Ei! Qual é mesmo o mal do mundo???
Por
Alessandra Leles Rocha
Parece-me, cada vez mais real, que
o século XXI não seja o dos grandes avanços e melhorias para a população
mundial; sobretudo, no que diz respeito aos Direitos Humanos. Em cada canto do
planeta emergem notícias de violações contra esses direitos e que expõe, ao
contrário do que muitos possam pensar, a vulnerabilidade em que se encontra o ser
humano, independentemente, a qual grupo social ele esteja inserido.
Isso significa o mais amplo
processo de “insignificação humana”, ou seja, a vida de determinados indivíduos
pode ser estratificada em mais ou menos importante; portanto, a sua manutenção passa
a correr risco permanente. E curiosamente, essa ideologia não conta com o apoio
restrito de grupos que almejam algum tipo de dominação política, econômica ou
social; mas, também, dentro do próprio segmento a ser “insignificado”.
A matéria publicada hoje, em
diversos veículos de informação 1, a
respeito da nova lei russa, que trata sobre a violência doméstica, é um bom exemplo
para a nossa reflexão. Não se trata de dizer isso, tomando como base o fato da violência
doméstica atingir sobremaneira as mulheres, como já presenciamos em nosso
próprio país.
A questão está, primeiramente, no
fato de que a referida lei contou com apoio de deputadas ligadas ao governo
russo. De certa forma, isso é um indicador de que por detrás da violência contra
a mulher não está somente o homem, mas muitas delas; as quais reafirmam (conscientes
ou não) os discursos históricos da inferioridade feminina e o papel secundário
que exercem na construção social do mundo.
Para tal ação afirmativa, os
contrários a igualdade de gênero se valem na maioria das vezes dos preceitos
religiosos e de questões culturais, para que a força natural da evolução humana
não seja capaz de extinguir essa “insignificação” feminina e nem, tampouco,
seja capaz de estimular a criação de um ambiente favorável, de modo que todos possam
desfrutar do empoderamento social com a mesma justiça e dignidade.
Depois, porque uma legislação que expõe
a própria violência ao caminho da descriminalização é, sem dúvida alguma, um
precedente ilimitado para o afloramento cada vez mais extensivo da barbárie,
sob suas mais diversas faces.
Na medida em que estratificamos a violência
em níveis toleráveis e não toleráveis, puníveis ou não puníveis, não fazemos
outra coisa senão negar que a violência existe; posto que, sua aceitação passa a
estar atrelada a percepção e aos valores individuais de cada um, ou seja, o que
é violência para mim pode não ser para você.
Infelizmente, em muitas situações
mundo afora, o que inclui o Brasil, já é exatamente isso o que ocorre. Vítimas carregam
sozinhas o flagelo da sua dor e do seu desamparo diante da flexibilização da violência.
Dessa forma, o eco da impunidade se propaga silencioso ao mesmo tempo em que retumba
através das estatísticas.
No entanto, a lástima que nos
incomoda diante desse modus social
vigente não se restringe aos aspectos morais envolvidos. Sim, eles são graves e
importantes; mas, não são tudo diante dos desdobramentos sociais.
Afinal de contas, a violência se
eterniza no ato da prática, o que significa que independentemente do tipo
exercido contra o indivíduo, as marcas deixadas, sejam elas visíveis ou não,
jamais serão esquecidas. Isso porque, a violência atinge antes de qualquer
outro aspecto humano, o sistema nervoso e, por consequência, as emoções.
Desse modo, pessoas vítimas de
quaisquer tipos de violência tornam-se predispostas a desencadear ao longo da
vida inúmeras doenças, incluindo desordens psicoemocionais, tais como transtornos
de ansiedade e depressão. Sendo que, a própria Organização Mundial de Saúde
(OMS), manifestou em 2014 que a “Depressão já é a doença mais incapacitante” 2, pois atinge cerca de 7% da população mundial.
Então, aos desavisados que andam
propagando a intolerância, a desagregação, o desrespeito,... enfim, a violência
em geral, por aí, o resultado não se resume na explosão descompensada de
conflitos; mas, no surgimento de uma legião economicamente ativa de pessoas, as
quais encontram-se incapacitadas para se juntar as forças de trabalho e
progresso mundial.
Nesse sentido, esses 7% de pessoas
tornam-se, então, dependentes de políticas assistencialistas governamentais e
não governamentais para garantir sua qualidade de vida e dignidade. Pois é! Vejam
o que resulta da ignorância e do radicalismo!
Homens, mulheres, brancos, negros,
gays,... boas e más ideias circulam pelo universo do inconsciente coletivo;
portanto, o fundamental está na cautela em sair propagando por aí essa ou aquela ideia. Mesmo
porque, a vida é um eterno desdobramento de ações, cujos resultados podem nos
fazer colher verdadeiras desgraças ao longo do tempo; as quais nem tenhamos
oportunidade de desfazer a contento. Segundo o médico e escritor irlandês do
século XVIII, Oliver Goldsmith, “Não nos
deixemos criar males imaginários, quando sabemos que temos tantos outros reais
para enfrentar”. Então...