quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Crônica de quarta-feira!!!


Carinhos para a alma


Por Alessandra Leles Rocha


Parece estranho, soa esquisito falar em carinho sem traduzir a palavra em questão para a materialidade do visível, do palpável. É! Mas não é só o corpo que precisa de carinho! Muitas vezes é lá no fundo, debaixo de todos os sentidos e essências que a vida carece de aconchego, de afeto, de um olhar bem mais atencioso.
Todos os dias a vida acorda e adormece na labuta incessante dos ponteiros do relógio, que apesar de silenciosos, sussurram ao pé do nosso ouvido a lista de afazeres, de obrigações, de compromissos a cumprir. Mal dá tempo para uma espreguiçadinha breve na cama e o salto para o trabalho nos catapulta adiante. Vai ao banheiro, escova os dentes, toma banho, veste a roupa, calça os sapatos, toma o café,... e abre a porta para cair na roda-viva.
Que pena! Tudo no automático! Sem uma pitada sequer de poesia, de encantamento, de sonho. Nem uma olhadinha no espelho para um namorico com a própria imagem... Nem o cantarolar desafinado de uma música para embalar a manhã que está apenas começando...  Nem o sorriso maroto no canto da boca pela lembrança de uma anedota... Nem... Nem... Nem... Na lista das prioridades anda faltando espaço para o essencial!
É minha gente! Será que estamos tão cansados, tão doentes, tão casmurros, tão cabisbaixos à toa? Haja força para a máquina do corpo sustentar sozinha tanto peso, tanta pressão! O que adianta uma mão de tinta nos cabelos, um creminho no rosto (de vez em quando, porque o tempo é curto!), uma ida a manicure e pedicura, uma sessão de massagem, uma roupa nova,... se por dentro tudo parece estar em milhões de pedaços?! Quando foi a última vez que você parou para dialogar consigo mesmo, hein?!
Ainda que a alma não tenha forma, nem cor, nem cheiro, e muito menos, sabor: ela existe. E creio eu que nos últimos anos ela não só existe, mas também resiste bravamente a não sucumbir diante de tanto abandono. Falamos muito da pressa, do estresse, do individualismo, da avalanche tecnológica, da contemporaneidade avassaladora, da competividade laboral etc.etc.etc.; ora, mas quem criou tudo isso fomos nós! E se criamos um problema, a solução dele deve partir também de nós.
Quando falo em carinhos para a alma trato de algo que na verdade se encontra absolutamente acima de todas essas questões; mas, que é sem sombra de dúvida o recomeço para solucionar as nossas mazelas existenciais. Primeiro, porque precisamos nos conhecer mais profundamente para estabelecer uma coexistência de grande qualidade. Para fazer carinho para alma não precisamos necessariamente de outras pessoas; podemos fazê-los por nós mesmos, através da nossa coragem e paciência em desvendar as nossas barreiras conscientes e inconscientes. A nossa companhia tem que se tornar algo fundamental, um bálsamo reconfortante e extremamente prazeroso. Só depois de muita conversa através de todas as linguagens corporais e não corporais consigo mesmo, de muitas lágrimas vertidas sob fortes ou ternas emoções, de muitos silêncios contemplativos é que se pode afirmar com certeza se a alma “vai muito bem, obrigado!”. Alma acarinhada reflete de dentro para fora o que o ser humano possui de melhor, de mais valoroso. Alma acarinhada atrai energias que circulam na mesma frequência e expressam integração de pensamentos.
Mas, a alma também agradece quando os carinhos vêm de outras pessoas! Vai dizer que não gosta de receber uma mensagem inusitada, ainda que virtual?! Ou flores?! Ou aquela caixinha de bombons recheados?! Ou um abraço silenciosamente apertado depois de um exaustivo dia de trabalho?! Sermos surpreendidos pelo carinho expresso gratuita e genuinamente pelas pessoas, próximas ou distantes, têm um impacto incomensurável na alma; como se de repente a vida nos fizesse mais sentido, ganhasse cores e brilhos mais intensos e colocasse todos os problemas e tristezas no fundo de um baú com a obrigação de jamais resgatar.    
Portanto, para encontrarmos o equilíbrio da convivência humana, para suportar os altos e baixos, a divergência de valores, a alternância entre o bem e o mal, corpo e alma precisam estar fortalecidos, repletos de carinho; em paz. Quem não está bem consigo mesmo não pode oferecer nada de bom ao seu semelhante. Então, seja carinhoso consigo para distribuir carinho por aí, em profusão! Reavalie suas prioridades, trace novos caminhos, busque extrair da vida cada gota de felicidade (por mínima que seja) que te pertença. Como diz o provérbio chinês, “Todas as flores do futuro estão nas sementes de hoje”.