sexta-feira, 9 de maio de 2025

Habemus Papam

Habemus Papam

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Habemus Papam. Depois de um trabalho de pouco mais de uma década, realizado pelo Papa Francisco, no sentido de promover um alinhamento da Santa Sé a algumas demandas contemporâneas, Leão XIV acena com a continuidade desse movimento. No entanto, muito se falou, nos últimos dias, a respeito das divergências ideológicas existentes dentro da Igreja, por conta de certas mudanças promovidas por Francisco.

De modo que me coloquei a refletir a respeito. Bem, divergências fazem parte da vida e estão em todos os lugares, em todos os tempos. Contudo, não há como se construir um senso comum dentro dos muros do Vaticano, tendo em vista que, do lado de fora deles, o mundo transita pela efervescência das transformações e das pluralidades.

Isso porque a Igreja, enquanto corpo social organizado e instituído por Jesus Cristo, exerce o papel fundamental de trazer alento, solidariedade e orientação aos seus seguidores. Portanto, seus ensinamentos, pautados nos princípios da ética cristã, precisam transmitir significado e significância ajustados às demandas manifestas por seus fiéis. Em pleno século XXI, não há como a Igreja se enclausurar em si mesma, mantendo a sua base teológica alheia à evolução social.

E ao se colocar disposto a seguir o caminho de Francisco, Leão XIV dá sinais de compreender exatamente esse cenário. Formado pelos valores fundamentais da Ordem Agostiniana, ou seja, a interioridade, a verdade, a liberdade, a amizade, a comunidade e a justiça solidária, o novo Papa emana um sentimento de grande esperança, para o mundo.

Temos que concordar que a realidade contemporânea tem se mostrado oposta a tais valores. Pela tríade do individualismo, do narcisismo e do egoísmo, o planeta parece entregue às mais diversas expressões da beligerância, da desumanidade, do desrespeito, da desunião, ... Nem de longe, nos assemelhamos a uma vivência em comunidade universal de irmãos.

Daí a importância de uma Igreja que tenha em si a genuína disposição ao diálogo, dentro e fora de seus muros. Afinal, muitas das mazelas do mundo são comuns a todos os viventes – desigualdades, fome, doenças, guerras, violências, preconceitos -, algo que aponta para a busca de soluções conjuntas através do diálogo interreligioso e interinstitucional. Como disse Santo Agostinho, “O mundo é um livro, e quem fica sentado em casa lê somente uma página”; por isso, a práxis da fé precisa estar sempre em contínuo serviço.

É com base nessas perspectivas e expectativas, que milhões de pessoas estiveram unidas na Praça de São Pedro, nas últimas semanas. Impulsionadas pelo sentimento esperançoso de continuidade dos trabalhos de Francisco. E não foi uma manifestação estritamente católica. Foi uma manifestação da diversidade e da pluralidade ecumênica, em nome da preservação de valores e de princípios humanos.

Que Leão XIV seja, de fato, um arauto de transformação; mas, sobretudo, da conscientização de que “Se você crê somente naquilo que gosta no evangelho e rejeita o que não gosta, não é no evangelho que você crê, mas, sim, em si mesmo” (Santo Agostinho). Esse é, então, o ponto de partida para que a interioridade, a verdade, a liberdade, a amizade, a comunidade e a justiça solidária, ultrapassem a fronteira da esperança e se tornem a realidade factual almejada por Cristo.


quinta-feira, 8 de maio de 2025

A simbologia da podridão


A simbologia da podridão

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Não adianta negar! Infelizmente, estamos diante do apodrecimento do Legislativo federal. Eleitos como representantes da população para defender suas demandas, muitas delas históricas, eles se prestam ao papel abjeto e constrangedor de ocupar seu tempo afrontando a Carta Magna do país.

Dos 513 deputados que compõem a Câmara, 315 reafirmaram os acontecimentos antidemocráticos golpistas, que culminaram no 08 de janeiro de 2023, votando pela suspensão da ação penal, em curso no Supremo Tribunal Federal (STF), relativa aos crimes de tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Simbolicamente, o voto desses deputados significa a legitimação de tais crimes.

