segunda-feira, 21 de março de 2011

Crônica do dia!

 
 
Juntos...

Por Alessandra Leles Rocha

            Independente de quaisquer conotações ideológico partidárias, algo chamou bastante atenção no discurso do Presidente norte-americano Barack Obama, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro1: a utilização sem parcimônia da palavra “juntos” (together).  Os tempos parecem mesmo assinalar uma profunda transformação no modo de pensar e agir dos norte-americanos, que sempre se postaram de forma superior e mandatária ao restante do mundo.
       Mas, nos rodopios da grande esfera, muita coisa aconteceu de forma impactante para romper conceitos e paradigmas e fazer surgir uma nova era, uma nova ordem. Feridos no seu orgulho, eles foram barbaramente atacados pelos terroristas de Bin Laden e viram o símbolo da sua força econômica posta ao chão com a explosão de dois aviões em choque contra as Torres do World Trade Center, em Nova York2. Alguns anos depois, milhares de cidadãos norte-americanos viveram a grave crise econômica em 2009 e todas as perdas significativas que dela se originaram: empregos, moradias, alimentação, lazer etc3. E o somatório da crise com a desesperança, a decepção com o governo, a insatisfação pela Guerra no Iraque, culminaram com a eleição histórica do primeiro presidente negro dos Estados Unidos da América, o Sr. Barack Obama4.
       Desde então, a palavra “juntos” tem sido pronunciada enfaticamente pelo presidente Obama em todos os seus discursos e pronunciamentos. Frente a grande teia globalizadora, de fato, não há mais espaço para hierarquizar a importância, as necessidades, as expectativas; somente na união de esforços em favor de um denominador comum é que será possível vencer os desafios. Dentro e fora do espaço geográfico norte-americano não há outro caminho senão a junção de todos.  Os bons tempos em que os heróis em quadrinhos deles lutavam pelos fracos e oprimidos, venciam com facilidade os inimigos impertinentes e mostravam que o país da liberdade e da democracia mantinha a paz e a segurança do mundo ficou para trás. A força dispersa em direções contrárias se anula e impede que se alcancem os resultados desejados e necessários para o desenvolvimento e o progresso do planeta; por isso, é preciso que todas elas se somem em um mesmo objetivo.
       O Brasil viveu por muito tempo à sombra de uma melancólica origem colonial, submetida às ingerências de países metropolitanos, ou dominadores, ou primeiro mundistas - uma referência mais recente, quando se trata da história da bipolarização mundial. Mas, por aqui os ventos também sopraram suas mudanças e, finalmente, o país conseguiu se libertar da subserviência rançosa para se enxergar como de fato é e fazer desabrochar suas potencialidades e perspectivas; elevar os olhos ao mesmo nível de seus interlocutores e manifestar as suas próprias ideias e considerações. Tudo muito novo, recente, por isso ainda um pouco frágil nessa adaptação contextual; nos falta coesão interna na busca pela equidade social de nossos cidadãos, o que não pode ser negligenciado em razão de compromissos e interesses internacionais agora assumidos graças à conquista de um novo espaço no cenário mundial.  A conjuntura planetária clama por esse auxílio humanitário, por esse comportamento holístico; mas, não exime nenhuma nação de estar em dia com a sua própria responsabilidade para que firme e estruturada possa realmente manifestar sua ajuda.
       Cada país, cada nação, possui suas singularidades e seus interesses. “Juntos” não significa quebrar os protocolos e eliminar a soberania; significa olhar em consenso para ampliar as possibilidades de superar e vencer os problemas comuns à humanidade e, dessa forma, garantir a preservação da própria vida. “Juntos” é com certeza o caminho mais controverso para seguir; afinal, ele implica em flexibilizar princípios e aponta para relevâncias as quais nem todos consideram como tal (a paz, por exemplo). “Juntos” as ideias irão prosperar e perguntas até então sem respostas serão solucionadas. “Juntos” o pouco de cada um se fará farto e suficiente na distribuição justa e igualitária a todos.  “Juntos” parece utopia, letra de música e de poesia5, delírio de quem consegue sentir a vida a flor da pele, tamanha a sensação de prazer e bem-estar que é possível desfrutar no simples balbuciar da palavra, que dirá quando esta se materializa.
       Depois de tantas reviravoltas da vida, experimentadas pelo Brasil e pelos Estados Unidos da América, não deixa de ser grande a importância de vê-los buscando pontos em comum para seguirem “juntos” e sensibilizarem mais parceiros para essa jornada. De lados opostos da história de suas origens, chegou o tempo do encontro entre eles mais uma vez; talvez, o primeiro encontro franco e objetivo entre as duas grandes nações das Américas, nada de alianças de guerra ou de meros interesses geopolíticos. Um tentando se reestruturar após a crise econômica, o outro tentando evitar as investidas do fantasma da inflação e manter o caminho da estabilidade da moeda. Ambos os presidentes experimentando os desafios objetivos e subjetivos que lhes compete o cargo máximo de seus respectivos países. Mas, “juntos” poderão sim estabelecer parcerias interessantes, as quais poderão repercutir bem além de suas próprias fronteiras. Agora todos podem, basta querer!