segunda-feira, 28 de julho de 2025

EUA e seu monólogo contemporâneo


EUA e seu monólogo contemporâneo

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Preste atenção. As entrelinhas da questão do tarifaço precisam ser lidas. Velhos hábitos nunca morrem e, por esse motivo, não há como estabelecer quaisquer parâmetros de comparação em relação a dialogia estadunidense, diante dos diferentes players da geopolítica atual. Há sim, uma franca distinção de importância dada aos países afetados pela práxis extorsiva das tarifas impostas pelos EUA.

No caso brasileiro, não há como negar o papel da nossa historicidade colonialista; mas, não de forma direta. O que está fermentando esse caldo de animosidade estadunidense, é que o Brasil não é mais um celeiro de exploração dos interesses diversos internacionais, com as bençãos de sua elite burguesa, como ocorreu durante muito tempo. Inclusive, durante o Golpe Militar de 1964 e os longos anos de ditadura que se sucederam até 1985.

A ascensão de governos progressistas, a partir dos anos 2000, sinalizou para a Direita e seus matizes, nos EUA, uma mudança indigesta para a dialogia e os interesses entre os países. Especialmente, porque o Brasil emergiu potente e vibrante o seu protagonismo internacional, rompendo com a velha imagem de “quintal dos EUA”, tão enfatizada durante os tempos da Guerra Fria.

Aí começa a análise. Ao se deslocar da posição de subserviência, de servilismo, presente na sua historicidade colonial e, por algum tempo, pós-colonial, o Brasil passa a representar um desafio concreto aos interesses geopolíticos dos EUA; sobretudo, da sua ala direitista mais radical e extremista. Acontece que essas pessoas estão estrategicamente presentes, nesse governo atual dos EUA, defendendo os interesses das Big Techs.

 E o primeiro ponto de desavença entre Brasil e EUA, se deu por conta da discussão a respeito da regulamentação das redes sociais em território brasileiro, pelo Supremo Tribunal Federal (STF).  Algo que desagradou profundamente aos interesses estadunidenses, porque impõe limites, sob diferentes aspectos, ao ambiente digital. O que comprometeria não só o potencial catalisador de mudanças e da formação de opinião pública; mas, afetaria a monetização de práxis eticamente condenáveis, tais como, a disseminação de pós-verdade (Fake News).  

Depois veio o papel do rearranjo global a partir dos BRICS. O bloco de países constituído inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, tem como papel primordial ser um foro de articulação político-diplomática de países do Sul Global e de cooperação nas mais diversas áreas. Tanto que, mais recentemente, se juntaram a eles a Arábia Saudita, o Egito, os Emirados Árabes Unidos, a Etiópia, a Indonésia e o Irã.

Ora, o mundo contemporâneo vive a sombra de uma nova polarização geopolítica entre os EUA e a China. Portanto, a articulação político-diplomática entre esses países causa um terrível mal-estar aos estadunidenses. Sobretudo, porque além de fortalecer a cooperação econômica, política e social entre seus membros, promove-se um aumento da influência dos países do Sul Global na governança internacional. Algo que gera legitimidade para lutar por uma equidade na participação e na eficiência das instituições globais, tais como a ONU e a OMC.

Tudo que o atual governo dos EUA não deseja em hipótese alguma. Então, como a dialogia estadunidense segue um parâmetro próprio para cada interlocutor, é compreensível que eles considerem, no palco da disputa de força geopolítica, o Brasil como o alvo potencialmente mais viável para atacar e impor-lhe submissão ao governo estadunidense. Bem, mas os tempos são outros. O Brasil é um país soberano, independente e, totalmente, capaz de figurar entre as grandes potências globais, inclusive, na defesa diplomática dos seus interesses.

Então, os EUA decidiram apelar para as terras raras. Trata-se de 17 elementos químicos - lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, túlio, itérbio, lutécio, ítrio e escândio – os quais encontram-se pulverizados em todo o planeta; mas, com suas maiores reservas na China e no Brasil, respectivamente. E esses minerais estão no centro de uma das disputas mais acirradas do século XXI, em razão de serem matérias-primas essenciais para a manutenção da tecnologia do futuro.

Recapitulando a polarização geopolítica entre os EUA e a China, a reserva brasileira tornou-se alvo dos EUA. A ideia é de que o acesso aos minerais estratégicos seria o preço a se pagar pela redução das tarifas ao Brasil. O que em suma objetiva retornar o país à sua historicidade colonial, ou seja, os velhos tempos de Colônia de Exploração. No entanto, a extração desses minerais depende de alta tecnologia que garanta a viabilidade econômica do processo exploratório.  Acontece que o Brasil além das grandes reservas naturais, dispõe de outras vantagens importantes, tais como, matriz energética limpa, território estável, uma tradição mineradora e conhecimento geotécnico bem consolidado.

Por isso, o governo dos EUA não quer negociar. Ele acredita que ao levar o tensionamento das tarifas às últimas consequências, serão destruídas todas as arestas que o incomodam em relação ao Brasil. Ele escolheu fazer o jogo geopolítico à margem das instituições globais, para não encontrar limites éticos e morais para as suas pseudonegociações. Aparecendo em parceria de outros atores políticos internacionais, nos veículos de comunicação e de informação, como se estivessem, de fato, realizando acordos, os EUA criam um verniz de legitimidade para os seus apoiadores, financiadores e simpatizantes.

Mas isso não é tudo. Vejam, esse tipo de jogo político se fia na incerteza, que escalona por patamares de interesses cada vez maiores e mais diversos. Quem se submete a ele arrisca a existência concreta de quaisquer garantias, porque o governo dos EUA é quem cria e estabelece as regras. E elas podem mudar, a qualquer momento! Por essas e por outras, é que se torna tão grave a afronta ao Brasil, no que diz respeito à sua soberania, à sua independência.  

