quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Vida. Arte. História. ...


Vida. Arte. História. ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Segundo Oscar Wilde, escritor e poeta irlandês, “A vida imita a arte muito mais do que a arte imita a vida...”. De qualquer modo, diante da aprovação da PEC da Blindagem, pela Câmara dos Deputados, não pude deixar de lembrar a cena final do filme Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro, de 2010 1 e a frase que ficou famosa: “O sistema é f***a”, porque “O sistema dá a mão pra salvar o braço”.

Depois de todo o vira-latismo manifesto por diversos representantes da ala político-partidária de Direita, agora, é a vez de se absterem do decoro, de maneira absoluta. Os pseudotiranos da Câmara dos Deputados bradam em alto e bom tom seus pseudopoderes ilimitados e a sua indisposição em se submeter às leis ou à constituição.

Bem, mas isso é só espuma! A gota d’água, que ainda está submersa nesse pântano de vergonha, diz respeito ao fato de que eles (as) não pretendem votar o Projeto da isenção do Imposto de Renda, a PEC que acaba com a escala de trabalho 6x1 e quaisquer outros assuntos que sejam de real interesse da população brasileira.  Estão entrincheirados para lutar, com todas as suas forças, apoios e simpatias, contra as demandas históricas do país.

Dentro de cada um desses deputados pulsa o ranço dos tempos em que tudo o que representava riqueza e prestígio alicerçava o poder de uma elite dominante. Haja vista o sistema político-social, vigente durante a República Velha, o coronelismo.  

Grandes proprietários de terras, os "coronéis", que controlavam a política local por meio da troca de favores (clientelismo) e da coerção violenta (como o "voto de cabresto"). O coronel atuava como um intermediário de poder, negociando com as elites políticas e garantindo votos de seus pseudoeleitores em troca de benefícios, como trabalho e proteção.

Portanto, as décadas se sucedem; mas, as velhas práxis parecem persistir na sua resistência tóxica e deletéria, em relação ao progresso e ao desenvolvimento nacional.  Isso acontece, porque esse secular arranjo social silenciou a expressão do exercício da cidadania.

De modo que esse exercício foi basicamente reduzido ao voto, quando, na verdade, ele demanda uma participação ativa dos indivíduos na sociedade, exercendo seus direitos e cumprindo seus deveres cívicos, políticos e sociais, a fim de se alcançar o desenvolvimento coletivo e a garantia de bem-estar para todos os cidadãos.

Acontece que essa visão limitada e centrada na escolha representativa, legitima a construção de uma representatividade político-partidária equivocada e distorcida. Composta por indivíduos, em sua maioria, pertencentes ao ideário político alinhado historicamente à Direita e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas.

Os quais, como se vê, estão dispostos a subverter o próprio processo que os levou ao poder, para continuar garantindo seu quinhão de regalias, de privilégios e de poderes.

Como tão bem explicou Mario Sergio Cortella, filósofo, escritor e professor brasileiro, “Ética é o conjunto de valores e princípios que nós usamos para decidir as três grandes questões da vida: ‘Quero?’, ‘Devo?’, ‘Posso?’. Tem coisa que eu quero mas não devo, tem coisa que eu devo mas não posso e tem coisa que eu posso mas não quero”. E isso é importante, porque “Agir conforme aquilo que se fala, alinhar discurso e prática, além de ser uma postura ética, é um sinal de autenticidade”; mas, principalmente, de confiabilidade, de credibilidade.

Assim, temos que admitir, o grande problema da sociedade brasileira foram os excessivos precedentes abertos ao longo da sua historicidade, mesmo diante de claras evidências de corrosão ética. Tivesse o país tomado as medidas cabíveis a cada problema emergido, os absurdos, os vexames, os desvios psicocomportamentais não teriam prosperado.

É por conta dessa normalização, dessa trivialização, expressa pela condescendência abjeta, a transigência despudorada, a fraqueza humilhante, que uns e outros passaram a se considerar acima do Bem e do Mal. Nesse sentido, como dizia José Saramago, dramaturgo, poeta, escritor português e Prêmio Nobel da Literatura, em 1988, “A única maneira de liquidar o dragão é cortar-lhe a cabeça, aparar-lhe as unhas não serve de nada”.