A Terra é
sim, redonda!
Por
Alessandra Leles Rocha
Confesso que certas respostas
conjunturais da vida me causam uma satisfação imensa! Nos últimos dias, o
Brasil estava sob o choramingo e o descontentamento da Direita e seus matizes;
sobretudo, os mais radicais e extremistas, por conta do clamor popular, nas mídias
sociais, em relação à necessidade de se fazer justiça social, no país. O que
significa, na prática, romper definitivamente com o modelo histórico colonial
brasileiro.
Então, eis que de repente, não
mais que de repente, é esse espectro político-partidário que sofre os efeitos
diretos de uma iniciativa de recolonização contemporânea, por parte dos EUA. A carta
do presidente estadunidense ao Brasil, impondo não só uma ingerência à nossa
soberania nacional e ao Estado Democrático de Direito; mas, também uma taxação
de 50% aos produtos brasileiros, afeta diretamente os interesses de financiadores,
apoiadores e simpatizantes da Direita e seus matizes.
Quem diria, não é mesmo? A vida
cobrando o ranço colonial, imperialista, na mesma moeda! E o que é pior, com a
participação direta de elementos pertencentes à ultradireita brasileira, que
fugiram para os EUA e buscam, por lá, desempenhar um papel abjeto como
anticidadãos, antidemocratas, e principalmente, como criminosos por lesa-pátria.
Ao tentarem submeter o território nacional ao domínio ou à soberania de outro
país, eles conseguiram comprometer os interesses comerciais e econômicos brasileiros.
Bem, mas não há espanto! Essa
gente mostrou a sua cara, quando se permitiu publicamente hastear outras
bandeiras e símbolos estrangeiros, em detrimento da sua própria cidadania. Quando
abdicaram do exercício da sua identidade nacional para se tornarem sabujos dos
outros. Infelizmente, esses indivíduos padecem de uma crônica saudade em
relação aos seus tempos de Brasil colônia. Até parece, que a canção favorita
deles é “Aluga-se” 1, de
1980, escrita por Claudio Roberto e Raul Seixas! Porém, vale ressaltar que eles
se apropriariam de cada estrofe e se absteriam de qualquer crítica, presente na
canção, quanto à maneira como os recursos nacionais são explorados e a aparente
submissão do país aos interesses estrangeiros.
Agora, se alguém tinha dúvidas em
relação a isso, elas foram dissipadas. A Direita e seus matizes; sobretudo, os
mais radicais e extremistas, através da figura de sua classe político-partidária
e das elites que a financiam e apoiam, que vieram reproduzindo, ao longo de
séculos, uma condição de dependência e sujeição para as camadas inferiores da pirâmide
social brasileira, prova da mesma subserviência. Estão sob as botas tirânicas dos interesses geopolíticos
estadunidense.
Vejam, quando se pensa nas
palavras do sociólogo Darcy Ribeiro, por exemplo, de que “O Brasil, último
país a acabar com a escravidão, tem uma perversidade intrínseca na sua
herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de
descaso” 2, entende-se a
dimensão do ranço colonial arraigado e persistente, nas relações internas e
externas. A grande verdade é que as mesmas elites, ou classes dominantes, ou
baronato, que se julgam no direito de escravizar todos aqueles abaixo da sua
linha de poder, no fim das contas, são, também, escravizadas por aqueles que
estão acima na escala de poder global.
Por isso, eles estão servindo aos
interesses dos EUA, de reapropriação de seu controle e influência sobre o sul
global - África, Ásia, América Latina e Oceania -; posto que, a historicidade desses
países é marcada por experiências de colonização, desigualdade econômica e
marginalização política. A escolha por atacar o Brasil, um player importantíssimo
nessa geopolítica, então, é uma tentativa de fazer sobreviver os áureos tempos
de hegemonia estadunidense, nessa região, frente à incontestável expansão
chinesa.
Acontece que é preciso comunicar,
aos mais desavisados, que o mundo vive o século XXI. A Terra não é plana, é
redonda! Não estamos mais sobre o Colonialismo, ou o Imperialismo/Neocolonialismo,
ou a Guerra Fria. A realidade global é outra. Os cenários estruturais e
geopolíticos são outros. Não se pode esperar que a sujeição, a submissão, a
dominação, a dependência e a obediência, sejam aceitas de maneira absoluta e
passiva. Haja vista as duas guerras em curso. Há um poder supremo e
independente de um Estado sobre seu território e população, que não permite
qualquer interferência externa, que pode ser manifestado sempre que se fizer
necessário. Isso diz respeito à soberania, à ideia de autogoverno e
autodeterminação de um povo, refletindo sua capacidade de definir suas próprias
leis, políticas e rumos.
1 https://www.letras.mus.br/titas/48956/
https://www.youtube.com/watch?v=wsg75sVdnHo&list=RDwsg75sVdnHo&start_radio=1
2 “O Povo Brasileiro: A Formação e o Sentido do Brasil”, 1995.