Prevenção do HIV também está estagnada. Em 2015, foram registrados 2,1 milhões de novas infecções, número pouco abaixo dos 2,2 milhões de 2010. Cenário exige mais esforços dos Estados-membros, segundo Organização Mundial da Saúde (OMS).
A agência da ONU reconhece sucesso histórico do fornecimento de medicamentos contra Aids, mas alerta: países não podem ser “complacentes” consigo mesmos.
Às vésperas da Conferência Internacional sobre Aids, que tem início nesta segunda-feira (18) em Durban, na África do Sul, a Organização Mundial da Saúde (OMS) emitiu um alerta na semana passada (15) sobre os principais desafios associados à epidemia.
Entre eles, o aumento da resistência à terapia antirretroviral, a necessidade de ampliar o acesso à testagem para o vírus e a estagnação da prevenção.
Atualmente, mais de 40% das pessoas que vivem com HIV não sabem que contraíram o vírus e a prevenção de novas infecções está estagnada — em 2015, foram registrados 2,1 milhões de novas transmissões, número pouco abaixo dos 2,2 milhões de 2010 — e já verifica retrocessos em determinadas regiões do mundo.
A OMS lembra que seu último relatório sobre a resistência aos medicamentos para HIV (2004-2008) revelou que 5% dos indivíduos que recebiam tratamento antirretroviral eram resistentes a pelo menos uma droga do gênero.
A agência de saúde conta com procedimentos próprios para orientar países a monitorar e combater a ineficácia dos medicamentos no combate ao vírus. Como o tratamento continua a se expandir, a OMS considera que países terão de reforçar a vigilância para garantir a qualidade dos serviços de tratamento e minimizar o surgimento da resistência.
Mapa da doença
Os dados mais recentes da agência de saúde das Nações Unidas indicam que, em locais onde a epidemia de Aids estava sob controle, o número de novos casos de transmissão do vírus voltou a crescer, principalmente entre segmentos mais vulneráveis da população.
Em 2014, 35% das novas infecções por HIV no mundo ocorreram entre homens que fazem sexo com outros homens, profissionais do sexo e seus clientes, pessoas trans, pessoas que injetam drogas e que estão privadas de liberdade.
Nas porções oriental e sul do continente africano, meninas com idade entre 10 e 19 anos permanecem particularmente afetadas pela epidemia.
Para OMS, a redução de novas infecções exige uma discussão sobre as barreiras sociais e legais que impedem muitas pessoas de acessar os serviços de HIV.
A Organização Mundial também destaca os benefícios de novas abordagens de alto impacto como a profilaxia pré-exposição (PrEP) — em que as drogas antirretrovirais são usadas para proteger indivíduos com risco elevado de infecção pelo HIV.
Integrar iniciativas de prevenção aos serviços de saúde sexual e reprodutiva é outro meio eficaz para combater a epidemia, de acordo com a OMS
A agência de saúde da ONU ressalta ainda a importância de revitalizar estratégias já consolidadas e bem-sucedidas, como a promoção do uso de preservativos e a manutenção da dinâmica de circuncisão masculina voluntária nos 14 países mais afetados das regiões leste e sul da África, onde 11,7 milhões desses procedimentos foram realizados em 2015.
Tratamento
Desde 2015, a OMS recomenda que todas as pessoas diagnosticadas com HIV iniciem a terapia antirretroviral o mais cedo possível para prevenir a doença e a morte.
Dados comprovam que o tratamento salva vidas: as mortes relacionadas à Aids caíram 45% desde seu pico em 2005 e 26% desde 2010. No entanto, quase metade das pessoas que vivem com o HIV ainda não sabem que estão infectadas.
Segundo a OMS, o cenário exige que Estados garantam acesso a serviços de testagem ágeis e de baixo custo. A agência das Nações Unidas chama atenção para os benefícios do autoteste, que pode ampliar o alcance de exames de HIV, principalmente entre os que relutam a usar serviços de saúde.
“O enorme progresso sobre o HIV, particularmente no tratamento, é uma das grandes histórias de sucesso de saúde pública do século”, afirmou a diretora-geral da OMS, Margaret Chan.
“Entretanto, não é um momento para complacência. Se o mundo quer atingir a meta de acabar com a Aids (enquanto ameaça de saúde) até 2030, deve expandir e intensificar rapidamente seus esforços.”
Financiamento sustentável a longo prazo
A OMS alertou também para mudanças nos modelos de financiamento, que terão de lidar com a transição de fontes externas de verba para orçamentos predominantemente domésticos.
Segundo o organismo internacional, países precisam alinhar as respostas ao HIV à busca pela cobertura universal de saúde e a iniciativas de proteção social.
A medida pode disponibilizar mais recursos para a saúde em geral, por meio de impostos, por exemplo, e estabelecer mecanismos robustos de financiamento que permitam aos indivíduos receber os serviços que precisam sem passar por dificuldades financeiras.