Assim, não posso deixar de lembrar das seguintes palavras de Carlos Ruiz Zafón, escritor espanhol, de que “É impossível estabelecer um diálogo racional com alguém a respeito de crenças e conceitos que não foram adquiridos por meio da razão”. Porque, no fim das contas, o resultado dessa intransigência dialógica costuma ser o seguinte: “O diálogo se dá entre iguais e diferentes, nunca entre antagônicos” (Moacir Gadotti - educador e escritor brasileiro).


domingo, 27 de julho de 2025

O ineditismo temporal e todo o seu potencial metamórfico


O ineditismo temporal e todo o seu potencial metamórfico

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Ainda que pareça estranho, as tensões diplomáticas estabelecidas pelos EUA em relação ao Brasil representam um momento único e fundamental para a construção identitária brasileira.  Especialmente, porque sua população pode ampliar as suas análises e reflexões, a partir de todo o arcabouço de informações existentes a respeito do pós-colonialismo.

Aos que desconhecem esse termo, o pós-colonialismo é uma área do conhecimento que busca examinar o modo como o legado do colonialismo continua a moldar as sociedades contemporâneas, tanto em termos de estruturas de poder quanto de identidades e narrativas. Exatamente o que temos visto acontecer amiúde, no Brasil.

Infelizmente, passados pouco mais de 500 anos de história, a colonialidade, que é a estrutura de poder e conhecimento, se manteve mesmo após o fim do colonialismo político em relação à Metrópole portuguesa. As estruturas de organização socioeconômica e de poder buscaram manter os padrões e objetivos do período colonial, mesmo depois do advento da Independência do Brasil, em 7 de setembro de 1882, e da Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889.

No entanto, para além disso, a internalização de valores, crenças e padrões culturais do colonizador permaneceu constituindo um mecanismo de instrumentalização de controle e manipulação social, a partir da percepção de inferioridade da própria cultura e de uma hipervalorização da cultura do colonizador. O que o escritor e jornalista, Nelson Rodrigues, chamou de “complexo de vira-lata”, a respeito dessa tendência nacional de se sentir inferior em relação a outros países, especialmente os desenvolvidos, como os EUA, por exemplo.

O pior é saber que essa modelação da percepção de si mesmo e do mundo, não afeta somente as camadas menos favorecidas e desprivilegiadas da sociedade. Haja vista, o comportamento de certos elementos financiadores, apoiadores e simpatizantes da Direita nacional, em relação aos EUA. Aliás, é o braço elitista da ultradireita brasileira que está se prestando ao papel abjeto de trair o próprio país, em uma flagrante demonstração da prática do crime de "lesa-pátria", ou seja, promovendo atos que atentam contra a segurança, a soberania, a integridade e/ou a dignidade da nação.

De maneira clara e objetiva, esses indivíduos não fazem mais questão de esconder sua índole servil, puxa-saco, bajuladora, herdada dos tempos coloniais. Apesar de saberem muito bem que “Nossa derrota esteve sempre implícita na vitória dos outros. Nossa riqueza sempre gerou nossa pobreza por nutrir a prosperidade alheia: os impérios e seus beleguins nativos” (Eduardo Galeano - jornalista e escritor uruguaio).

Por essas e por outras, é que se torna possível entender a imensa importância desse momento para o Brasil. É tempo de desconstruir as narrativas coloniais e promover a compreensão da diversidade cultural e da justiça social, no amplo contexto geopolítico do mundo.

Pois, segundo Frantz Fanon, psiquiatra e filósofo político natural das Antilhas francesas, "Cada sociedade colonizada é vítima de uma escravidão mental, pois os colonizadores impõem suas próprias referências, seu próprio sistema de valores, e a cultura colonizada passa a se ver através dos olhos do opressor".

Ora, então, “Recuse-se a se tornar um vegetal que simplesmente absorve informações pré-embaladas, pré-ideologizadas, porque nenhuma mensagem é nada além de um pacote ideológico que passou por algum tipo de processamento” (Edward Said - professor, crítico literário e ativista político palestino-estadunidense)!

Esse é o tempo de se apropriar de uma identidade pós-colonial efetivamente distinta, considerando o fato de que “O que devemos eliminar são os sistemas de representação que carregam consigo uma autoridade que se tornou repressiva porque não permite nem dá espaço para intervenções por parte dos representados” (Edward Said).

Preste atenção: “O mundo está dividido principalmente entre indignos e indignados, e todos sabem de que lado querem ou podem estar”. A grande questão é que “O medo nos governa. Essa é uma das ferramentas de que se valem os poderosos, a outra é a ignorância” (Eduardo Galeano). Portanto, se permita parar, pensar e refletir.


sexta-feira, 25 de julho de 2025

25 de Julho - Dia Internacional da Agricultura Familiar

Saiba mais:


A legitimação do absurdo


A legitimação do absurdo

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Ao contrário do que muita gente pensa, por aí, por conta das incertezas, das imprevisibilidades, do insólito que rodeia a vida, é cada vez mais comum o fato de que as exceções se sobressaiam à regra. Por isso, a tentativa da Câmara dos Deputados em se abster da responsabilidade de cassar o mandato de um de seus parlamentares 1, o qual se encontra ausente do país, sem quaisquer justificativas plausíveis, é a mais completa falta de decoro já vista na história brasileira.

Os argumentos apresentados pela referida casa legislativa, na tentativa de dar legalidade a tal abstenção, não se sustentam diante da excepcionalidade do caso. O referido parlamentar não se fez de rogado em manifestar publicamente, e por diversas vezes, em áudio e vídeo, para veículos de comunicação nacionais e estrangeiros, os seus propósitos antidemocráticos e anticidadãos, durante sua estadia nos EUA.  

