Que presente você prefere?
Por Alessandra Leles Rocha
Absorta nos apelos sugestivos da recém-lançada campanha publicitária de uma marca de refrigerantes que afirma “os bons são maioria”; não poderia deixar de refletir e escrever sobre o assunto.
Diante de um quadro de horror e pessimismo pintado em cores fortes pela sociedade contemporânea, passa a ser difícil acreditar na força do belo, do justo e do correto. A repetição do ruim estraga a esperança pelo bom; embora, na verdade, os ciclos sejam harmônicos e bastante equilibrados. O que ocorre é que estamos num raio de visão muito próximo dos acontecimentos, como se usando uma lente de aumento que nos impedisse de estabelecer os devidos limites e contornos. O que chama atenção nessa campanha publicitária é justamente o fato dela inverter essa lente e nos colocar num campo de distanciamento capaz de aliviar as tensões e nos fazer enxergar melhor. Entre os solavancos aqui e acolá percebemos que eles têm razão: “os bons ainda são maioria”!
Essa afirmação tão simples e elementar me conduziu inevitavelmente a pensar que as pessoas precisam receber presentes que não possam vir embrulhados com laçarotes de fitas ou em lindas caixas. O impacto positivo dessa propaganda revelou subliminarmente que para conseguirmos enxergar a beleza da vida precisamos estar despojados para captar o imaterial. Na era de uma “lei da oferta e da procura” 1 praticamente equilibrada, do ponto de vista em que nossos desejos materiais estão facilmente ao alcance de nossas mãos e que a disponibilidade de recursos financeiros se apresenta mais acessível, o poço de nossa insatisfação, de nosso fastio pessoal está no óbvio, no que atribuímos ao rol da pieguice, ou seja, a satisfação das nossas emoções e sentimentos.
Perdidos no grande labirinto que se transformou o nosso cotidiano, infelizmente ainda há um contingente que vagueia às cegas carregando “pedras” desnecessárias e acumulando tristezas, angústias, observações, conflitos, sem ter alguém para compartilhar e assinalar com novos pontos de vista. Em busca dos presentes materiais se transformaram em uma linhagem de seres altamente individualistas e avessos à convivência normal entre as pessoas; como se o “isolamento” os “blindasse de todos os perigos e as ameaças” do mundo, presos aos estereótipos de “superiores” e “inferiores”, “ricos” e “pobres”, “importantes” e “dispensáveis”.
Entretanto, se prestarmos bastante atenção ao redor, perceberemos que Terra continuou a girar e os altos e baixos na vida de todos também. Mas algo aconteceu: em meio à presença ou a ausência dessas conquistas materiais, as quais o ser humano busca através do poder e do dinheiro, um imenso vazio, uma lacuna existencial floresceu e a vulnerabilidade humana se acentuou – esse grupo apesar de seu desenvolvimento, de seus esforços, está mais doente, mais infeliz, sem direção. Alguns até já se deram conta disso e romperam as amarras para reaprender a viver e desfrutar dos presentes “mágicos” da vida. Sob a ordem de que “tudo o que é menos é mais” despojaram-se dos excessos, dos supérfluos, para abrir os braços à simplicidade, ao essencial, ao vital.
Enquanto a vida corre em vinte e quatro horas e temos todos as nossas obrigações e afazeres, cada segundo é precioso para que desperdícios aconteçam! Então, conviver da melhor forma possível é base fundamental. Amar, dialogar, compartilhar, ensinar, plantar, sorrir, gargalhar, chorar, auxiliar,... enfim, realizar tudo o que possa dignificar a nossa própria existência. Pela “lei da ação e reação” 2, quando presenteamos o mundo com as nossas melhores atitudes, o universo conspira para que elas nos retornem em presentes ainda mais sublimes. É isso que preenche a nossa alma e nos faz humanos! É tudo isso o que não podemos comprar com dinheiro ou cartões de crédito! Que não recebemos pelos correios, nem por mensageiros ou empresas de entrega! Diante disso é que descortinamos a imensidão dos bons! Sendo assim, que presente você prefere?