comeu melado, quando come se lambuza”, aprontando todas
as bizarrices impróprias à liturgia do cargo.
Desse modo, quanta ingenuidade
dessa gente, não é mesmo?! A notícia do dia surge como um aperitivo do que
ainda virá pela frente. Sim, estejam certos de que virá mais, muito mais.
Sugiro recapitular o acervo midiático a respeito do ex-governo para traçar
algum panorama do caos que se desenha no horizonte. Afinal, nunca na história
desse país se viu tanto dinheiro jogado fora, desperdiçado, gasto indevidamente.
De leite condensado à vacina, teve de um tudo na contabilidade esdrúxula e mal-intencionada
dessa gente.
Porém, me obriga o dever cidadão ressaltar
um detalhe um tanto quanto óbvio. Como já mencionado, o ex-presidente foi uma aposta
das elites da direita e seus matizes que almejavam por alguém que lhes fosse
plenamente fiel aos seus interesses. Alguém que cumprisse à risca cada um dos
seus objetivos. Contudo, já conhecida a fama rebelde do escolhido, acreditaram
que colocando gente do staff militar
ao seu redor, eventuais arroubos estariam sob controle.
Só que não! O plano infalível deu
errado! Diante do poder, a insubordinação pirou na batatinha! E o festival de desobediência,
indisciplina, infração e rebeldia, correu solto! Mas, como?! Segundo diria
Sherlock Holmes, “Elementar, meu caro
leitor”! Tendo tido o ex-presidente uma longa carreira no Legislativo Federal,
podendo chamá-lo inclusive de “cobra
criada”, não se pode retirar dele a expertise sobre os meandros mais
fisiológicos do lugar. De modo que ele “juntou
a fome com a vontade de comer”.
Não entendeu? Eu explico. Em se
tratando de uma natureza indócil, ele precisava encontrar um caminho para se
livrar das cobranças daqueles que apostaram todas as fichas na sua candidatura.
Acontece que ele não nasceu para governar. O que ele queria mesmo era o status
da posição e todas as regalias e os privilégios a ele inerentes. Só isso. Haja
vista as motociatas, Brasil afora!
De modo que a saída estratégica
mais conveniente foi estabelecer, por caminhos nada ortodoxos, um acordo com a Câmara
dos Deputados, transformando o sistema de governo do país em um
presidencialismo de fachada. Afinal, quem dava as cartas eram os nobres
Deputados, sob o peso de um tal “Orçamento
Secreto”, que só depois de ser levado à deliberação do Supremo Tribunal
Federal foi considerado inconstitucional 2.
E assim, transparecendo uma certa
normalidade governamental, decisões terrivelmente nefastas para o país foram referendadas,
sem quaisquer sinais de constrangimentos, pelo legislativo federal e aprovadas
pelo ex-presidente. Portanto, ele nunca esteve só em suas práxis. A direita e
seus matizes, mais ou menos radicais e extremistas, dentro e fora dos poderes
Executivo e Legislativo, sempre manifestaram a sua simpatia e apoio aos atos do
governo.
Dessa forma, havia uma
legitimidade discursiva que não só era disseminada pelas redes sociais
direitistas, como criava uma cortina de fumaça para encobrir os malfeitos, e
quiçá, os delitos, por meio de Fake News,
distorcendo a realidade. A verdade é que essa gente tinha tanta certeza do
poder nas mãos, de uma inabalável continuidade governamental, que acabaram
metendo os pés pelas mãos, confiando cegamente na impunidade que a imunidade político-partidária
lhes conferia.
Diante disso, é óbvio que o caso do
calote na CEF merece apuração e análise rigorosa da Justiça. Aliás, não só esse;
mas, todos os que ainda vierem à tona. Mas, o que é imperioso considerar é o
fato de que não se pode elencar apenas um indivíduo como bode expiatório,
quando ele sempre esteve transitando em manada, cercado por asseclas tão ávidos
pelo poder quanto ele. Dadas as devidas proporções e responsabilidades, todos
devem pagar pelos seus delitos, inclusive, restituindo aos cofres públicos o
que lhes foi indevidamente apropriado.
É preciso entender que essa breve
reflexão, não trata apenas de delito, de corrupção ou de má gestão pública. Isso
é só a espuma da história. O que está submerso nas entrelinhas é, certamente, o
mais importante para a análise, pois representa as mais diversas formas e conteúdos
da reafirmação expansionista da Direita. É isso tipo de ideário defendido por
ela e seus matizes, mais ou menos radicais e extremistas, que normaliza e
banaliza a usurpação do dinheiro público para reeleição, por exemplo, que
precisa ser veementemente rechaçada.
Afinal, cria-se um modus operandi deturpado de governança,
na qual o vislumbre da reeleição leva a Democracia para o palco do ilusionismo
oportunista. Sim, porque de uma hora para outra o povo é soterrado por benesses
a fim de ofuscar demandas históricas que nunca sequer tornaram-se objetos de
discussão para a formulação de políticas públicas efetivas. O velho estratagema
de oferecer com uma mão e rapidamente retirar com a outra; mas, deixando sempre
um rastro de reverberações negativas, como acontece agora.
E são situações assim que
explicam o porquê das desigualdades resistentes e persistentes no Brasil. Enquanto
a direita e seus matizes permanecem se sentindo confortáveis nas posições de
poder, no país, o jogo político-partidário tende, infelizmente, a ser conduzido
dessa forma, reproduzindo tais modelos e práxis.
É fundamental, portanto, a
expressão do contraditório, a oposição contundente, para que haja transformação
social e se identifique, cada vez menos, na administração pública, a ocorrência
de peculato, ou de concussão, ou de prevaricação, ou de emprego irregular de
verbas e rendas, ou de abuso de poder.