O jogo
acabou (Game Over)
Por Alessandra
Leles Rocha
Cartas sobre a mesa. Qual o jogo?
Para surpresa geral, a Direita nacional e seus matizes resolveu
hastear a bandeira da sua herança colonial. Depois de pouco mais de 500 anos de
história, agora, todos estão sabendo que as elites brasileiras não aceitam corrigir
os abismos da distribuição de renda, não aceitam uma Proposta de Emenda Constitucional
que acabe com a escala de trabalho 6x1, não aceitam o Projeto de Lei (PL nº
1087/25) que eleva a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil
por mês, ... Enfim, não aceitam qualquer iniciativa governamental que tenha um viés
progressista. Em linhas gerais, esses indivíduos não querem o Brasil flertando
com um futuro considerado mais justo e igualitário.
Mas, é fundamental esclarecer quem
são essas pessoas. Bem, ainda que a Direita nacional e
seus matizes se faça representada por membros do referido espectro político-partidário,
ela ainda conta com apoiadores e simpatizantes. No entanto, quem manda e desmanda,
no país, assim como ocorria nos tempos coloniais, é uma ínfima parcela do seu
coletivo, que diz respeito à 0,06% da população brasileira. Banqueiros. Investidores
do mercado financeiro. Industriais. Representantes do agronegócio tipo
exportação. Empresários do ramo de apostas esportivas. ... Gente que ocupa o topo da pirâmide social
e vive à margem dos problemas cotidianos enfrentados pela grande massa da
população.
Não é à toa que o Brasil continue
reproduzindo as mazelas dos seus tempos coloniais, ou seja, exploração de
fauna, flora e recursos minerais; desigualdade social, a partir da exploração econômica
e da concentração de renda pelas elites; trabalho análogo à escravidão; violências
diversas contra minorias – racismo, xenofobia, misoginia, intolerância religiosa,
dentre outros exemplos. Por essas e por outras, que o país esteve à beira de um
novo Golpe de Estado, o qual foi gestado entre 2019 e 2022, tendo o seu ápice na
depredação histórica das sedes dos Poderes da República, em 08 de janeiro de
2023. O que o Brasil e o mundo assistiram foi a explosão do inconformismo dessa
gente diante da eleição de um governo, cuja pauta sempre foi a busca pelo
enfretamento às desigualdades, às injustiças e a promoção do progresso e do
desenvolvimento em diversas áreas.
Pois é, a Direita nacional e seus
matizes não só vive presa ao passado colonial brasileiro, como aceita
passivamente permanecer vivendo sob o jugo do imperialismo, o qual, inclusive,
possibilitou o Golpe Militar em 1964. Ora, isso acontece porque, para os 0,06%
da população brasileira que detêm os poderes nas mãos, não há risco à
manutenção de suas influencias, regalias e privilégios. Não há, da sua parte,
qualquer preocupação com o restante da população. Para eles, as demais camadas
da pirâmide social são vistas como objetos. Assim, elas são desvalorizadas e usadas
como um meio para atingir os seus objetivos, sem levar em conta os próprios
interesses. De modo que tal objetificação social significa o mais pleno
desrespeito à dignidade humana.
É uma pena que Cazuza não esteja
vivo para ver o Brasil mostrar a sua cara, exatamente como ele escreveu, com
perfeição, na década de 80 1! O
mundo rodopiou, girou, deu cambalhotas; mas, finalmente, as verdades indigestas
foram regurgitadas pela Direita e seus matizes, no Congresso Nacional. Então,
para comemorar esse feito histórico, penso que é preciso ler e reler, muitas
vezes, o poema “Os Estatutos do Homem" 2,
de Thiago de Mello, publicado em 1964. Afinal, naquelas palavras encontra-se
uma defesa clara de certos valores, tais como a liberdade, esperança, alegria e
paz, os quais nos fazem entender o que significa, então, um país justo,
fraterno e solidário.
1 Brasil
- Cazuza (1988) / Composição: Nilo Romero / George Israel / Cazuza. https://www.youtube.com/watch?v=BpfhRnjRvcY&list=RDBpfhRnjRvcY&start_radio=1