domingo, 10 de agosto de 2025

O Bode Expiatório


O Bode Expiatório

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Você já deve ter ouvido a expressão “bode expiatório”. Ela se refere à prática de culpar uma pessoa, ou grupo, por algo negativo que aconteceu, mesmo que não seja a verdadeira responsável. É o que está acontecendo, nesse exato momento, na realidade brasileira, em relação ao Supremo Tribunal Federal (STF).

O incômodo causado pela existência de uma Corte Suprema que atua de maneira disciplinada e com o devido rigor às leis brasileiras, tem promovido a ira da ultradireita dos EUA e reverberado no governo estadunidense.

Primeiro, porque o Brasil, um país em franco desenvolvimento, é capaz de punir seus traidores e ofensores à Democracia, a partir do exímio trabalho do STF, ao contrário do que aconteceu por lá, um país de desenvolvido. O que abre precedentes para que a oposição estadunidense questione os (des)caminhos que a sua Democracia vem trilhando, nos últimos anos, e passe a exigir mudanças.

Segundo, porque é necessário aos interesses da ultradireita internacional, incluindo sua parcela nos EUA, criar elementos de grave tensão social, especialmente, no Sul Global (África, América Latina, Ásia e Oceania), para consolidar sua reapropriação imperialista.

Como já dito e repetido, diversas vezes, pelo atual governo dos EUA, eles não se furtarão em interferir nos pleitos eleitorais da América Latina, em 2025 e 2026. O que faz da rusga com o Brasil, um bode expiatório, para intimidar e inibir o exercício da soberania, por cada país da região.

Por fim, a síntese desse cabo de guerra, imposto pelos EUA ao Brasil, é frear o ideário multilateralista defendido pelos BRICS. Eles estão profundamente desconfortáveis diante da expansão da influência de países como o Brasil, a Índia, a China e a África do Sul, como foro de articulação político-diplomática de países com o Sul Global e de cooperação nas mais diversas áreas.

Afinal, durante muito tempo, esses foram territórios submetidos ao imperialismo estadunidense. De modo que esses aspectos permitem um melhor entendimento do que realmente está acontecendo na seara diplomática entre EUA e Brasil. Do mesmo modo que os estadunidenses promoveram uma série de golpes de estado na América Latina, na década de 1960, incluindo o Brasil, para firmarem a sua hegemonia imperialista nos tempos da Guerra Fria, agora, em pleno século XXI, eles tentam recurso semelhante.

Acontece que já se passaram 6 décadas e o mundo, nem de longe, é o mesmo! Haja vista que a Guerra Fria acabou, há tempos. Hoje, quem faz contraponto aos EUA é a China, desempenhando um papel central e, cada vez mais, influente no cenário geopolítico atual, sendo considerada uma potência que desafia a Ordem Mundial.

Ora, ela disputa por influência e poder em diversas áreas, como tecnologia e segurança. Além disso, a China emergiu, ao longo desse recorte temporal, como a segunda maior economia do mundo e a maior exportadora, com grande influência sobre o comércio internacional.

Por essas e por outras, considerando o contexto atual do Sul Global, a China vem desempenhando um papel multifacetado, sendo vista não só como um parceiro econômico e investidor; mas, também, como um ator político que desafia a ordem global estabelecida pelo Ocidente.

Veja, ela tem se posicionado como uma alternativa ao modelo ocidental de desenvolvimento, oferecendo financiamento e projetos de infraestrutura através de iniciativas como a Nova Rota da Seda ou Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), os quais diversos acordos já estão em curso.

Portanto, qualquer que seja o tensionamento belicoso imposto pelos EUA, ao Brasil, ou a qualquer outro país da América Latina, em nome da manutenção do seu imperialismo, parece fadado ao insucesso. Porque a China já figura como um importante parceiro comercial e investidor para muitos países do Sul Global, impulsionando o crescimento econômico e a infraestrutura em diversas regiões. E dadas as conjunturas atuais, quem trocaria o certo pelo duvidoso, tendo em vista todo o conjunto de incertezas, riscos e resultados imprevisíveis, apresentados pelos EUA? Essa é a análise a se fazer.