domingo, 13 de julho de 2025

14 de Julho. Essa data tem muito a dialogar conosco, sabia???


14 de Julho. Essa data tem muito a dialogar conosco, sabia???

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Amanhã é 14 de julho. Para uma imensa maioria, apenas, mais um dia da semana, uma segunda-feira repleta de afazeres e compromissos. Só que não. Apesar de ser o mais importante feriado francês, em razão do episódio histórico da Tomada da Bastilha, em 1789, na verdade, ele diz respeito a todos os cidadãos do mundo. Sim, a Revolução Francesa é um marco social global, na medida em que influenciou a organização das sociedades e a política de diversas nações, moldando os ideais das relações humanas modernas.

O fim da França monárquica de Luís XVI foi, de fato, um espelho a refletir a possibilidade de abolição de altos privilégios desfrutados pela nobreza e pelo clero, o que permitiu o desmantelamento da estrutura política e social, prevalente na Europa, entre os séculos XVI e XVIII, caracterizada pela monarquia absolutista, uma sociedade presa ao imobilismo social e pela economia mercantilista, possibilitando a libertação camponesa dos laços feudais. O que inspirou movimentos por direitos humanos e igualdade social em diversos outros países, os quais impulsionaram movimentos revolucionários e de independência em diversas partes do mundo, como nos Estados Unidos e na América Espanhola.

Mas, talvez, o aspecto mais importante propiciado por esse marco histórico seja o fato de nos permitir entender o espaço que ocupam os indivíduos na pirâmide social e a discutir as consequências e desdobramentos dessa organização, até os dias atuais.  Afinal, por ter aberto caminho para o desenvolvimento do capitalismo, a Revolução Francesa não apenas transformou radicalmente a estrutura social e as relações de trabalho, como influenciou o desenvolvimento do direito trabalhista e a organização da força laboral.

O que torna a ideia de ricos e pobres, algo extremamente vago e incompleto. As classes sociais são atravessadas e recortadas, principalmente, pela compreensão a respeito das oportunidades e do poder de influência de cada grupo na sociedade. Daí a necessidade de entender a dimensão das relações de poder, dos conflitos desencadeados por elas, a partir das diferentes formas de organização da sociedade.

A riqueza não diz respeito somente à posse de bens materiais. Ela vai muito além. A parcela da sociedade que é efetivamente rica dispõe de oportunidades, poderes e influências, no contexto da dinâmica social. Em face do vultoso montante de dinheiro, de propriedades e de investimentos financeiros, muitas vezes advinda de heranças, eles viabilizam um alto padrão de qualidade de vida; mas, sobretudo, consolidam a sua participação social no que diz respeito a todo conjunto de tomadas de decisões importantes. Além disso, essas pessoas são proprietárias dos meios de produção, o que lhes permite serem também grandes investidoras financeiras, retroalimentado as suas influências e poderes.

Já a pobreza, diz respeito diretamente à relação de dependência do Estado ou dos donos dos meios de produção. Pois é, todo aquele cuja vida está condicionada aos recursos financeiros provenientes exclusivamente da sua força de trabalho, e que depende das oportunidades oferecidas pelas elites para ter algum acesso aos serviços essenciais, não pertence ao rol dos ricos, quiçá, dos multimilionários estampados nas revistas de Economia. Gostem ou não, aceitem ou não, essas pessoas exprimem a existência ultrajante da exclusão social e da inacessibilidade a uma participação mais ativa e intensa na sociedade.

Haja vista a distribuição de classes sociais, segundo a renda no Brasil, em 2025, a partir de pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Classe A: acima de R$ 28.240; Classe B1: entre R$ 12.683,34 e R$ 28.240; Classe B2: entre R$ 7.017,64 e R$ 12.683,34; Classes C1/C2: entre R$ 3.980,38 e R$ 7.017,64; e, Classes D/E: muitas vezes abaixo de R$ 3.018,00. É importante ressaltar que o percentual de multimilionários (pessoas com patrimônio superior a US$ 1 milhão) é de 0,21% da população brasileira e quase metade da riqueza do Brasil está concentrada nas mãos de 1% da população.

No Brasil, por exemplo, há quem se julgue rico; mas, está longe de ser! O temor de ser alocado em uma classe social desfavorável, em recursos e importância social, leva muita gente, por aí, a arrebitar o nariz e se colocar no mundo com ares de superioridade. Por isso, gosto sempre de lembrar as seguintes palavras de Aldous Huxley, escritor e filósofo inglês: “Os fatos não deixam de existir só porque são ignorados”. Somos o que somos, e ponto final. Sem contar que, à revelia de nossas vontades e quereres, o mundo gira e as circunstâncias, as conjunturas, os cenários, são subitamente alterados pela força enigmática do imponderável, do insólito, das incertezas. De repente, pobre hoje, rico amanhã, ou o contrário. Vai saber!

Por essas e por outras, que a Revolução Francesa permanece tão importante para a reflexão crítica global. A realidade contemporânea, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), esse ano, aponta para o fato de que “mais de 690 milhões de pessoas vivem atualmente em pobreza extrema, sobrevivendo com menos de US$ 2,15 por dia. Além disso, cerca de 2,8 bilhões, mais de um terço da população mundial, vivem com rendas entre US$ 2,15 e US$ 6,85 por dia, o que as torna extremamente vulneráveis a qualquer choque externo, como uma crise econômica ou desastre natural” 1.

Daí a necessidade de que os mesmos desvarios, irresponsabilidades, megalomanias e tiranias, vistos entre os séculos XVI e XVIII, na Europa, sejam veementemente rechaçados e combatidos, no século XXI. Como escreveu Victor Hugo, em “Os Miseráveis”, de 1862, “Destrua o buraco Ignorância e você destruirá a toupeira Crime. O único perigo social é a escuridão. (…) Humanidade é similaridade. Todos os homens são a mesma argila. Não há diferença, aqui na Terra ao menos, por predestinação. A mesma escuridão antes, a mesma carne durante, as mesmas cinzas depois. Mas a Ignorância, mesclada com a composição humana, escurece essa percepção. É assim que a Ignorância possui o coração do homem e, daí, surge o Mal”. Lembre-se: “Ser perverso não garante prosperidade”; porque, “A miséria das classes baixas é sempre maior que o espírito de fraternidade das classes altas”.