Brasil, um país...
Por Alessandra Leles
Rocha
Durante algum tempo o que se gritou em alto e bom som pelo
país afora era o slogan: “Brasil, um País de todos”. Mas, de repente, os mesmos
que instituíram tal discurso, ao contrário de unir a população em torno de um
mesmo ideal de progresso e desenvolvimento, começaram através de suas próprias
ações acirrarem os ânimos e segmentar a sociedade. Até que chegamos ao momento
de presenciar a conclamação pública de seus correligionários para o
enfrentamento, em defesa do ex-presidente Lula.
Então, vamos pensar. Olhando fixamente para a realidade perversa
que se agiganta diante de nossos olhos, cujos resultados exibem uma derrocada econômica
nunca antes vista na história desse país, contrapondo a todos os discursos de
sucesso e superação brasileiros, seria a desordem o caminho seguro e eficaz
para sacodirmos a lama e darmos a volta por cima?
Ora, os números da economia são apartidários e, portanto, não
estão a serviço de prejudicar ninguém, a não ser a própria população. As cifras
de um desemprego estratosférico, que estraçalhou com os sonhos e as expectativas
de milhões de cidadãos, contam as repercussões disso por toda a cadeia econômica.
Indústria, comércio, educação, serviços, tudo está parando dia a dia a sua
rotina produtiva, num retrocesso que nos deixa à beira de um abismo de
desesperança e sofrimento.
Dizer que perdemos o poder de compra é triste; mas, muito
pior é saber que não estamos conseguindo colocar a comida no prato, em razão da
ferocidade imposta pelos índices de inflação. Os produtos básicos estão pela
hora da morte, o que nos tem impulsionado a fazer malabarismos no momento das
compras e nos causado um abatimento moral, ainda maior. E se é possível morrer
de tristeza, então...
Não bastasse o aspecto financeiro, a degradação dos serviços
prestados pela rede pública de saúde e de educação, nos deixa a mercê da
própria sorte. Sobreviver passou a ser loteria. Estudar passou a ser desafio. Os
dramas se repetem diariamente em cada rincão do país; mas, o que antes parecia
obscuro para entender, agora, ficou didaticamente explicitado pelos mapas da
corrupção. Os sacrifícios, o suor vertido das frontes trabalhadoras do
país que sempre mantiveram o lastro dos impostos em altíssima arrecadação
haviam se perdido em desonrosas e nefastas transições. E ninguém elevou a voz,
ou sussurrou, para lutar em nossa defesa...
Sendo assim, penso que cada coisa tem seu lugar. Como dito
por Rui Barbosa, “Eu não troco a justiça pela soberba. Eu não deixo o direito
pela força. Eu não esqueço a fraternidade pela tolerância. Eu não substituo a
fé pela superstição, a realidade pelo ídolo”. Portanto, cabe a Justiça, somente
a ela, o papel de julgar os fatos e os direitos.
Caso contrário, a sociedade retorna aos tempos da Lei de
Talião, ou seja, “Olho por olho, dente por dente”, em que aplicando uma rigorosa
reciprocidade do crime e da pena deixaria de seguir as mudanças do mundo e, consequentemente,
os ritos vigentes da Justiça. Portanto, deixar-se inflamar por um ódio, que
talvez nem lhe seja verdadeiramente próprio, não irá debelar a crueza das
agruras que consomem os alicerces do país nem, tampouco, justificará as
palavras antes pronunciadas: “Brasil, um País de todos”.
Não, todo esse embate ideológico sustentado pela força bruta
e impensada só destrói e não edifica nada. O mundo já está diante da maior
crise humanitária de todos os tempos, com milhões de refugiados espalhados em
busca de segurança e reconstrução de sua cidadania, causada pela tirania insensível
fomentada pela insaciável sede de poder. Sem contar, com a proliferação de
epidemias viróticas que ceifam a vida de milhões de pessoas, enquanto seus
governantes nada fazem de efetivo para salvá-las. Enfim, será que esse brado de
violência retumbante ecoa alguma ideologia social, humanista, fraterna,
solidária ou só tem por finalidade tornar o Brasil um país de poucos? Fica a
reflexão.