Apesar dos
pesares, a obviedade permanece óbvia!
Por
Alessandra Leles Rocha
Por se tratar de um espaço de
interesse popular, o microcosmo do Congresso nacional vive sob constante luz do
midiatismo. No momento atual, por força do seu regimento interno, ele está sob
período de recesso parlamentar. Nada de sessões, de deliberações, de grandes
novidades. O prédio encontra-se sob força dos reparos, das manutenções, dos
cuidados técnico-operacionais.
Entretanto, eis que um grupo de
parlamentares, ligado a uma determinada sigla partidária, decidiu que não iria acatar
o estabelecido e desembarcou no local para diversas reuniões e discussões,
tendo como pano de fundo a situação jurídica de um correligionário, o
ex-Presidente da República. O que, do ponto de vista dos veículos de
comunicação e de informação, tradicionais e alternativos, torna-se objeto de
extremo interesse nacional, fazendo com que se colocassem a postos para cobrir
os acontecimentos.
Acontece que, apesar das recentes
medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao ex-Presidente
da República, ou seja, o uso de tornozeleira eletrônica; a proibição de deixar
o Distrito Federal; o recolhimento domiciliar das 19h às 6h de segunda a sexta;
o recolhimento domiciliar integral nos fins de semana, feriados e dias de folga;
a proibição do uso de redes sociais, diretamente ou por intermédio de
terceiros; a proibição de fazer contato com embaixadores e diplomatas
estrangeiros; a proibição de se aproximar de embaixadas e consulados
estrangeiros; e, a proibição de contato com outras pessoas investigadas na
ação, entre eles o filho Eduardo, inclusive por intermédio de terceiros, ele
resolveu participar desse encontro com os parlamentares.
Considerando a sua longa
trajetória como parlamentar no Congresso, ele sabia exatamente que o local
estaria, por conta da iniciativa de alguns de seus correligionários, repleta de
veículos de imprensa. Mesmo assim, ele se colocou como alvo preferencial dos
holofotes midiáticos, ainda que os encontros tenham sido realizados de maneira
privada e discreta. Porém, no ímpeto de garantir sua visibilidade, em momento
tão adverso da sua posição político-partidária, ele optou por uma saída do local,
bastante midiática. Parou para mostrar o uso de tornozeleira eletrônica e
proferiu uma série de palavras em sua autodefesa, enquanto se transformava em
furo de reportagem para os jornalistas no local.
Ora, não é preciso dizer, que a
realidade da comunicação contemporânea se mostra imediata. As Tecnologias da
Informação e da Comunicação (TICs) promovem uma interação social praticamente instantânea.
O que explica o desafio que o mundo tem encontrado diante dos recortes
midiáticos, que instrumentalizam a força da Pós-Verdade; bem como, rompem com
valores e princípios éticos da sociedade. Daí a decisão ter em sua pauta “a
proibição do uso de redes sociais, diretamente ou por intermédio de terceiros”;
posto que, atos recentes do ex-presidente, nesse contexto, configurariam coação,
obstrução de investigações e tentativa de abolir o Estado Democrático de
Direito.
Portanto, a opção por sair de
maneira midiática do Congresso Nacional permitiu ao ex-Presidente da República,
que aquele momento fosse sim, transmitido e retransmitido por qualquer
plataforma de rede social em contas de terceiros; bem como, por quaisquer veículos
de comunicação e de informação, tradicionais e alternativos. O que, de fato,
aconteceu. A imagem dele, mostrando o uso de tornozeleira eletrônica e proferindo
uma série de palavras em sua autodefesa, circulou na imprensa como rastilho de
pólvora, tornando-se um instrumento importante para a mobilização da sua claque,
mais arraigada e radical, contra o Estado Democrático de Direito. Era o uso do
vitimismo como arma de sensibilização ideológica, ou seja, a instrumentalização
pela força da Pós-Verdade.
Feitas essas breves
considerações, parece que o espaço para discussões ou interpretações, nesse
caso, é praticamente inexistente. Observando a conexão que existe entre todas as
medidas cautelares impostas, fica evidente que elas buscam impossibilitar ao
ex-Presidente da República de se valer das TICs para atingir o propósito de coação,
obstrução de investigações e tentativa de abolir o Estado Democrático de
Direito.
Afinal, todos os processos em curso
no STF, que tratam da trama golpista, cujo ápice foi a manifestação da barbárie
coletiva, ocorrida em Brasília / DF, em
08 de janeiro de 2023, tiveram as TICs como principal ferramenta de utilização da
Pós-Verdade junto aos seus apoiadores, simpatizantes e financiadores.