Apesar de todos os pesares, um fato merece destaque. Agora, diante do número concreto de 315, que votaram a favor da Resolução 18/25, se conhece quem está alinhado às pautas defendidas pelo ideário Direitista nacional e se propõe a atuar de maneira ANTICIDADÃ, ANTIDEMOCRÁTICA, ANTI-INSTITUCIONAL. Na medida em que, diante de tal votação, revelaram o caráter vil do uso do voto dos eleitores que os elegeram. 

No entanto, é importante esclarecer que tamanho absurdo decorrente dessa votação é INCONSTITUCIONAL. O próprio presidente da 1ª Turma do STF, onde correm as ações relativas aos crimes de tentativa de golpe de Estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, já havia feito o alerta formal a respeito, para o Presidente da referida casa legislativa. Mas, a sanha em tumultuar e promover um discurso paralelo equivocado, junto aos seus apoiadores e simpatizantes, falou mais alto. Afinal, a ideia de fomentar um embate constante contra a Suprema Corte é o grande objetivo desses deputados.

Por quê? Porque o STF tem sido o mantenedor da segurança jurídica, no país, ao defender o ordenamento estabelecido pela Constituição Federal. Ora, isso esbarra diretamente nos interesses, nas regalias e nos privilégios do corpo político-partidário ligado à Direita e seus matizes, mais ou menos radicais e extremistas. Eles se julgam uma casta superior, legitimada historicamente a agir, segundo suas próprias vontades e quereres, sem precisar se submeter ao que determina a legislação nacional. De modo que o STF representa um obstáculo tanto às suas tentativas de flexibilização das normas jurídicas quanto às suas constantes manifestações de inação no papel legislativo.  

É lamentável, que eles não se importem em gastar o tempo fomentando polêmicas e caos na Câmara dos Deputados, enquanto assuntos realmente importantes deveriam estar sendo tratados. Mas, como já tive oportunidade de escrever anteriormente, isso acontece para “assegurar a continuidade da assimetria da organização social brasileira, para que possam permanecer exercendo plenamente seus interesses e poderes”1 .

Queiram ou não admitir, as classes dominantes nacionais ligadas diretamente à Direita e seus matizes, mais ou menos radicais e extremistas, fazem dos espaços de poder uma extensão das suas propriedades, a partir de apoios e recursos de campanha. Então, basta que se sintam desconfortáveis, com essa ou aquela decisão do Judiciário, para que façam de seus legisladores, instrumentos de contestação.

Daí a necessidade de atenção ao que é disseminado pelas mídias sociais. Como escreveu George Orwell, “A linguagem política destina-se a fazer com que a mentira soe como verdade e o crime se torne respeitável, bem como a imprimir ao vento uma aparência de solidez” 2. Afinal, “Toda propaganda de guerra, toda a gritaria, as mentiras e o ódio, vem invariavelmente das pessoas que não estão lutando” (George Orwell).

Por isso, antes de permanecer repetindo as velhas práxis, lembre-se da seguinte metáfora: “Se os porcos pudessem votar, o homem com o balde de comida seria eleito sempre, não importa quantos porcos ele já tenha abatido no recinto ao lado” (Orson Scott Card - escritor de ficção científica e fantasia estadunidense).



2 ORWELL, G. Politics and the English Language. A Collection of Essays Nova York, Doubleday, 1954. 

quarta-feira, 7 de maio de 2025

O golpe da anistia


O golpe da anistia

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

A historicidade brasileira conhece bem o significado da anistia; mas, a grande massa da população não conhece. Todas as tentativas golpistas no Brasil tiveram o papel fundamental das elites burguesas, sustentadas pelo que se pode dizer, uma ideologia de Direita, em todas as suas gradações de formas e conteúdos.

De modo que a ideia de golpe sempre significou um instrumento de ruptura com as normas jurídicas vigentes, para assegurar os interesses e os poderes das classes dominantes nacionais, a fim de que pudessem continuar exercendo o seu controle sobre as camadas mais desprivilegiadas da população, sem nenhum risco de insurreição por parte delas.

