quarta-feira, 23 de julho de 2025

Apesar dos pesares, a obviedade permanece óbvia!


Apesar dos pesares, a obviedade permanece óbvia!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Por se tratar de um espaço de interesse popular, o microcosmo do Congresso nacional vive sob constante luz do midiatismo. No momento atual, por força do seu regimento interno, ele está sob período de recesso parlamentar. Nada de sessões, de deliberações, de grandes novidades. O prédio encontra-se sob força dos reparos, das manutenções, dos cuidados técnico-operacionais.

Entretanto, eis que um grupo de parlamentares, ligado a uma determinada sigla partidária, decidiu que não iria acatar o estabelecido e desembarcou no local para diversas reuniões e discussões, tendo como pano de fundo a situação jurídica de um correligionário, o ex-Presidente da República. O que, do ponto de vista dos veículos de comunicação e de informação, tradicionais e alternativos, torna-se objeto de extremo interesse nacional, fazendo com que se colocassem a postos para cobrir os acontecimentos.

Acontece que, apesar das recentes medidas cautelares impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ao ex-Presidente da República, ou seja, o uso de tornozeleira eletrônica; a proibição de deixar o Distrito Federal; o recolhimento domiciliar das 19h às 6h de segunda a sexta; o recolhimento domiciliar integral nos fins de semana, feriados e dias de folga; a proibição do uso de redes sociais, diretamente ou por intermédio de terceiros; a proibição de fazer contato com embaixadores e diplomatas estrangeiros; a proibição de se aproximar de embaixadas e consulados estrangeiros; e, a proibição de contato com outras pessoas investigadas na ação, entre eles o filho Eduardo, inclusive por intermédio de terceiros, ele resolveu participar desse encontro com os parlamentares.

Considerando a sua longa trajetória como parlamentar no Congresso, ele sabia exatamente que o local estaria, por conta da iniciativa de alguns de seus correligionários, repleta de veículos de imprensa. Mesmo assim, ele se colocou como alvo preferencial dos holofotes midiáticos, ainda que os encontros tenham sido realizados de maneira privada e discreta. Porém, no ímpeto de garantir sua visibilidade, em momento tão adverso da sua posição político-partidária, ele optou por uma saída do local, bastante midiática. Parou para mostrar o uso de tornozeleira eletrônica e proferiu uma série de palavras em sua autodefesa, enquanto se transformava em furo de reportagem para os jornalistas no local.

Ora, não é preciso dizer, que a realidade da comunicação contemporânea se mostra imediata. As Tecnologias da Informação e da Comunicação (TICs) promovem uma interação social praticamente instantânea. O que explica o desafio que o mundo tem encontrado diante dos recortes midiáticos, que instrumentalizam a força da Pós-Verdade; bem como, rompem com valores e princípios éticos da sociedade. Daí a decisão ter em sua pauta “a proibição do uso de redes sociais, diretamente ou por intermédio de terceiros”; posto que, atos recentes do ex-presidente, nesse contexto, configurariam coação, obstrução de investigações e tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito.

Portanto, a opção por sair de maneira midiática do Congresso Nacional permitiu ao ex-Presidente da República, que aquele momento fosse sim, transmitido e retransmitido por qualquer plataforma de rede social em contas de terceiros; bem como, por quaisquer veículos de comunicação e de informação, tradicionais e alternativos. O que, de fato, aconteceu. A imagem dele, mostrando o uso de tornozeleira eletrônica e proferindo uma série de palavras em sua autodefesa, circulou na imprensa como rastilho de pólvora, tornando-se um instrumento importante para a mobilização da sua claque, mais arraigada e radical, contra o Estado Democrático de Direito. Era o uso do vitimismo como arma de sensibilização ideológica, ou seja, a instrumentalização pela força da Pós-Verdade.    

Feitas essas breves considerações, parece que o espaço para discussões ou interpretações, nesse caso, é praticamente inexistente. Observando a conexão que existe entre todas as medidas cautelares impostas, fica evidente que elas buscam impossibilitar ao ex-Presidente da República de se valer das TICs para atingir o propósito de coação, obstrução de investigações e tentativa de abolir o Estado Democrático de Direito.

Afinal, todos os processos em curso no STF, que tratam da trama golpista, cujo ápice foi a manifestação da barbárie coletiva, ocorrida  em Brasília / DF, em 08 de janeiro de 2023, tiveram as TICs como principal ferramenta de utilização da Pós-Verdade junto aos seus apoiadores, simpatizantes e financiadores.