segunda-feira, 7 de março de 2016

Brasil, um país...


Brasil, um país... 

Por Alessandra Leles Rocha 

Durante algum tempo o que se gritou em alto e bom som pelo país afora era o slogan: “Brasil, um País de todos”. Mas, de repente, os mesmos que instituíram tal discurso, ao contrário de unir a população em torno de um mesmo ideal de progresso e desenvolvimento, começaram através de suas próprias ações acirrarem os ânimos e segmentar a sociedade. Até que chegamos ao momento de presenciar a conclamação pública de seus correligionários para o enfrentamento, em defesa do ex-presidente Lula.

Então, vamos pensar. Olhando fixamente para a realidade perversa que se agiganta diante de nossos olhos, cujos resultados exibem uma derrocada econômica nunca antes vista na história desse país, contrapondo a todos os discursos de sucesso e superação brasileiros, seria a desordem o caminho seguro e eficaz para sacodirmos a lama e darmos a volta por cima?

Ora, os números da economia são apartidários e, portanto, não estão a serviço de prejudicar ninguém, a não ser a própria população. As cifras de um desemprego estratosférico, que estraçalhou com os sonhos e as expectativas de milhões de cidadãos, contam as repercussões disso por toda a cadeia econômica. Indústria, comércio, educação, serviços, tudo está parando dia a dia a sua rotina produtiva, num retrocesso que nos deixa à beira de um abismo de desesperança e sofrimento.

Dizer que perdemos o poder de compra é triste; mas, muito pior é saber que não estamos conseguindo colocar a comida no prato, em razão da ferocidade imposta pelos índices de inflação. Os produtos básicos estão pela hora da morte, o que nos tem impulsionado a fazer malabarismos no momento das compras e nos causado um abatimento moral, ainda maior. E se é possível morrer de tristeza, então...  

Não bastasse o aspecto financeiro, a degradação dos serviços prestados pela rede pública de saúde e de educação, nos deixa a mercê da própria sorte. Sobreviver passou a ser loteria. Estudar passou a ser desafio. Os dramas se repetem diariamente em cada rincão do país; mas, o que antes parecia obscuro para entender, agora, ficou didaticamente explicitado pelos mapas da corrupção. Os sacrifícios, o suor vertido das frontes trabalhadoras do país que sempre mantiveram o lastro dos impostos em altíssima arrecadação haviam se perdido em desonrosas e nefastas transições. E ninguém elevou a voz, ou sussurrou, para lutar em nossa defesa...

Sendo assim, penso que cada coisa tem seu lugar. Como dito por Rui Barbosa, “Eu não troco a justiça pela soberba. Eu não deixo o direito pela força. Eu não esqueço a fraternidade pela tolerância. Eu não substituo a fé pela superstição, a realidade pelo ídolo”. Portanto, cabe a Justiça, somente a ela, o papel de julgar os fatos e os direitos.

Caso contrário, a sociedade retorna aos tempos da Lei de Talião, ou seja, “Olho por olho, dente por dente”, em que aplicando uma rigorosa reciprocidade do crime e da pena deixaria de seguir as mudanças do mundo e, consequentemente, os ritos vigentes da Justiça. Portanto, deixar-se inflamar por um ódio, que talvez nem lhe seja verdadeiramente próprio, não irá debelar a crueza das agruras que consomem os alicerces do país nem, tampouco, justificará as palavras antes pronunciadas: “Brasil, um País de todos”.

Não, todo esse embate ideológico sustentado pela força bruta e impensada só destrói e não edifica nada. O mundo já está diante da maior crise humanitária de todos os tempos, com milhões de refugiados espalhados em busca de segurança e reconstrução de sua cidadania, causada pela tirania insensível fomentada pela insaciável sede de poder. Sem contar, com a proliferação de epidemias viróticas que ceifam a vida de milhões de pessoas, enquanto seus governantes nada fazem de efetivo para salvá-las. Enfim, será que esse brado de violência retumbante ecoa alguma ideologia social, humanista, fraterna, solidária ou só tem por finalidade tornar o Brasil um país de poucos? Fica a reflexão.