Em bom português, o que ele tem feito em companhia de seus asseclas, é crime de “lesa-pátria”. Isso significa que seus atos e palavras têm atentado contra a segurança, a soberania, a integridade e a dignidade do seu país de origem, ou seja, o Brasil. Enquanto cidadão brasileiro, eleito pelo Estado de São Paulo para representá-lo no parlamento, por livre e espontânea vontade ele decidiu cometer diversos atos de alta traição contra a nação e seu governo, causando prejuízos significativos à economia e atentando contra o Estado Democrático de Direito.

Portanto, essa é uma situação de extrema excepcionalidade, que ultrapassa a interpretação dos próprios mecanismos protocolares do Congresso nacional. Razão pela qual, demanda que a Câmara dos Deputados e o Senado, ao contrário de se absterem e se recolherem aos parâmetros da normalidade institucional, precisam lidar com a situação, considerando às particularidades e às especificidades desse caso. Afinal, jamais se pensou ver; sobretudo, em plena contemporaneidade, um ato de traição ao país por parte de um parlamentar brasileiro.

Ora, os recentes acontecimentos exibem, com total clareza, uma quebra de laços de lealdade e pertencimento a uma comunidade política, com implicações que vão além do âmbito jurídico-penal e afetam a ordem social e a identidade nacional, ocorrida de maneira consciente e voluntária, por parte de certos parlamentares.

Essa quebra está a se manifestar de diversas formas, tais como a colaboração com potências estrangeiras e a participação em movimentos que visem desestabilizar o governo ou a integridade territorial.

Tais atitudes têm sido bem recebidas pelo governo estadunidense, não por simpatia ou amizade; mas, por interesses econômicos importantes. O século XXI é o cenário da Revolução Industrial 4.0 ou Indústria 4.0, a qual envolve a utilização de tecnologias como a Internet das Coisas (IoT), inteligência artificial (IA), robótica, big data e análise preditiva, as quais demandam certas condições e elementos para acontecer.

Assim, as chamadas Big Techs, empresas de grande porte que dominam o cenário tecnológico global, precisam de metais de terras raras e água, para várias etapas de seus processos industriais, os quais vão desde a fabricação de componentes eletrônicos até a operação de data centers e a produção de energia renovável. Daí o seu interesse sobre os países em que há a presença de metais de terras raras e grandes volumes de recursos hídricos, como é o caso do Brasil.  

Isso significa que o atual momento representa uma nova versão do Colonialismo de Exploração, experimentado pelo Brasil, entre os séculos XVI e XIX. Depois das madeiras de lei, da cana de açúcar, do ouro e pedras preciosas, do café, parece que chegou a vez de o Brasil ser alvo da cobiça em razão de suas terras raras.

Segundo o Ministério de Minas e Energia (MME), “O Brasil tem a segunda maior reserva de terras raras do mundo. Isso representa 25% do território existente”. De modo que “o governo foi informado de que os Estados Unidos querem acesso aos minerais estratégicos” 2.

A verdade é que estamos diante de uma disputa tecnológica; mas, ao mesmo tempo, geopolítica entre os EUA e a China. O território chinês dispõe da maior concentração de terras raras, o que faz do país um monopólio; por isso, os EUA estão de olho no Brasil, que além de ser a segunda maior reserva, o país dispõe de outras vantagens “como matriz energética limpa, território estável, tradição mineradora e conhecimento técnico” 3.

Daí não causar espanto, o fato dos EUA se aliarem aos traidores da pátria; pois, o caminho do conflito e da desestabilização do atual governo favorece a esse processo de apropriação dos recursos, por vias marginais à ética diplomática.

Feitas essas considerações, é possível entender que a omissão intencional do Congresso, em relação aos traidores da pátria brasileira, coloca essa instituição legislativa no contexto da traição, também. Porque todas essas informações são de conhecimento público, o que significa que eles também estão cientes.

A escolha por não fazer, por não tomar uma atitude a respeito, não os absolve das responsabilidades e, nem tampouco, das nefastas consequências dessa imensa afronta à soberania nacional. Como dizia Mahatma Gandhi, líder pacifista indiano, “Se queremos progredir, não devemos repetir a história, mas fazer uma história nova”.

Recapitulando, então, a sua própria historicidade, o Brasil não pode se abster de admitir o óbvio, ou seja, “Todo império, no entanto, diz a si mesmo e ao mundo que é diferente de todos os outros impérios, que sua missão não é saquear e controlar, mas educar e libertar” (Edward Said - Professor da Universidade de Columbia). Simplesmente porque, há pouco mais de 500 anos, o país padece exatamente das consequências dessa narrativa.

Daí ser inadmissível concordar que “Parte do plano principal do imperialismo... é que nós daremos a vocês sua história, nós a escreveremos para vocês, nós reordenaremos o passado... O que é realmente mais assustador é a desfiguração, a mutilação e, finalmente, a erradicação da história para criar... uma ordem que seja favorável aos Estados Unidos” (Edward Said).

Portanto, é chegado o momento de o cidadão brasileiro refletir, questionar, se apropriar da sua identidade nacional, a partir da compreensão de que “A história de outras culturas é inexistente até que ela irrompe em confronto com os Estados Unidos” (Edward Said).

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Apesar dos pesares, a obviedade permanece óbvia!


Apesar dos pesares, a obviedade permanece óbvia!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Por se tratar de um espaço de interesse popular, o microcosmo do Congresso nacional vive sob constante luz do midiatismo. No momento atual, por força do seu regimento interno, ele está sob período de recesso parlamentar. Nada de sessões, de deliberações, de grandes novidades. O prédio encontra-se sob força dos reparos, das manutenções, dos cuidados técnico-operacionais.

Entretanto, eis que um grupo de parlamentares, ligado a uma determinada sigla partidária, decidiu que não iria acatar o estabelecido e desembarcou no local para diversas reuniões e discussões, tendo como pano de fundo a situação jurídica de um correligionário, o ex-Presidente da República. O que, do ponto de vista dos veículos de comunicação e de informação, tradicionais e alternativos, torna-se objeto de extremo interesse nacional, fazendo com que se colocassem a postos para cobrir os acontecimentos.

