quinta-feira, 18 de maio de 2017

"Quase todos os homens são capazes de suportar adversidades, mas se quiser por à prova o caráter de um homem, dê-lhe poder". Abraham Lincoln

A implosão das torres



Por Alessandra Leles Rocha



A descrença que antes parecia superficial, agora se materializa de forma assustadora e incontestável. A corrupção continua a implodir as torres do poder político no Brasil, enquanto seus impactos devastadores arrasta o país para o abismo das incertezas.
Lamentavelmente, fizeram da política nacional um meio de vida, um “cabidão” de empregos sem precedente, um jeito fácil de unir poder e fortuna sem muito esforço. Afinal, com as reais discrepâncias socioeconômicas da realidade brasileira, não faltaria mesmo mão-de- obra para arcar com o prejuízo doloso arquitetado pelos membros do topo da pirâmide.
Como se vê, o cabo de guerra que tem sido estabelecido entre os que desejam passar a história a limpo, rompendo com essa práxis nauseante, e os que desejam fazer com que tudo permaneça como sempre foi mostra seus ares de luta longa e inglória.  É por isso que a inexistência de constrangimento, de arrependimento, por parte daqueles que se deleitam na corrupção, seja o que mais nos choca. Há quem diga que o poder inebria; mas, diante do espetáculo dantesco que estamos assistindo, ele sugou dessas pessoas até a última gota de humanidade, de senso cidadão.
Isso é tão forte que me impede, verdadeiramente, de acreditar na possibilidade de um expurgo. Uma mudança de paradigmas, de valores, de consciência não é algo externo, em que as forças da lei, sozinhas, consigam remover. É preciso querer, ser impulsionado pelo próprio íntimo. Como os tempos hasteiam com mais veemência o pavilhão do TER ao invés do SER, a permanência desse “arrastar de correntes” parece, então, inevitável. Não é à toa o modo como se comporta a classe política no Brasil, com seus discursos vazios e inconsistentes, buscando, na verdade, apenas cuidar de seus aliados.
Enquanto as torres se implodem ao longo do horizonte do planalto central, na ótica do cotidiano dos pobres mortais, de cada rincão nacional, as imagens já são de escombros e ruínas. Desemprego, insegurança, desassistência em relação à saúde e à educação... Não são notícias novas, mas o espelho de uma cronicidade que se prolonga, sem resolução, ao longo de décadas e décadas. Muito embora, se deva esclarecer que os impostos permanecem sendo pagos e ajustados; com as suas alíquotas em índices estratosféricos. Chegamos a tal ponto que é quase uma raridade encontrar quem não tenha sido impactado por essa realidade e, por isso, o coro de reclamações e indignações se alastra como rastilho de pólvora.
Às vezes, postergamos muito a iniciativa de enxergar a vida como ela é; mas, alheio ao nosso ímpeto em fazê-lo estão às conjunturas. Ah, essas são implacáveis, impiedosas e não estão nem aí para as nossas relutâncias existenciais; esbofeteiam nossa face e pronto. Então, diante do que se vê não se pode mais afirmar ignorância, há de se tomar uma atitude; o que não significa, em hipótese alguma, um rompante de barbárie e primitivismo gratuitos.
Temos que pensar que as torres podem até se implodir; mas, a nossa torre jamais. Por isso, a atitude que nos é cobrada nesses casos diz respeito a nossa cidadania, a agirmos como cidadãos conscientes, em relação aos nossos deveres e direitos. É nesse reconhecimento que reside nosso primeiro passo de transformação; na medida em que admitimos, pela cidadania, nossa parcela de responsabilidade sobre cada ação e reação desencadeadas. Como disse Winston Churchill, “Os homens tropeçam por vezes na verdade, mas a maior parte torna a levantar-se e continua depressa o seu caminho, como se nada tivesse acontecido”. No entanto, se esquecem do óbvio, ou seja, nada é de graça, é inerte, é indolor,... é isento de consequências.