Eu amo, tu amas...
Por Alessandra Leles Rocha
Em um mês que se agrupam tantas datas comemorativas – dia do amigo, dia do índio, Páscoa – a mente não pode deixar de conectar as entrelinhas de todas elas. Sem querer descobrimos que por detrás de todas encontra-se o amor, vestido de formas diferentes pelo contexto; mas, ainda sim, o amor.
Dizem os poetas, os escritores, os letrados em geral, que não há amor maior do que a amizade. Amigos fluem naturalmente nos encontros da vida e tecem na simplicidade dos gestos e das emoções os fios de uma longa de história. Amigo de verdade, de tempos de chuva e sol, não passa escritura e nem delimitam exigências; são amigos e isso é mais do que suficiente. Como bem disse Aristóteles, “A amizade é uma alma com dois corpos” 1.
Quando nos colocamos em contemplação ao modo de ser, agir e pensar do indígena encontramos o amor na sua genuína pureza. Tudo que ele quer é comungar com a natureza sem desafio ou imposição; ele ama a Terra e tudo mais que nela habita. Sem muitas palavras, sem grandes manifestações, seu amor se reflete na extensão de todo o seu existir.
E a Páscoa, seja ela cristã ou judaica, fala a todos nós do amor libertador, do amor que restaura e nos transforma em seres melhores ao mundo. O amor que se renova nessa aliança que fazemos com nossa fé e nossa crença no Criador nos permite seguir adiante e firmes nas promessas e esperanças em dias mais fraternos e pacíficos.
Tanta ênfase em torno do mais sublime de todos os sentimentos não é obra do acaso! É a necessidade urgente que pulsa e se propaga pelo ar, alheia a nossa própria consciência e ação, para que recobremos os sentidos e nos convertamos à reflexão sobre o que tem faltado no mundo a ponto de torná-lo tão caótico e frio. Entre resmungos e choramingos, desesperos e impaciências, poucos se curvaram a rendição genuflexa ao amor.
Pretextos variados não faltam: ausência de tempo, sobrecarga de atribuições e compromissos, a modernidade,... como se o amor não estivesse intrínseco dentro da própria alma e dependesse de inúmeras variáveis exteriores. Amor é amor por si só. O modo, a intensidade, a expressão é que denota os diferentes graus de afinidade e convivência com os semelhantes; mas, em cada ação que promovemos no nosso dia ele está indubitavelmente presente. No sorriso silencioso aos passantes na rua, no bom dia ao jornaleiro, na informação prestada ao carteiro, no atendimento solícito da caixa do supermercado, no condutor que para o veículo para que você possa passar em segurança,... são tantas as manifestações de amor e, infelizmente, não as temos reconhecido dessa forma. Amor da gentileza, amor da tolerância, amor da comunhão, amor da simpatia, amor da simplicidade, amor da liberdade, amor da igualdade, amor... amor... amor...
O pior é perceber que estamos destruindo o amor a partir de nós mesmos. Temos deixado de nos amar como seres humanos. Vivemos em total insatisfação com a nossa imagem, em grande parte porque não conseguimos mais extrair a beleza da nossa própria essência. Preterimos exercer o nosso amor próprio para esperar que o mundo seja capaz de nos amar como precisamos; muitas vezes, chegando ao limite de preterir esse amor também. Desenvolvemos uma forma estranha de amar que tende fazê-la dedicar-se mais ao TER do que ao SER; por isso, nosso amor parece tão doente, tão desorientado, tão triste.
Quaisquer tentativas de sustentar opinião contrária sobre os desígnios óbvios do amor é pura ignorância ou vontade de permanecer sangrando no lodo da desumanidade. Abril ainda não findou e o ano muito menos! Enquanto as diminutas partículas de areia do tempo estiverem em movimento, que ainda estivermos vivos, todas as oportunidades para curar e restaurar o amor estarão disponíveis, basta tão somente a nossa vontade, o nosso querer. São muitos os apelos, os chamamentos para que entreguemos de vez as armas, para que derrubemos as muralhas visíveis e invisíveis, para que retiremos da fronte as vendas e as mordaças e nos lancemos a esse bálsamo de purificação e paz, o detentor dos caminhos mais curtos para o que costumam chamar de felicidade.