Acontece que, apesar das recentes medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao ex-Presidente da República, ou seja, o uso de tornozeleira eletrônica; a proibição de deixar o Distrito Federal; o recolhimento domiciliar das 19h às 6h de segunda a sexta; o recolhimento domiciliar integral nos fins de semana, feriados e dias de folga; a proibição do uso de redes sociais, diretamente ou por intermédio de terceiros; a proibição de fazer contato com embaixadores e diplomatas estrangeiros; a proibição de se aproximar de embaixadas e consulados estrangeiros; e, a proibição de contato com outras pessoas investigadas na ação, entre eles o filho Eduardo, inclusive por intermédio de terceiros, ele resolveu participar desse encontro com os parlamentares.

Considerando a sua longa trajetória como parlamentar no Congresso, ele sabia exatamente que o local estaria, por conta da iniciativa de alguns de seus correligionários, repleta de veículos de imprensa. Mesmo assim, ele se colocou como alvo preferencial dos holofotes midiáticos, ainda que os encontros tenham sido realizados de maneira privada e discreta. Porém, no ímpeto de garantir sua visibilidade, em momento tão adverso da sua posição político-partidária, ele optou por uma saída do local, bastante midiática. Parou para mostrar o uso de tornozeleira eletrônica e proferiu uma série de palavras em sua autodefesa, enquanto se transformava em furo de reportagem para os jornalistas no local.

Ora, não é preciso dizer, que a realidade da comunicação contemporânea se mostra imediata. As Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) promovem uma interação social praticamente instantânea. O que explica o desafio que o mundo tem encontrado diante dos recortes midiáticos, que instrumentalizam a força da Pós-Verdade; bem como, rompem com valores e princípios éticos da sociedade. Daí a decisão ter em sua pauta “a proibição do uso de redes sociais, diretamente ou por intermédio de terceiros”; posto que, atos recentes do ex-presidente, nesse contexto, configurariam coação, obstrução de investigações e tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito.

Portanto, a opção por sair de maneira midiática do Congresso Nacional permitiu ao ex-Presidente da República, que aquele momento fosse sim, transmitido e retransmitido por qualquer plataforma de rede social em contas de terceiros; bem como, por quaisquer veículos de comunicação e de informação, tradicionais e alternativos. O que, de fato, aconteceu. A imagem dele, mostrando o uso de tornozeleira eletrônica e proferindo uma série de palavras em sua autodefesa, circulou na imprensa como rastilho de pólvora, tornando-se um instrumento importante para a mobilização da sua claque, mais arraigada e radical, contra o Estado Democrático de Direito. Era o uso do vitimismo como arma de sensibilização ideológica, ou seja, a instrumentalização pela força da Pós-Verdade.    

Feitas essas breves considerações, parece que o espaço para discussões ou interpretações, nesse caso, é praticamente inexistente. Observando a conexão que existe entre todas as medidas cautelares impostas, fica evidente que elas buscam impossibilitar ao ex-Presidente da República de se valer das TICs para atingir o propósito de coação, obstrução de investigações e tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito.

Afinal, todos os processos em curso no STF, que tratam da trama golpista, cujo ápice foi a manifestação da barbárie coletiva, ocorrida  em Brasília / DF, em 08 de janeiro de 2023, tiveram as TICs como principal ferramenta de utilização da Pós-Verdade junto aos seus apoiadores, simpatizantes e financiadores.


quinta-feira, 17 de julho de 2025

Os INIMIGOS do Brasil


Os INIMIGOS do Brasil

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Não é a primeira e, certamente, não será a última vez, em que o Congresso, por meio de sua parcela majoritária, se mostra INIMIGO dos interesses nacionais. Primeiro, porque há quem pense que o Brasil é o país desse ou daquele lobby congressista. Só que não. Em pleno século XXI, ele é um país de aproximadamente 218,56 milhões habitantes.

Segundo, porque as práxis de votações na calada da noite, sob o silêncio traidor que paira sobre a República, longe do escrutínio popular, não são novidade. Elas estampam páginas e mais páginas na historicidade brasileira.

E por fim, porque já não fazem questão de esconder o seu verdadeiro lado sabujo, herança dos tempos coloniais. É triste, constrangedor; mas, o Congresso brasileiro teima e insiste em lustrar sua vocação servil aos interesses da elite, do baronato, nacional.

Bem, e se o Brasil enfrenta, nesse momento, a maior afronta diplomática de sua história, manifestada por uma série de tentativas intervencionistas contra a sua soberania, a sua economia, as suas relações comerciais, o seu sistema jurídico, por parte dos EUA, entendo que seus maiores INIMIGOS estão, portanto, dentro do próprio país.

Ora, gente que hasteia sem cerimônia, sem qualquer pudor ou constrangimento, bandeiras e símbolos estrangeiros, em total manifestação de desprezo ao seu país, à sua cidadania, vai-se dizer o quê, sobre elas?   Gente que aplaude a conduta antidemocrática e anticidadã de certos parlamentares, que utilizam da sua posição, para achincalhar com inverdades e delírios o país que paga seus salários e benefícios, é o cúmulo do absurdo! Os INIMIGOS estão sim, entre nós!

Por essas e por outras, o Congresso nacional está “bancando a egípcia”, se fazendo de desentendido para não ter que punir, com a devida severidade regimental, seus parlamentares foragidos da justiça brasileira.

A impressão que se tem é de que, no fundo, os presidentes das respectivas casas legislativas federais gostariam de explodir a sua euforia concordante. Então, valendo-se do verniz parlamentar, transformam a sua raiva contida em traições contra os interesses nacionais, à margem dos olhares do cidadão comum.

É, a madrugada foi um flashback dos tempos coloniais! O agronegócio, deitou e rolou, na consolidação dos seus interesses, no âmbito do poder econômico e político nacional, através da subserviência daqueles que recebem seus apoios e financiamentos de campanha.

