sábado, 13 de maio de 2017

"Quando eu tinha 5 anos, minha mãe sempre me disse que a felicidade era a chave para a vida. Quando eu fui para a escola, me perguntaram o que eu queria ser quando crescesse. Eu escrevi “feliz”. Eles me disseram que eu não entendi a pergunta, e eu lhes disse que eles não entendiam a vida". John Lennon

Ressignificando o Dia das Mães


Por Alessandra Leles Rocha


Apesar do viés consumista imposto pelo capitalismo, na verdade a escolha de determinadas datas para se comemorar não é tão nocivo quanto parece. Infelizmente, a sociedade contemporânea tem dado sinais cada vez mais claros da necessidade de elucidação do óbvio, ou seja, nem sempre o que está diante do nariz é tão perceptível assim, precisa ser meticulosamente explicado. É por essas e por outras que convido os meus leitores a pensarem, com carinho e respeito, sobre a celebração do segundo domingo de maio, ou apenas, o Dia das Mães.
Não quero com esse convite, fazê-los cair na tentação da reafirmação do discurso sacerdotal e missionário das mães, como se essas fossem seres iluminados e predestinados a viver a plenitude do desassossego em nome do servir e amar os filhos. Ao contrário, gostaria de colaborar com uma reflexão que ressignificasse essa relação biológica e comportamental dos seres humanos. Afinal de contas, andamos meio desligados no que diz respeito a conviver e coexistir com nossos pares e, nada melhor, para retomarmos essa compreensão do que partir da reflexão em torno da primeira relação que estabelecemos ao chegar nesse mundo. É, porque se nascemos de um ovo, esse ficou guardadinho, se desenvolvendo meses a fio, no ventre de uma mãe.
Nesses milhões de anos que contam a vida sobre o planeta Terra, o ser humano se transformou muito e foi aprendendo, em maior ou em menor escala, a domar a sua essência primitiva. Demos saltos significativos nesse campo do comportamento e das relações, que não podem ser esquecidos; mas, com o desenvolvimento da ciência e da tecnologia fomos nos esquecendo lentamente da nossa humanidade e nos fechando para dentro de nós mesmos e de toda a parafernália high tech disponível.
Analogamente, isso significa algo como deixarmos de lavar bem as mãos porque a ciência nos proveu antibióticos e outros recursos; mesmo sabendo que as práticas tradicionais de higiene sempre serão mais importantes para a prevenção de doenças e epidemias. Entende? Temos superficializado nossas relações humanas, a tal ponto (tecnológico), que estamos desaprendendo o exercício da existência social em família, com os amigos, no ambiente de trabalho, enfim... Entre nós e os outros há sempre uma máquina a fazer a mediação. Inclusive, nas relações maternais.
Parece que roubaram o tempo de mães e filhos. Desde o início da relação entre eles, uma agenda lotada de compromissos e afazeres vai dilapidando os minutos preciosos. No máximo seis meses de licença maternidade, quando o emprego permite. A vida tumultuada nos grandes centros urbanos, que afasta ao invés de aproximar... No fim, o que resta são momentos, domingos, feriados de vez em quando. Nossas relações idealizadas acabam por se converterem em possíveis realidades, limitadas pelos caracteres da tecnologia, pelos emoticons, emojis e afins.
Enquanto o mundo envelhece não nos damos mais o direito de presenciar a vida acontecer na sua mais plena naturalidade, com mães e filhos sendo o que são e tecendo suas relações; curtindo na prática as aventuras e as desventuras de seus conflitos de geração. Porque isso é fundamental se tivermos a pretensão de permanecermos seres verdadeiramente sociais. As grandes lições começam em casa; porque não dizer, na barra da saia da mãe.
É na carência dessas experiências tão simples, tão normais, que estamos edificando uma sociedade conflitada, incapaz de conviver e coexistir com as diferenças mais elementares do ser humano, sem orientação para consolidar os próprios valores, sempre em busca de encontrar um reflexo de si mesmo, quando sabemos ser impossível.
Por tudo isso é que precisamos urgentemente restabelecer contato. Então, que tal usar esse “Dia das Mães” para começar? Descubra que ele pode ser todo dia, toda hora, todo minuto. Descubra quem é essa mulher que compartilha o mundo com você. Descubra o prazer de seus abraços, afagos, olhares... Descubra os mistérios de seus conselhos, de suas arbitrariedades, de suas falas inusitadas... Descubra quem você é ou pode vir a ser apenas observando quem é ela; pois, para muitos, 50% do DNA são de quem? Mas para isso é imprescindível estar perto, estar junto, estar atento, estar. Não se esqueça, se ela pensasse que ter um filho seria perda de tempo, você não estaria aqui.