domingo, 22 de março de 2020

O Dia Mundial da Água foi criado pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas através da resolução A/RES/47/193 de 21 de Fevereiro de 1993,declarando todo o dia 22 de Março de cada ano como sendo o Dia Mundial das Águas (DMA), para ser observado a partir de 1993, de acordo com as recomendações da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento contidas no capítulo 18 (Recursos hídricos) da Agenda 21.


ÁGUA... reflexões em tempos do COVID-19



Por Alessandra Leles Rocha



Não é à toa que o planeta Terra visto do espaço é chamado de planeta azul. Dois terços da sua superfície são de água em estado líquido. São oceanos, mares, rios, lagos que guardam não somente riquezas da fauna e da flora aquática; mas, também, da sobrevivência humana. Pena, que não temos sido muito conscientes em relação a esse recurso natural tão importante.
Diariamente são despejadas toneladas de resíduos sólidos e efluentes químicos, tóxicos e/ou orgânicos, tanto em águas doces, aquelas que apresentam uma salinidade inferior a 1% do que se observa nos oceanos, quanto em águas salgadas (oceanos e mares).  De modo que, cada vez mais elas se tornam inviáveis para consumo, recreação, irrigação, criação de animais e balneabilidade, por conta da presença de inúmeros contaminantes, alguns deles letais.
É fundamental que fique claro, a contaminação da água segue um caminho cumulativo. Isso significa que os efeitos nocivos, quase sempre, se manifestam em médio e em longo prazo, após anos de exposição. A não ser quando há um contato direto com grandes concentrações de contaminantes é que a letalidade se torna iminente.
Além disso, o grau de vulnerabilidade biológica de cada organismo, ou seja, o nível de resistência a esse ou aquele contaminante é diferente para cada pessoa. Por essa razão, populações pobres ou abaixo da linha da miséria são mais susceptíveis aos efeitos nocivos de águas contaminadas. A exposição as péssimas condições de vida, incluindo a subnutrição, reduz a sua imunidade e sua capacidade de combater as doenças.
De modo que essa inviabilidade de utilização dos recursos hídricos esteja se tornando tão crítica que, em 2019, a Organização das Nações Unidas (ONU) já destacava o fato: “O consumo mundial de água está aumentando – mesmo em países onde a população cresce pouco – e as reservas de água boa estão cada vez mais ameaçadas pelas atividades humanas. [...] Hoje (2019), mais de 1 bilhão de pessoas não têm acesso a fontes confiáveis de água no mundo. Em 2025, boa parte do planeta estará em situação de stress hídrico, ou seja: a água disponível não será suficiente para os diferentes usos que o homem faz do recurso, como a agricultura, que é, de longe, a atividade que mais consome água. Até lá, 3 bilhões de pessoas sofrerão com escassez de água, segundo a ONU” 1.
Mas, quando se manifestou a respeito nem a ONU e nem ninguém poderia supor que uma Pandemia se instalasse entre nós. Por incrível que pareça, o surgimento do COVID-19 vem prestando um serviço de utilidade pública sem precedentes, na medida em que trouxe luz sobre a relação entre a água e os cuidados de higiene no combate as inúmeras doenças infectocontagiosas disseminadas pelo planeta.
Antes mesmo que medicações importantes como os antibióticos fossem criados para debelar infecções, era por meio de água e sabão que profissionais da saúde buscavam mitigar o processo de transmissão de patógenos. As orientações de higiene descreviam que, das mãos aos utensílios e vestuários, tudo deveria ser lavado em água corrente e sabão, posto secar ao sol e passado a ferro bem quente a fim de evitar que as doenças saíssem do controle sanitário.
Agora, o COVID-19 nos alerta para aquilo que já deveria ser hábito incorporado. Lavar as mãos corretamente com água e sabão ou, quando não for possível, desinfetá-las com álcool gel a 70%. No entanto, tal prática nos impõe o elementar, ou seja, água limpa; o que para milhões de pessoas ao redor do mundo é, na atualidade, um privilégio de poucos. Assim como, o álcool gel.
Em janeiro desse ano, por exemplo, a Companhia estadual de Águas e Esgoto (Cedae), do Rio de Janeiro, se viu envolvida em uma grave crise de abastecimento na capital fluminense, em razão de reclamações dos cidadãos quanto ao cheiro, sabor e aspecto da água fornecida aos consumidores.
De modo que muitos tiveram que recorrer à utilização de água mineral, para evitar riscos de contaminação. A impossibilidade de utilização de uma água boa, limpa, de qualidade vai além do direito básico em fazê-lo; ela esbarra direta e indiretamente na questão financeira. Daí enquadrar-se como um privilégio, algo não acessível a todos igualmente.
E se não é acessível, a cronificação desse impedimento já traz prejuízos à saúde de milhares de pessoas. Não poder lavar as mãos com água limpa e sabão na prevenção do COVID-19 é, portanto, somente a ponta de um gigantesco iceberg da saúde pública, o qual se arrasta por décadas na invisibilidade. Doenças que poderiam ser prevenidas por meio de práticas de higiene satisfatórias e não são por causa da inacessibilidade à água e esgoto devidamente tratado.
De maus em maus hábitos a complexa estrutura que envolve a utilização da água pelo ser humano vai sendo erguida. Ninguém para de poluir. Ninguém para de destruir as matas ciliares responsáveis pela manutenção das nascentes. Ninguém para de aceitar a emissão de esgotos e efluentes nos rios e mares. Ninguém cobra o saneamento básico junto às autoridades responsáveis. Enfim... ninguém se lembra da água até que seja necessário.
Só que a necessidade é todo dia, toda hora, todo minuto. Água para beber. Água para cozinhar. Água para tomar banho. Água para escovar os dentes. Água para limpar as feridas. Água para lavar a roupa. Água para fazer gelo. Água para lavar as mãos contra doenças. Água para... viver ou, pelo menos, sobreviver. Então, deveriam estar mais atentas, mais colaborativas, mais integradas a sua parcela de responsabilidade em relação à água.
Entenda de uma vez por todas que "o Meio Ambiente tem você no meio". Não adianta tentar se esquivar dessa responsabilidade porque ela irá te atingir de alguma forma. Se com mais ou menos intensidade só depende de você; a escolha é sua. Então, sempre que pensar na água imagine como seria se não pudesse ter acesso a ela. Isso certamente vai mudar seus conceitos e suas atitudes de algum modo.