O que aconteceu serve para que não restem dúvidas sobre a dimensão do espírito explorador e dizimatório que incide na Terra Brasilis, desde a chegada do colonizador europeu, há pouco mais de 500 anos. Sem contar, de como evidencia o desprezo pelos verdadeiros interesses do país, que rege a maioria da atual composição congressista brasileira.  

Como dizia a canção de Cazuza, “Meus inimigos / Estão no poder ...” 1. E essa compreensão é fundamental, porque ela traz luz à consciência de que existem INIMIGOS visíveis e invisíveis. Há os que se mostram no palco dos debates e das decisões; mas, há os que se escondem na dissimulação, na ocultação, na hipocrisia, no fingimento, de seus verdadeiros interesses e sentimentos.  Algo lastimável, segundo Carlos Bernardo González Pecotche, humanista e pensador argentino, pois “As diferenças de opiniões nunca devem suscitar inimizades nem ressentimentos”.

Bem, mas é o que temos para hoje. INIMIGOS. TRAIDORES DA PÁTRIA. ANTICIDADÃOS. ANTIDEMOCRATAS. Gente que se encheu de satisfação e aplausos, diante da tecitura golpista que se abateu sobre o Brasil e culminou no 08 de janeiro de 2023. Ainda que o resultado não tenha sido o esperado!

Por isso, é preciso prestar atenção no fato de que “A reação mais comum da mente humana a uma conquista não é satisfação, e sim o anseio por mais” (Yuval Noah Harari - historiador, filósofo e escritor israelense). E como se pode perceber, pelos inúmeros sinais, essa gente quer mais, espera por mais.

Afinal, é dessa forma que pretendem permanecer garantindo suas regalias e privilégios, herdados historicamente. Seus patrimônios, suas influências, seus poderes não podem ser comprometidos. Daí, então, resta saber se você, caro (a) leitor (a), irá contribuir com seu voto ou não, para que elas prossigam na busca do tão sonhado êxito.  



1 Ideologia - Cazuza (1988) /  Composição: Cazuza / Roberto Frejat. https://www.youtube.com/watch?v=hfsxcebq5Rc   

segunda-feira, 14 de julho de 2025

O progresso e suas escolhas


O progresso e suas escolhas

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Uma das principais marcas impressas no inconsciente coletivo da humanidade, pela Revolução Industrial, a partir da segunda metade do século XVIII, é a ideia de progresso. Naquele contexto histórico, partiu-se de uma percepção demasiadamente positiva, na qual as sociedades em um cenário de progresso evoluem ao longo do tempo, passando por estágios que representam melhorias em diversos aspectos como qualidade de vida, bem-estar social, e avanços tecnológicos e científicos.

Acontece que eram tempos desprivilegiados em termos de conhecimento a respeito das Ciências Ambientais e das Ciências Médicas, por exemplo. Portanto, as expectativas em torno dos impactos negativos, causados pela Revolução Industrial, passaram à margem da preocupação da sociedade da época. Era difícil estimar que o tal progresso estivesse na contramão de propiciar melhorias à qualidade de vida e à condição humana. Contudo, os séculos se passaram, e o conhecimento, apesar do atraso, chegou descortinando o lado obscuro do progresso sobre a humanidade e o planeta.

Por essas e por outras, fui pega de surpresa com a notícia 1 de que Minas Gerais publicou uma resolução que permite que resíduos de couro com cromo sejam destinados a aterros sanitários comuns. A Deliberação Normativa nº 252/2024 estabelece procedimentos para o gerenciamento desses resíduos; mas, o objeto da iniciativa foi reduzir custos para as empresas.

Aos que jamais ouviram falar sobre Patologia Ambiental, ou seja, um campo interdisciplinar que combina conhecimentos de ecologia, medicina, toxicologia e outras áreas para entender como fatores ambientais prejudiciais afetam a saúde dos seres vivos, incluindo contaminação por metais pesados e outros agentes poluentes de alta periculosidade, o fato infelizmente passa despercebido.

Acontece que o cromo (Cr) é amplamente utilizado em diversos processos industriais, com destaque para a produção de aço inoxidável, cromagem, na indústria química, em pigmentos, curtimento de couro, e conservantes de madeira. Embora, o tipo de cromo mais utilizado no curtimento de couro seja o cromo trivalente (Cr III), na forma de sulfato básico de cromo, existe risco da transformação do cromo trivalente (Cr(III)), em cromo hexavalente (Cr(VI)), uma forma tóxica e carcinogênica.

Eventuais falhas, tanto no processo industrial quanto na fiscalização e controle pelos órgãos ambientais, pode sim, desencadear um processo de oxidação do cromo trivalente a partir de condições ambientais específicas, tais como na presença de altas temperaturas, pH elevado e oxidação por outros elementos.

E o cromo, na sua forma hexavalente (Cr VI), apresenta riscos significativos à saúde humana e ao meio ambiente, que variam desde a contaminação dos solos e fontes de água até problemas respiratórios, renais, hepáticos e maior incidência de câncer. Afinal, o cromo hexavalente (Cr VI) é mais tóxico e facilmente absorvido pelo corpo humano do que o cromo trivalente (Cr III).

Portanto, a Deliberação Normativa nº 252/2024 transita na contramão dos fatos em relação à gestão de resíduos que contenham cromo, na medida em que ela permite o descarte em aterros de resíduos não perigosos, ou seja, locais de disposição final que não apresentam riscos significativos à saúde humana ou ao meio ambiente.

Tais aterros são classificados como Classe II, pela legislação brasileira, podendo ser divididos em duas categorias: não inertes (Classe IIA) e inertes (Classe IIB). A Classe IIA (Não Inertes), por exemplo, inclui restos de alimentos, lodos orgânicos, papelão, plásticos e borrachas. Já a Classe IIB (Inertes) inclui entulhos de construção, sucatas de ferro e aço, e alguns tipos de plásticos e borrachas.

