quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Segundo Bertolt Brecht, dramaturgo e poeta alemão do século XX, “Nada é impossível de mudar”.


Segundo Bertolt Brecht, dramaturgo e poeta alemão do século XX, “Nada é impossível de mudar”.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

O clamor popular afastou, temporariamente, a sombra da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Blindagem. No entanto, há elementos na Câmara dos Deputados, conspirando desesperadamente pela PEC da Anistia, pela não taxação dos super ricos, pela obstaculização da isenção do Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil por mês e com descontos para quem ganha até R$ 7 mil de forma escalonada a partir de 2026, pela manutenção da escala 6x1, enfim ...

Ah, isso sem contar, que já aprovaram uma flexibilização para a Lei da Ficha Limpa, uma instrução que amplia o fundo eleitoral e prevê R$ 4,9 bilhões para financiamento de campanhas em 2026, e um projeto que limita decisões monocráticas e restringe partidos que podem entrar com ações, ... Viu só?! Pois é, você deve estar se perguntando quem são esses (as) parlamentares?

Ora, são representantes político-partidários da Direita e seus matizes, que trabalham em favor de certos eleitores, simpatizantes, apoiadores e financiadores das suas ideias.

Gerações e gerações de indivíduos que se mantiveram reproduzindo o mesmo pensamento retrógrado e elitista de seus antepassados, representantes das classes dominantes dos tempos coloniais.  Gente contrária ao progresso, às transformações ou às reformas, seja no campo político, social e/ou econômico brasileiro.

São eles (as) que dizem, a torto e a direito, que o governo federal precisa conter os gastos, apertar os cintos da economia. Como se uma administração que prioriza a melhoria da condição humana da população; sobretudo, das parcelas mais frágeis e vulneráveis, sob os mais diversos aspectos, estivesse esbanjando o dinheiro público.

Um tipo de gente que teima em se esquecer, ou prefere se abster, de olhar para a historicidade nacional e admitir as desigualdades abissais e seculares que são as verdadeiras responsáveis por fazer emergir certas demandas fundamentais, no país.

Daí tantos discursos esfarrapados e abjetos proferidos por esse tipo de gente. Ora, é óbvio que eles (as) estão inconformados com a ideia de que brasileiros com renda acima de R$ 1 milhão por ano, paguem por uma alíquota de 10% de Imposto de Renda (IRPF), a fim de compensar a arrecadação. Apesar de não haver nada de anormal nessa proposta, considerando que o Brasil está entre os países mais desiguais do mundo.

Já passou da hora de corrigir distorções tão graves no sistema tributário nacional; posto que, os lucros e dividendos distribuídos são isentos e a tributação sobre a renda e o patrimônio é baixa. De modo que, sem essa taxação, tem-se um sistema que acaba concentrando mais ainda a renda nas mãos de uma ínfima parcela da população.

Mas, a mentalidade arcaica e limitada desse tipo de gente, ao invés disso, quer que o governo compense a arrecadação com cortes em áreas importantes de implantação de políticas sociais, tais como a Saúde e a Educação.

O que demonstra o seu total desprezo pelos direitos sociais previstos na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 6º; sobretudo, no que diz respeito ao desenvolvimento do país. Sim, porque são esses direitos que garantem certas prerrogativas relacionadas com condições mínimas de bem-estar social e econômico, possibilitando aos cidadãos usufruírem plenamente da sua cidadania.

Aliás, não é à toa, que eles (as) também se opõem ao fim da escala 6x1. Infelizmente, um país como o Brasil, que conviveu por 388 anos com a mão de obra escrava sendo a força motriz de suas atividades econômicas, permanece incapaz de entender a dimensão da precarização do trabalho, enquanto um conjunto de ações que ferem os direitos e a dignidade da pessoa trabalhadora, como se apresenta o discurso de certos segmentos da sociedade.

Para esse tipo de gente, jornadas longas, remuneração indevida ou ausente, instabilidade e falta de proteção social e laboral, são questões consideradas menores ou desimportantes. Acontece que o trabalho precário não só produziu insegurança e volatilidade econômica para indivíduos e lares; mas, contribuiu para a crescente desigualdade econômica, no país.

Eles (as) se abstêm de compreender que a desigualdade econômica gera impactos que vão muito além do aumento da pobreza e da fome, da criminalidade e da violência, os quais, por si só, já estabelecem uma disparidade na qualidade de vida do trabalhador, afetando a sua saúde física e mental de maneira bastante severa, a tal ponto de prejudicá-lo quanto às suas oportunidades de desenvolvimento pessoal e social.

Sim, a desigualdade prejudica significativamente o desenvolvimento econômico das classes dominantes. Afinal de contas, a concentração de renda nas mãos de poucos e a limitação do poder de compra da maioria da população de baixa e média renda deprime o consumo e, por consequência, a demanda agregada, ou seja, isso freia o crescimento econômico do país.

Nesse sentido, uma alta desigualdade econômica não é um sinal de uma economia forte, mas sim um obstáculo ao desenvolvimento sustentável, pois afeta a base da pirâmide social e econômica, que são os consumidores e os trabalhadores que deveriam ter acesso às oportunidades.

Então, não se engane, caro (a) leitor (a)! O curso histórico de legislar em causa própria, por certos elementos do Congresso brasileiro permanece vivo, mesmo diante da recente e péssima repercussão nacional e internacional.

Eles (as) insistem nessa queda de braços com o eleitor, desvirtuando-se dos fins objetivados por lei, para o exercício da função parlamentar, para dedicarem-se a promover seus fins particulares ou de terceiros.

Algo que não se pode negar, margeia a ilicitude! Afinal, isso é sim, abuso de poder! Especialmente, considerando todos os encargos ou prerrogativas constitucionais recebidos por esse tipo de gente.

Assim, é preciso que o clamor popular fale mais alto, mais claro. Como disse Darcy Ribeiro, antropólogo, historiador, sociólogo, escritor e político brasileiro, “A coisa mais importante para os brasileiros é inventar o Brasil que nós queremos”.

E para tal é preciso soltar a voz, agir de uma forma disruptiva, interrompendo e revolucionando o curso vigente desse ideário da Direita brasileira e seus matizes, que os faz acreditar que são donos do Brasil.

O fato de serem deputados e senadores da República, essa pequena elite que ocupa posições de considerável poder, possibilitando-os influenciar e manipular a vida de indivíduos comuns, segundo seus próprios interesses, não os legitima a se apropriar desse pensamento retrógrado, colonialista, de propriedade.

O Brasil é bem mais do que o topo da pirâmide social. O Brasil é, na verdade, de todos os seus cidadãos; mas, particularmente, de 99% deles, que há pouco mais de 500 anos, pagam diariamente o preço da concentração desigual da renda, do abuso de poder, da discriminação sob diferentes formas, ..., enfim, do ranço colonial herdado.

Portanto, não nos esqueçamos as palavras de Bertolt Brecht, dramaturgo e poeta alemão do século XX, “Nada é impossível de mudar. Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar”.