sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Como folha de bananeira ...


Como folha de bananeira ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Para colocar fim ao radicalismo desavergonhado que se manifestou no Congresso Nacional, no início dessa semana, foi feito um acordo. Eis que um assunto adormecido emergiu para colocar fim ao impasse. Estou falando do fim ao foro privilegiado.

Também conhecido como foro por prerrogativa de função, trata-se de um instrumento jurídico, o qual estabelece que determinadas autoridades públicas, como parlamentares, devem ser julgadas por tribunais superiores em razão do cargo que ocupam. Tem como objetivo proteger a função pública e garantir que autoridades de alta relevância sejam julgadas por órgãos com maior experiência e independência, evitando potenciais perseguições políticas ou decisões arbitrárias.

Mas, por que, justamente nesse momento da história brasileira, querem os parlamentares acabar com o foro privilegiado? Essa é uma forma de impunidade para autoridades acusadas de crimes, pois elas seriam julgadas em instâncias inferiores, portanto, com julgadores menos experientes e mais suscetíveis a pressões externas. Isso, sem contar a demora do rito, que poderia levar décadas para ser concluído e se obter uma sentença final.

Assim, essa parece a saída encontrada pelos extremistas da ultradireita e seus apoiadores e simpatizantes, diante do fato de que o projeto de anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro é inconstitucional. Anistiar crimes contra o Estado Democrático de Direito, previstos na Lei 14.197/2021, contraria a própria Constituição, que estabelece que esses crimes são inafiançáveis e imprescritíveis; bem como, poderia ser vista como uma interferência indevida do Poder Legislativo no Poder Judiciário, violando o princípio da separação de poderes.

Mas, como na vida e na política nada acontece por acaso, essas pautas extravagantes vieram à tona depois que o ex-presidente da República se tornou réu em processo que corre no Supremo Tribunal Federal (STF). Ele próprio “manifestou apoio a uma Proposta de Emenda à Constituição que acaba com o foro privilegiado”, afirmando “que, se fosse promulgada, a emenda constitucional levaria seu julgamento do Supremo para a primeira instância” 1.

Parece que ele se esqueceu as razões pelas quais está sendo julgado pelo STF: Organização criminosa armada. Tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Golpe de Estado. Dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima. Deterioração de patrimônio tombado.

Portanto, a impressão que se tem é de que esses indivíduos ainda não entenderam que tais ideias e atitudes causam uma flagrante sensação de impunidade, a qual enfraquece diretamente a confiança da população, não só em relação ao Parlamento brasileiro quanto a uma significativa parcela da classe político-partidária nacional.

Como diz a expressão popular, "mudam de opinião como folha de bananeira", ou seja, são pessoas dotadas de total instabilidade e falta de convicção, alterando suas opiniões com frequência e facilidade, sem firmeza de decisões. No fim das contas, estão sempre legislando em causa própria! Sempre gerando um conflito de interesses. Sempre afrontando a justiça das leis. Sendo assim, quem se opõe à anistia, também, deve se opor ao fim do foro privilegiado.