Anteriormente, esses resíduos eram direcionados a aterros mais caros, os aterros de resíduos perigosos ou aterros Classe I. Esses aterros são regulamentados por normas específicas, tais como a NBR 10.004, que define os critérios para a classificação dos resíduos, e a Lei nº 12.305/2010, que estabelece a Política Nacional de Resíduos Sólidos. Esses são locais projetados para receber e armazenar de forma segura resíduos que apresentam características como toxicidade, inflamabilidade, corrosividade ou reatividade.

Os aterros de resíduos perigosos são projetados com sistemas de impermeabilização para evitar a contaminação do solo e das águas subterrâneas. Eles geralmente incluem camada de argila, geocomposto bentonítico, manta de polietileno de alta densidade (PEAD), geotêxtil, camada drenante, poços de monitoramento. Daí o seu custo de construção e de operação serem mais elevados. Sem contar, que eles não estão disponíveis em todos os municípios.

É essa estrutura que permite a devida proteção ao meio ambiente e a saúde pública, tendo em vista de que previne a contaminação do solo e da água, reduzindo os riscos à saúde humana, e promovendo a gestão adequada dos resíduos. O que em síntese significa garantir que os resíduos perigosos, como é o caso do cromo, sejam descartados de forma segura e responsável.

Portanto, a questão da Deliberação Normativa nº 252/2024 merece mais atenção por parte das autoridades. Em pleno século XXI, embora associado a avanços e melhorias, o progresso tem seu viés merecedor de críticas por conta de inúmeros desafios apresentados; sobretudo, relacionados à sustentabilidade.

É fundamental que a indústria seja chamada a tomar uma melhor decisão, no que diz respeito à gestão de resíduos perigosos, para sempre garantir que os rejeitos sejam corretamente descartados, de acordo com as normas e leis ambientais em vigor, e não visando exclusivamente uma redução de custos operacionais.

Vale ressaltar que os custos decorrentes de doenças causadas pelo cromo podem variar, significativamente, dependendo da gravidade da intoxicação e do tipo de tratamento necessário. Casos mais graves, por exemplo, os quais envolvem o desenvolvimento de câncer, podem demandar tratamentos caríssimos, como quimioterapia, cirurgias e internações hospitalares prolongadas. Assim, qualquer eventual redução de custos, com a destinação de resíduos de couro com cromo em aterros sanitários comuns, pode se perder em custos elevados com a saúde dos trabalhadores e da população em geral.



1 MG1 - Edição de segunda-feira, 14/07/2025 - https://g1.globo.com/mg/triangulo-mineiro/mg1-uberlandia/


O que é mudança climática? (What is climate change?)


A resposta a essa pergunta está disponível em

Benefícios da Segurança Alimentar (Benefits of Food Safety)

Saiba mais em
"Segurança e qualidade alimentar" - https://www.fao.org/food-safety/en/ 

Sempre em tempo de lembrar!!!



domingo, 13 de julho de 2025

14 de Julho. Essa data tem muito a dialogar conosco, sabia???


14 de Julho. Essa data tem muito a dialogar conosco, sabia???

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Amanhã é 14 de julho. Para uma imensa maioria, apenas, mais um dia da semana, uma segunda-feira repleta de afazeres e compromissos. Só que não. Apesar de ser o mais importante feriado francês, em razão do episódio histórico da Tomada da Bastilha, em 1789, na verdade, ele diz respeito a todos os cidadãos do mundo. Sim, a Revolução Francesa é um marco social global, na medida em que influenciou a organização das sociedades e a política de diversas nações, moldando os ideais das relações humanas modernas.

O fim da França monárquica de Luís XVI foi, de fato, um espelho a refletir a possibilidade de abolição de altos privilégios desfrutados pela nobreza e pelo clero, o que permitiu o desmantelamento da estrutura política e social, prevalente na Europa, entre os séculos XVI e XVIII, caracterizada pela monarquia absolutista, uma sociedade presa ao imobilismo social e pela economia mercantilista, possibilitando a libertação camponesa dos laços feudais. O que inspirou movimentos por direitos humanos e igualdade social em diversos outros países, os quais impulsionaram movimentos revolucionários e de independência em diversas partes do mundo, como nos Estados Unidos e na América Espanhola.

Mas, talvez, o aspecto mais importante propiciado por esse marco histórico seja o fato de nos permitir entender o espaço que ocupam os indivíduos na pirâmide social e a discutir as consequências e desdobramentos dessa organização, até os dias atuais.  Afinal, por ter aberto caminho para o desenvolvimento do capitalismo, a Revolução Francesa não apenas transformou radicalmente a estrutura social e as relações de trabalho, como influenciou o desenvolvimento do direito trabalhista e a organização da força laboral.

O que torna a ideia de ricos e pobres, algo extremamente vago e incompleto. As classes sociais são atravessadas e recortadas, principalmente, pela compreensão a respeito das oportunidades e do poder de influência de cada grupo na sociedade. Daí a necessidade de entender a dimensão das relações de poder, dos conflitos desencadeados por elas, a partir das diferentes formas de organização da sociedade.

A riqueza não diz respeito somente à posse de bens materiais. Ela vai muito além. A parcela da sociedade que é efetivamente rica dispõe de oportunidades, poderes e influências, no contexto da dinâmica social. Em face do vultoso montante de dinheiro, de propriedades e de investimentos financeiros, muitas vezes advinda de heranças, eles viabilizam um alto padrão de qualidade de vida; mas, sobretudo, consolidam a sua participação social no que diz respeito a todo conjunto de tomadas de decisões importantes. Além disso, essas pessoas são proprietárias dos meios de produção, o que lhes permite serem também grandes investidoras financeiras, retroalimentado as suas influências e poderes.

