É
tarde demais para tentar esquecer!
Por
Alessandra Leles Rocha
Escritores,
filósofos, cientistas, pessoas comuns, todos de uma maneira ou de outra já se
debruçaram sobre as idas e vindas no contexto das relações humanas. Nada de
cenário estático! A vida é um fluxo contínuo, um vai e vem constante, uma tela
onde cada passante deixa suas marcas.
Às vezes
é realmente maravilhoso pensar como seria interessante se algumas das pessoas
que conhecemos, ao longo da existência, pudessem nos acompanhar para sempre. Ora! Mas esse pensamento é deveras egoísta;
afinal, o meu “para sempre” pode ser mais breve do que o seu, e dessa forma
poderia estar privando aos que tanto estimo de permanecerem por mais tempo na
companhia dos seus. Então, munida de ampla sabedoria, a vida por si só
manifesta sem palavras a sua explicação.
Mas o
que nos leva a sentir essa vontade descabida é porque não há ser humano que não
deixe um fiapinho sequer de lembrança por onde passa. E são aqueles, cujas
lembranças nos remetem aos melhores sentimentos, emoções e momentos, que
deveriam sim estar não só no coração e na mente, mas no cotidiano da convivência.
Gente que se revela no brilho do olhar, na largura do sorriso, na candura do
abraço, na objetividade das palavras, no inusitado das surpresas. Gente que é
gente de carne, osso, qualidades e defeitos; mas, que por obra das proezas do
destino, cruzou a nossa vida para não se deixar esquecer. Chegou. Sem pré-requisitos.
Sem hora marcada. Sem afinidade perfeita de papel carbono com a nossa alma. Instalou-se
no fundo do nosso ser, fez um “puxadinho” com as cordas tendíneas do coração,
de onde jamais conseguiremos reintegração de posse. Mas, isso só aconteceu
porque estávamos de portas abertas, dispostos verdadeiramente a cultivar esses
laços, cientes do compromisso que as relações humanas inevitavelmente
necessitam.
Então
em plena efervescência contemporânea, milhares de compromissos e afazeres,
parece mais fácil declinar da coexistência com os semelhantes. Sob o pretexto
da mais completa ausência de tempo, convivência para muitos só se for valendo-se
dos artifícios da tecnologia para tal. Mas, se por um lado a dificuldade é
real, há sim o distanciamento geográfico e as agendas superlotadas de
compromissos em todos os níveis; por outro, há a certeza de que as pessoas
continuam guardadas em nosso inconsciente mais especial e, pulsando vez por
outra um sentimento de saudade. Digam o que quiserem os humanos da geração tecnológica,
isenta de grandes arroubos de emoção e sensibilidade; quando o assunto é
saudade de alguém, não há sobre a Terra indivíduo imune.
Talvez
tenhamos errado na dose, quanto ao volume de transformações sociais as quais
passou o planeta nas últimas décadas e o modo como nos adaptamos a elas, ou
escolhemos nossos caminhos. Mas, ainda permanece impossível “deletar” o que nos
mantém de pé, vivos, atuantes; por isso, as pessoas continuam importantes. É
tarde demais para tentar esquecer! Por isso, ao nos lembrarmos delas a vida
viaja miraculosamente no tempo e nos devolve antigas canções, lugares, emoções,
sentidos. Com toda a fluidez natural da vida, ainda que repleta de furacões e
tornados a varrer o ritmo dos nossos dias, se quisermos, com o máximo da nossa consciência,
discernimento e querer, continuar a cultivar os nossos laços, as nossas
relações, basta nos apegarmos à simplicidade para subtrair os empecilhos e
dificuldades. Telefone! Diga “alô!”, “como vai?”, “que saudade!”... Envie um
cartão, ou flores, ou algo que diga sobre a história de você e essa pessoa... Marque
um almoço, ou um jantar, ou um jogo de cartas... Encaminhe um e-card, ou um
e-mail, ou uma mensagem nas redes socais,... Enfim, traga de volta quem é realmente
especial para você, reafirme as relações e esteja aberto para a tecelagem de muitas
outras. Deixe a vida fluir, deixar novas marcas, ampliar o rol das lembranças!