Novos
trabalhadores
Por
Alessandra Leles Rocha
Que as relações de
trabalho se modificam, isso ninguém dúvida. Trata-se de um movimento natural ao
processo de desenvolvimento científico e tecnológico que abre e fecha janelas
de oportunidade a partir da oferta e procura por demandas.
Diante do ritmo
frenético de inovações a que está submetida a humanidade, desde a Revolução Industrial,
já é uma realidade a constante substituição de grandes contingentes humanos por
força da mecanização; o que, impacta cada vez mais a disponibilidade de vagas
de trabalho nos moldes tradicionais de ofício.
No Brasil, por
exemplo, no trimestre de novembro (2017) a janeiro (2018), a taxa média de
desemprego foi de 12,2%, atingindo 12,7 milhões de trabalhadores, segundo dados
do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Uma cifra tão
expressiva como essa nos aponta uma realidade dura para o mercado de trabalho; como
recolocar esses 12,7 milhões de trabalhadores, se diariamente outros tantos
entram na disputa? Essa é uma conta que não fecha, especialmente, se pensarmos
em curto prazo movidos pela necessidade de sobrevivência desses cidadãos.
De repente, o que
se viu a partir desses números foi uma ruptura com um discurso já impregnado no
inconsciente coletivo da população, em torno do trabalho assalariado formal, e
que por conta das conjunturas a se arrastarem ao longo do tempo esbarram agora
na impossibilidade de êxito. Desse modo, milhões de pessoas veem-se entregues à
própria sorte, tendo que encontrar alternativas para garantir o suprimento das necessidades
básicas cotidianas, seja por meio de atividades informais ou por tornarem-se
Microempreendedores individuais (MEIs) ou Microempresários 1.
No entanto, o que
parece ser a solução dos problemas não chega à vida das pessoas sem uma carga
emocional e discriminatória significante. A ideia da segurança, da
estabilidade, do status que o emprego formal oferece; sobretudo, com o aval da
chamada “carteira assinada”, trouxe para o indivíduo, de uma hora para outra, o
seu esfacelamento pela crise do desemprego; portanto, ele não foi preparado, do
ponto vista social, para uma mudança dessa envergadura.
Além disso, ainda
persiste socialmente uma visão de subemprego para determinadas atividades de
prestação de serviço, o que torna a precificação do trabalho um entrave na
relação entre o profissional e o cliente. Infelizmente, o prestador de serviços
ainda é identificado como uma pessoa que exerce aquela função como um “bico”, um
trabalho temporário e de menor valor.
As pessoas se
esquecem de que o exercício de qualquer função laboral depende de conhecimento,
de prática, de disponibilidade quanto às inovações constantes, para o alcance
de um resultado final satisfatório ao cliente. Sem contar que algumas
atividades vão além de um domínio técnico básico e necessitam de formação
superior. Assim, além de arrastar alguma frustração pelo insucesso no mercado
formal, o cidadão ainda se vê desqualificado e menosprezado de antemão por
muitos de seus clientes, quando passa a ser um prestador de serviços.
Isso é muito comum,
por exemplo, em atividades ligadas ao conhecimento teórico ou educacional. Quem
necessita do serviço de uma aula particular não se dá conta de que aquele
profissional dedicou tempo e dinheiro em sua formação para ensinar. Afinal de
contas, ninguém procura por uma pessoa que não saiba desenvolver com qualidade
o seu ofício.
Estamos diante de
um momento de grande transformação social, portanto, um cenário profícuo para
construirmos uma nova ideologia sobre as relações trabalhistas. De certo modo
retornamos ao que antecedeu à Revolução Industrial, quando cada pessoa vendia a
sua força de trabalho por meio de atividades necessárias à sobrevivência do seu
grupo, ou seja, costura, panificação, agricultura, pecuária etc.; mas, agora
com garantias e direitos trabalhistas previamente estabelecidos em lei.
Sair da zona de
conforto não é uma tarefa simples e fácil; mas, quando se está aberto a essas
transformações e se permite extrair delas uma rica possibilidade de
descobrimento de novos talentos e aptidões, a chave para nos devolver algum
sentido de estabilidade e segurança aparece.
Além disso, como a
instabilidade no mercado formal pode atingir a qualquer um e a qualquer
momento, ou seja, todos estão na berlinda, é fundamental que os clientes em
potencial desses novos trabalhadores despendam maior empatia e respeito tanto ao
ser humano que lhes presta um serviço quanto ao valor do trabalho desempenhado.
Nada de constranger o outro. Lembremo-nos do provérbio “Amigos, amigos... negócios à parte”.