Já a pobreza, diz respeito diretamente à relação de dependência do Estado ou dos donos dos meios de produção. Pois é, todo aquele cuja vida está condicionada aos recursos financeiros provenientes exclusivamente da sua força de trabalho, e que depende das oportunidades oferecidas pelas elites para ter algum acesso aos serviços essenciais, não pertence ao rol dos ricos, quiçá, dos multimilionários estampados nas revistas de Economia. Gostem ou não, aceitem ou não, essas pessoas exprimem a existência ultrajante da exclusão social e da inacessibilidade a uma participação mais ativa e intensa na sociedade.

Haja vista a distribuição de classes sociais, segundo a renda no Brasil, em 2025, a partir de pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Classe A: acima de R$ 28.240; Classe B1: entre R$ 12.683,34 e R$ 28.240; Classe B2: entre R$ 7.017,64 e R$ 12.683,34; Classes C1/C2: entre R$ 3.980,38 e R$ 7.017,64; e, Classes D/E: muitas vezes abaixo de R$ 3.018,00. É importante ressaltar que o percentual de multimilionários (pessoas com patrimônio superior a US$ 1 milhão) é de 0,21% da população brasileira e quase metade da riqueza do Brasil está concentrada nas mãos de 1% da população.

No Brasil, por exemplo, há quem se julgue rico; mas, está longe de ser! O temor de ser alocado em uma classe social desfavorável, em recursos e importância social, leva muita gente, por aí, a arrebitar o nariz e se colocar no mundo com ares de superioridade. Por isso, gosto sempre de lembrar as seguintes palavras de Aldous Huxley, escritor e filósofo inglês: “Os fatos não deixam de existir só porque são ignorados”. Somos o que somos, e ponto final. Sem contar que, à revelia de nossas vontades e quereres, o mundo gira e as circunstâncias, as conjunturas, os cenários, são subitamente alterados pela força enigmática do imponderável, do insólito, das incertezas. De repente, pobre hoje, rico amanhã, ou o contrário. Vai saber!

Por essas e por outras, que a Revolução Francesa permanece tão importante para a reflexão crítica global. A realidade contemporânea, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), esse ano, aponta para o fato de que “mais de 690 milhões de pessoas vivem atualmente em pobreza extrema, sobrevivendo com menos de US$ 2,15 por dia. Além disso, cerca de 2,8 bilhões, mais de um terço da população mundial, vivem com rendas entre US$ 2,15 e US$ 6,85 por dia, o que as torna extremamente vulneráveis a qualquer choque externo, como uma crise econômica ou desastre natural” 1.

Daí a necessidade de que os mesmos desvarios, irresponsabilidades, megalomanias e tiranias, vistos entre os séculos XVI e XVIII, na Europa, sejam veementemente rechaçados e combatidos, no século XXI. Como escreveu Victor Hugo, em “Os Miseráveis”, de 1862, “Destrua o buraco Ignorância e você destruirá a toupeira Crime. O único perigo social é a escuridão. (…) Humanidade é similaridade. Todos os homens são a mesma argila. Não há diferença, aqui na Terra ao menos, por predestinação. A mesma escuridão antes, a mesma carne durante, as mesmas cinzas depois. Mas a Ignorância, mesclada com a composição humana, escurece essa percepção. É assim que a Ignorância possui o coração do homem e, daí, surge o Mal”. Lembre-se: “Ser perverso não garante prosperidade”; porque, “A miséria das classes baixas é sempre maior que o espírito de fraternidade das classes altas”.



sexta-feira, 11 de julho de 2025

Já dizia Aldous Huxley, “Os fatos não deixam de existir só porque são ignorados”.


Já dizia Aldous Huxley, “Os fatos não deixam de existir só porque são ignorados”.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

A afronta do governo estadunidense ao Brasil é totalmente descabida e inadmissível. Entretanto, uma atitude intempestiva vinda de fora das fronteiras nacionais tem um peso próprio. Mas, o que verdadeiramente causa asco, repulsa, aversão, é que a situação em si tenha a participação de figuras nascidas no Brasil; mas, que abdicam da sua identidade nacional para exercitar a subserviência em relação a outros países.

Ontem, as duas casas legislativas federais, Câmara dos Deputados e Senado, emitiram uma nota pública a respeito da referida afronta estadunidense. Porém, optaram por silenciar em relação ao fato de que uma dessas figuras é, justamente, um deputado federal em situação de afastamento voluntário, do parlamento, e cujas atividades internacionais, nos EUA, configuram explicitamente crime de lesa pátria.

Considerando que, desde o início, o próprio deputado, através de vídeos e entrevistas, deixou clara as razões do seu afastamento, ao menos em tese, o que se esperaria do Congresso Nacional era uma atitude firme e decorosa em relação a ele. Em suma, era de se esperar que ele perdesse seu mandato parlamentar; bem como, todas prerrogativas e regalias do cargo. Ora, nenhum dia sequer, de sua estadia nos EUA, esteve distante de inúmeras práxis para tentar submeter o território nacional, ou parte dele, ao domínio ou à soberania estadunidense.

Mas, não bastasse isso, o seu irmão, Senador da República, apesar de não ter saído do país, também, exerce o mesmo papel, a partir de manifestações públicas em redes sociais, no parlamento e em entrevistas. O que torna a situação do Congresso Nacional, um tanto quanto, desconfortável e constrangedora, dada a forma com a qual tem conduzido essas condutas parlamentares.

Não, não há normalidade em permitir que um, dois, três ou vários parlamentares façam viagens internacionais, utilizando recursos públicos vultosos, com o propósito de afrontar explicitamente o próprio país, difamando-o, desqualificando-o, submetendo-o à vergonha internacional.

Sobretudo, acrescentando-se o fato de que nesse cenário valem-se de inverdades, de distorções discursivas, de narrativas totalmente inverídicas. Vejam, quando qualquer cidadão brasileiro age dessa maneira, está sim, construindo uma consciência coletiva a respeito, ainda que à revelia da concordância do restante da população.