Afinal, de acordo com o escritor e jornalista uruguaio, Eduardo Galeano, “Em certo sentido, a direita tem razão quando se identifica com a tranquilidade e com a ordem. A ordem é a diuturna humilhação das maiorias, mas sempre é uma ordem - a tranquilidade de que a injustiça siga sendo injusta e a fome faminta”.

Então, por que o golpismo no Brasil, sempre, foi anistiado? Em razão da assimetria da organização social brasileira, ou seja, uma ínfima parcela composta pelas classes dominantes e uma gigantesca parcela composta pela subdivisão de classes dominadas. Porque essa assimetria define quem tem o poder, em todas as suas formas, incluindo a construção e a execução das normas jurídicas. Portanto, as classes dominantes nunca dispuseram da intenção de se autopunir.

Acontece que o mundo gira e as transformações são inevitáveis, impossibilitando de caber, nos novos contextos, as velhas e rotas práxis. O Brasil do século XXI, na tentativa de realinhar a sua rota ética, a partir do conjunto de acontecimentos antidemocráticos que culminaram no 08 de janeiro de 2023, decidiu reconstruir seus paradigmas e punir todos aqueles que se puseram a atentar contra a ordem consagrada pelo Estado Democrático de Direito.

Daí o desespero das classes dominantes pela busca de mais uma anistia. A grande verdade é que tal proposta não visa simplesmente apagar ou invisibilizar o conjunto de acontecimentos antidemocráticos; mas, assegurar a continuidade da assimetria da organização social brasileira, para que possam permanecer exercendo plenamente seus interesses e poderes. O que em linhas gerais, não dista de uma natureza política autoritária, a qual, em tese, coloca a nação e o Estado acima dos direitos individuais, valendo-se de uma visão de mundo que enfatiza a ordem e a tradição.

Dentro desse cenário, as discussões que correm pelos corredores da capital federal, sobre a possibilidade de anistia, desnudam a indigesta realidade rançosa da historicidade colonial brasileira. As classes dominantes não admitem a ideia de uma reorganização social, que esteja alinhada às demandas da contemporaneidade. Seu inconsciente foi tomado pela convicção de que são herdeiros diretos daqueles que detinham o poder e a influência, nos tempos coloniais. De modo que a última palavra, nas decisões do país, lhes pertence.

Segundo o escritor Paulo Coelho, “Nós sempre temos tendência de ver coisas que não existem, e ficar cegos para as grandes lições que estão diante de nossos olhos”. A proposta da anistia significa exatamente isso, ficarmos cegos para as grandes lições que estão diante de nossos olhos.

Acontece que essa cegueira representa a trilha do aprofundamento do nosso atraso, sob diferentes aspectos. Fingir que nada aconteceu. Cobrir os fatos com um véu de esquecimento. Guardar a memória em um baú. ... A história fica mal contada, inconclusiva, incompleta. Com pleno potencial de se repetir.

Diante dessa breve reflexão, lembre-se: “Qualquer pessoa pode errar; mas ninguém que não seja tolo persiste no erro” (Cícero - orador, escritor, estadista romano). Como escreveu Eduardo Galeano, “Até que os leões tenham seus próprios historiadores, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador”. Infelizmente, foi essa a lição que as anistias imprimiram ao Brasil, até aqui. Daí a necessidade da mudança.


terça-feira, 6 de maio de 2025

Um passo para a frente e dez passos para trás


Um passo para a frente e dez passos para trás

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

O professor, escritor, jornalista e importante geógrafo brasileiro, Milton Santos, escreveu: “A força da alienação vem dessa fragilidade dos indivíduos, quando apenas conseguem identificar o que os separa e não o que os une”. Verdade! Mas, o que explica esse comportamento é o velho ranço do Brasil colonial, enraizado no inconsciente coletivo, há pouco mais de 500 anos.

No qual as atuais alas burguesas se sentem herdeiras diretas da antiga sociedade patriarcal e latifundiária, dividida em classes sociais, com senhores de engenho e grandes proprietários de terras na elite, e escravos na base. Enquanto, o restante da pirâmide social se sente herdeiro direto da massa escravizada e largada à mercê da própria sorte.

