O papel e o significado
da mulher contemporânea
Por Alessandra Leles
Rocha
Afinal, o que revela o grandioso
quadro da mulher na sociedade? Vitórias esplendorosas? Muitas pedras e obstáculos pelo caminho? Ou
quem sabe, nos dias de hoje, uma simples mudança no modo de aceitar e compreender
o curso da contemporaneidade?
Depois de anos de opressão e submissão
ao controle masculino, que se fundamentam desde os primórdios do homem
primitivo, as mulheres a custa de muita luta (interna e externa) se lançaram de
corpo e alma pela busca da sua igualdade social. Talvez, “enceguecidas” pela
fúria que o tempo faz acumular, deixaram-se mover pelo impulso, inimigo
incontestável da análise e da ponderação, e não demarcaram convenientemente os
prós e os contra que em longo prazo determinariam o fiel da balança de suas
existências. Ainda que totalmente justas, importantes e necessárias, as
reivindicações das mulheres não as eximiram da sua condição de mães, esposas,
donas de casa; afinal, estes papeis sempre estiveram intrínsecos a condição
feminina na sociedade. A questão passou a ser de que forma conseguiriam, então,
acrescer a sua rotina outras tarefas, conseguindo atendê-las satisfatoriamente
e sem prejuízos a sua qualidade de vida e saúde.
Desde então, não vemos senão as
mulheres ensinando, ou ainda aprendendo, esse fenomenal ofício de “equilibrar
pratos”. Às vezes alguns “caem sem querer”, mas elas permanecem firmes e
focadas na melhoria do seu desempenho. Entretanto, ao invés de encontrarem mais
apoio e aplausos, a sociedade em muitas de suas segmentações permanece como
grande inquisidora da mulher. Não importa se elas são maioria, como aponta o
censo demográfico. Se possuem os mais altos níveis de escolaridade. Se já
alcançam os mais importantes cargos de chefia no setor público e privado. Se mantém
a condição absoluta como “chefes de família”. Se... se... se... De um jeito ou
de outro são expostas a um verdadeiro check list de obrigações na busca de uma
eventual “nota máxima com louvor”.
É! As conquistas não parecem
suficientes! Segundo os rígidos ditames, as atitudes e comportamentos da alma
feminina não podem ser esquecidos e nem ao menos negligenciados. A heroína
contemporânea deve estar sempre impecável: cabelos arrumados e tratados, unhas
perfeitas, maquiagem no ponto certo, roupa da moda, dieta em dia; tudo dentro
da realidade de cada uma delas. De olho na casa, ela tem que ser um assombro na
logística para deixar tudo funcionando sem obstáculos; mas, se algo sair dos
trilhos, ela deve ser “a rainha do plano alternativo”. Brincando com o tempo,
como quem faz chacota dele, ela precisa usá-lo para as compras, o serviço
bancário, a reunião com as amigas, os compromissos dos filhos, os jantares
profissionais do marido,... Com ou sem diplomas, ela é a psicóloga, a nutricionista,
a economista, a companheira, a amante, a namorada, e o que mais for necessário
para que sua vida pessoal funcione britanicamente, como manda “o figurino”.
De vez em quando pinta um estresse,
um mal súbito e ela pensa sim, em jogar o cotidiano para o alto, ou se esconder
debaixo da cama até a “tempestade passar”, voltar aos tempos da vovó e ser "apenas" mulher. Porque apesar de tudo, a grande mulher não encontrou em meio ao
espaço conquistado o que ela mais queria: o respeitoso reconhecimento. Sim!
Todo ser humano quer, precisa, ter a sua existência reconhecida e respeitada:
suas conquistas, suas superações, seus trabalhos. Tanto o reconhecimento
subjetivo – elogios, cumprimentos, flores etc. – quanto aquele material –
através do dinheiro. Economicamente falando é triste reconhecer que as mulheres
ainda ganham menos do que os homens no exercício das mesmas funções, apesar de
os terem superado em anos de estudo e qualificação profissional. E não bastasse essa desigualdade, o
descrédito quanto ao mérito delas sobrevive em conjunto com as diferentes
fórmulas de violência física e psicológica.
É realmente espantoso, em pleno
século XXI, precisar estabelecer uma reflexão sobre o papel e o significado da
mulher, quando a realidade por si só já nos tem impingido a necessidade de
“sublimar” as prerrogativas ligadas ao gênero para tornar o cotidiano mais fluido
e fácil de ser administrado. Como palavra de ordem, a sociedade mundial precisa
romper com os preconceitos e assumir enquanto ser humano as tarefas que
precisam ser realizadas. Nada de inversão de papeis; mas, uma visão altruísta e
extremamente colaboradora e consciente das transformações meteóricas pelas
quais passa o planeta Terra. A realidade nos obriga a evoluir e nos adaptar as
novas regras, a caminharmos de mãos dadas para que não falte o pão, o abrigo, a
dignidade, a cidadania a ninguém. Nenhum ser humano está dispensado deste
desafio; então, se soubermos realizar o que for possível dentro da nossa
humilde competência, conseguiremos romper com os “grilhões” invisíveis que nos
rotulam e fazem pesar a vida sobre os ombros todos os dias, trazendo-nos
insatisfações e frustrações tão desnecessárias.