Como parlamentar, ele é um representante político-partidário, eleito por uma parcela de cidadãos; mas, nem por isso, dispõe de autorização dessas pessoas para o cometimento de crimes como é a traição à Pátria. Ora, mas é exatamente isso o que esses indivíduos estão fazendo! Eles estão arrastando para a lama de suas declarações e comportamentos, o imenso coletivo nacional. Fazendo parecer que o país, como um todo, os referenda de maneira absoluta, o que não é verdade.

Por essas e por outras, o Congresso Nacional ao carregar a obrigação exercer um papel fundamental na definição e controle das ações do Estado, relacionadas à proteção do território e dos interesses do país, não pode permanecer se mantendo silencioso e à margem desses fatos extremamente graves.

Portanto, aguarda-se por uma atitude rápida e contundente em relação a esses parlamentares, os quais estão trabalhando em total dissonância à realidade e em prejuízo da soberania nacional. Inclusive, considerando a importância didática que isso reverbera entre outros parlamentares que, de maneira acintosa ou não, são apoiadores e simpatizantes de tais atitudes deploravelmente anticidadãs.

Já dizia José Saramago, prêmio Nobel de Literatura, em 1998, “Quando um político mente destrói a base da democracia”. Daí a necessidade de entender que “Numa democracia, é essencial a consciência da responsabilidade, a responsabilização daqueles que detêm o poder e o exercem” (Karl Raimund Popper - Filósofo e professor austro-húngaro).


quinta-feira, 10 de julho de 2025

A Terra é sim, redonda!


A Terra é sim, redonda!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Confesso que certas respostas conjunturais da vida me causam uma satisfação imensa! Nos últimos dias, o Brasil estava sob o choramingo e o descontentamento da Direita e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas, por conta do clamor popular, nas mídias sociais, em relação à necessidade de se fazer justiça social, no país. O que significa, na prática, romper definitivamente com o modelo histórico colonial brasileiro.

Então, eis que de repente, não mais que de repente, é esse espectro político-partidário que sofre os efeitos diretos de uma iniciativa de recolonização contemporânea, por parte dos EUA. A carta do presidente estadunidense ao Brasil, impondo não só uma ingerência à nossa soberania nacional e ao Estado Democrático de Direito; mas, também uma taxação de 50% aos produtos brasileiros, afeta diretamente os interesses de financiadores, apoiadores e simpatizantes da Direita e seus matizes.

Quem diria, não é mesmo? A vida cobrando o ranço colonial, imperialista, na mesma moeda! E o que é pior, com a participação direta de elementos pertencentes à ultradireita brasileira, que fugiram para os EUA e buscam, por lá, desempenhar um papel abjeto como anticidadãos, antidemocratas, e principalmente, como criminosos por lesa-pátria. Ao tentarem submeter o território nacional ao domínio ou à soberania de outro país, eles conseguiram comprometer os interesses comerciais e econômicos brasileiros.

Bem, mas não há espanto! Essa gente mostrou a sua cara, quando se permitiu publicamente hastear outras bandeiras e símbolos estrangeiros, em detrimento da sua própria cidadania. Quando abdicaram do exercício da sua identidade nacional para se tornarem sabujos dos outros. Infelizmente, esses indivíduos padecem de uma crônica saudade em relação aos seus tempos de Brasil colônia. Até parece, que a canção favorita deles é “Aluga-se” 1, de 1980, escrita por Claudio Roberto e Raul Seixas! Porém, vale ressaltar que eles se apropriariam de cada estrofe e se absteriam de qualquer crítica, presente na canção, quanto à maneira como os recursos nacionais são explorados e a aparente submissão do país aos interesses estrangeiros.

Agora, se alguém tinha dúvidas em relação a isso, elas foram dissipadas. A Direita e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas, através da figura de sua classe político-partidária e das elites que a financiam e apoiam, que vieram reproduzindo, ao longo de séculos, uma condição de dependência e sujeição para as camadas inferiores da pirâmide social brasileira, prova da mesma subserviência.  Estão sob as botas tirânicas dos interesses geopolíticos estadunidense.

Vejam, quando se pensa nas palavras do sociólogo Darcy Ribeiro, por exemplo, de que “O Brasil, último país a acabar com a escravidão, tem uma perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso” 2, entende-se a dimensão do ranço colonial arraigado e persistente, nas relações internas e externas. A grande verdade é que as mesmas elites, ou classes dominantes, ou baronato, que se julgam no direito de escravizar todos aqueles abaixo da sua linha de poder, no fim das contas, são, também, escravizadas por aqueles que estão acima na escala de poder global.

Por isso, eles estão servindo aos interesses dos EUA, de reapropriação de seu controle e influência sobre o sul global - África, Ásia, América Latina e Oceania -; posto que, a historicidade desses países é marcada por experiências de colonização, desigualdade econômica e marginalização política. A escolha por atacar o Brasil, um player importantíssimo nessa geopolítica, então, é uma tentativa de fazer sobreviver os áureos tempos de hegemonia estadunidense, nessa região, frente à incontestável expansão chinesa.  

Acontece que é preciso comunicar, aos mais desavisados, que o mundo vive o século XXI. A Terra não é plana, é redonda! Não estamos mais sobre o Colonialismo, ou o Imperialismo/Neocolonialismo, ou a Guerra Fria. A realidade global é outra. Os cenários estruturais e geopolíticos são outros. Não se pode esperar que a sujeição, a submissão, a dominação, a dependência e a obediência, sejam aceitas de maneira absoluta e passiva. Haja vista as duas guerras em curso. Há um poder supremo e independente de um Estado sobre seu território e população, que não permite qualquer interferência externa, que pode ser manifestado sempre que se fizer necessário. Isso diz respeito à soberania, à ideia de autogoverno e autodeterminação de um povo, refletindo sua capacidade de definir suas próprias leis, políticas e rumos.