Já dizia Aldous
Huxley, “Os fatos não deixam de existir só porque são ignorados”.
Por Alessandra
Leles Rocha
A afronta do governo estadunidense
ao Brasil é totalmente descabida e inadmissível. Entretanto, uma atitude
intempestiva vinda de fora das fronteiras nacionais tem um peso próprio. Mas, o
que verdadeiramente causa asco, repulsa, aversão, é que a situação em si tenha
a participação de figuras nascidas no Brasil; mas, que abdicam da sua
identidade nacional para exercitar a subserviência em relação a outros países.
Ontem, as duas casas legislativas
federais, Câmara dos Deputados e Senado, emitiram uma nota pública a respeito da
referida afronta estadunidense. Porém, optaram por silenciar em relação ao fato
de que uma dessas figuras é, justamente, um deputado federal em situação de afastamento
voluntário, do parlamento, e cujas atividades internacionais, nos EUA,
configuram explicitamente crime de lesa pátria.
Considerando que, desde o início,
o próprio deputado, através de vídeos e entrevistas, deixou clara as razões do
seu afastamento, ao menos em tese, o que se esperaria do Congresso Nacional era
uma atitude firme e decorosa em relação a ele. Em suma, era de se esperar que ele
perdesse seu mandato parlamentar; bem como, todas prerrogativas e regalias do
cargo. Ora, nenhum dia sequer, de sua estadia nos EUA, esteve distante de
inúmeras práxis para tentar submeter o território nacional, ou parte dele, ao
domínio ou à soberania estadunidense.
Mas, não bastasse isso, o seu
irmão, Senador da República, apesar de não ter saído do país, também, exerce o
mesmo papel, a partir de manifestações públicas em redes sociais, no parlamento
e em entrevistas. O que torna a situação do Congresso Nacional, um tanto
quanto, desconfortável e constrangedora, dada a forma com a qual tem conduzido
essas condutas parlamentares.
Não, não há normalidade em
permitir que um, dois, três ou vários parlamentares façam viagens internacionais,
utilizando recursos públicos vultosos, com o propósito de afrontar
explicitamente o próprio país, difamando-o, desqualificando-o, submetendo-o à vergonha
internacional.
Sobretudo, acrescentando-se o
fato de que nesse cenário valem-se de inverdades, de distorções discursivas, de
narrativas totalmente inverídicas. Vejam, quando qualquer cidadão brasileiro
age dessa maneira, está sim, construindo uma consciência coletiva a respeito,
ainda que à revelia da concordância do restante da população.
Como parlamentar, ele é um
representante político-partidário, eleito por uma parcela de cidadãos; mas, nem
por isso, dispõe de autorização dessas pessoas para o cometimento de crimes como
é a traição à Pátria. Ora, mas é exatamente isso o que esses indivíduos estão
fazendo! Eles estão arrastando para a lama de suas declarações e comportamentos,
o imenso coletivo nacional. Fazendo parecer que o país, como um todo, os referenda
de maneira absoluta, o que não é verdade.
Por essas e por outras, o
Congresso Nacional ao carregar a obrigação exercer um papel fundamental na
definição e controle das ações do Estado, relacionadas à proteção do território
e dos interesses do país, não pode permanecer se mantendo silencioso e à margem
desses fatos extremamente graves.
Portanto, aguarda-se por uma
atitude rápida e contundente em relação a esses parlamentares, os quais estão trabalhando
em total dissonância à realidade e em prejuízo da soberania nacional. Inclusive,
considerando a importância didática que isso reverbera entre outros parlamentares
que, de maneira acintosa ou não, são apoiadores e simpatizantes de tais
atitudes deploravelmente anticidadãs.
Já dizia José Saramago, prêmio Nobel
de Literatura, em 1998, “Quando um político mente destrói a base da
democracia”. Daí a necessidade de entender que “Numa democracia, é
essencial a consciência da responsabilidade, a responsabilização daqueles que
detêm o poder e o exercem” (Karl Raimund Popper - Filósofo e professor
austro-húngaro).