De Judas Iscariotes aos dias atuais
Por Alessandra Leles Rocha
Não
consigo acreditar que depois de todos os acontecimentos e desdobramentos pós
Mensalão e Lava Jato, algum cidadão brasileiro consiga dissociar a bancarrota
nacional da corrupção.
Ora,
essa práxis secular de se obter vantagens em relação aos que detêm o poder, por
meios ilegais ou ilícitos, vem dilapidando os recursos públicos oriundos de
nossos impostos e tributos.
Que
fique claro, portanto, que a corrupção é prática humana e, por aqui, em solo
tupiniquim, esteve reverenciada por muitas bandeiras, muitas ideologias; daí não
se poder atirar pedras e elencar culpados em uma única direção.
Mas
o ponto nevrálgico dessa questão é que o esvaziamento de recursos públicos para
satisfazer a fome insaciável da corrupção nacional extingue toda e qualquer
potencialidade de desenvolvimento e progresso. Vejam o exemplo das universidades
públicas, de seus hospitais universitários, de suas pesquisas!
Para
cobrir os rombos da corrupção a saída historicamente foi sempre a mesma: contingenciamento
e corte de recursos e criação e aumento de impostos. É evidente que são os
serviços essenciais à sociedade os que padecerão o estrangulamento de seus
orçamentos, tendo como consequência imediata à desassistência da população. Só
que a população faz a sua parte, ela paga impostos para ver revertidos esses
recursos em seu benefício; mas, na prática da corrupção isso não acontece.
Além
disso, essa perene retirada de água do barco com o auxílio de um dedal, porque
é exatamente isso que significam as medidas citadas acima, fomenta a
incredulidade mundial em relação ao país. Não há como crer em mudanças efetivas
sem “cortar o mal pela raiz”. Enquanto existe uma corrupção sistêmica sangrando
os recursos nacionais, não há economia que se equilibre ou se sustente.
Por
que, então, fingimos não ver a corrupção se esgueirando daqui e dali para manter
as aparências de uma pseudo estabilidade econômica? A economia patina sem sair
efetivamente do lugar, a ponto de se tornar necessário arrochar os cintos e
aumentar impostos. Os desempregados proliferam-se nas estatísticas nacionais. Tudo
parece suspenso no ar e prestes a se desintegrar na vida de milhões de
brasileiros, contradizendo qualquer onda de vã otimismo que tenta ser impressa.
Então,
a quem queremos enganar com o velho discurso de que “os fins justificam os
meios”? Dizia Martin Luther King Jr., “Para
ter inimigos, não precisa declarar guerras, apenas diga o que pensa”;
talvez, por isso, muitos aqui no Brasil optam pela politicagem da boa
vizinhança e distribuem benesses e agrados para manter a simpatia. Mas esse é só
um jeito diferente de praticar a corrupção, não é mesmo?
Como
se vê o que estamos vivendo é de uma complexidade tal que parece incontrolável.
A corrupção tornou-se uma compulsão, um comportamento desmedido. Grandes corrupções.
Pequenas corrupções. No fim das contas, apenas corrupção. Apenas um modo de ser
antissocial, antiprodutivo, antiético; mas, que uma grande maioria prefere não admitir
a total adoração. Aliás, porque admitir significaria ter que tomar uma atitude
a respeito e esse agir parece penoso, desconfortável, pesado demais.
Mas,
um dia o caldo entorna. Há situações que não esperam por nós, por nossa boa
vontade, por nosso bom senso. A própria conjuntura dá o seu jeito. Talvez,
estejamos perto disso; afinal de contas, a espoliação dos direitos fundamentais,
previstos na Constituição de 1988, torna-se cada dia mais insustentável e já
atinge camadas da população, as quais se sentiam de certa forma inatingíveis. Assim,
eis que, de repente, possamos nesse dia metamórfico alcançar as palavras de
Santo Agostinho, “Prefiro os que me
criticam, porque me corrigem, aos que me elogiam, porque me corrompem”. Que
assim seja.