Portanto, há uma franca dificuldade em se estabelecer um ponto de convergência para a construção de uma identidade nacional. O modo de se perceber e entender brasileiro, dentro dessa realidade, é muito díspare, por conta dos muros de desigualdade historicamente erguidos.

E nessa história de “cada um no seu quadrado” me deparei com duas notícias para tecer uma reflexão. “O que se sabe até agora sobre plano de ataque a bomba no show da Lady Gaga” 1 e “Brasil sobe cinco posições no ranking do IDH e está na 84ª colocação” 2. É preciso despir o processo civilizatório nacional, de maneira profunda e honesta.

Atos terroristas sempre estiveram presentes nas páginas da história, em todo o mundo. Entre os anos de 1970 e 1990, por exemplo, grupos como RAF (Fração do Exército Vermelho, na Alemanha), ETA (grupo nacionalista basco, na Espanha), IRA (Exército Republicano Irlandês) e Brigadas Vermelhas (na Itália) espalharam o terror pelo continente europeu.

Mas, o Brasil, não esteve à margem dessa violência, também. Na noite de 30 de abril de 1981, durante um show comemorativo ao Dia do Trabalho, no Riocentro, no Rio de Janeiro, houve um atentado terrorista com o objetivo de incriminar grupos que se opunham à ditadura militar no país. Queriam justificar a necessidade de retardar a abertura política em andamento.

Em 2022, militantes da ultradireita brasileira tentaram explodir o aeroporto de Brasília, na véspera de Natal. Por sorte, o plano foi descoberto e nada pior aconteceu. Mas, em novembro de 2024, outro atentado ocorreu na Praça dos Três Poderes, em Brasília, nas proximidades do Supremo Tribunal Federal (STF). Um homem-bomba agiu sozinho, lançando duas bombas contra o prédio do STF. A primeira falhou, mas a segunda detonou, espalhando fragmentos no local. Já a terceira, ele acendeu e se deitou sobre ela, causando a própria morte.

De modo que a resultante dos episódios brasileiros de terrorismo são sempre atravessados pelos pretextos do ódio historicamente tecido pela Direita e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas. Esses indivíduos nutrem um sentimento secular de propriedade e poder em relação ao país, que os coloca em total oposição aos valores democráticos e a consolidação de um senso comum de nação, capaz de permitir a todos os cidadãos desfrutarem dos seus direitos e deveres, com paz e dignidade social.

Haja vista a notícia do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). O Brasil saiu da 89ª para a 84ª colocação entre 193 nações avaliadas, com base nas três dimensões: expectativa de vida, acesso à educação e renda per capita, as quais compõem o IDH. Tal avanço diz respeito a melhoria do país em termos de aumento da renda nacional bruta per capita e à recuperação nos indicadores de saúde, após os impactos da pandemia de Covid-19. No entanto, o desempenho na área de educação continua estagnado.

Bem, os avanços no IDH sempre representam um desafio ao Brasil, justamente pela histórica oposição de forças realizada pela Direita e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas, a qual acontece por meio de seus representantes, aliados e simpatizantes, dentro e fora do Congresso Nacional. A dificuldade de implementação de medidas e de políticas públicas voltadas ao avanço do país, em termos de sociedade, está diretamente associada ao pensamento retrógrado desse segmento político-partidário. Em suma, eles defendem a sobreposição dos direitos individuais aos coletivos, a defesa dos valores tradicionais e religiosos, a liberdade econômica e a propriedade privada.

Afinal, eles não querem, em hipótese alguma, a mitigação dos impactos causados pelas desigualdades secularmente impostas ao Brasil; pois, isso contraria os seus interesses, no que diz respeito à manutenção de seus poderes, regalias e privilégios. Basta observar como a atual distribuição representativa do Congresso Nacional, composta majoritariamente por indivíduos da Direita e seus matizes, tem trabalhado ferrenhamente contra os projetos do Executivo federal, que lançam um olhar progressista, ou seja, mais humano, mais justo e solidário, sobre o país.  

Por essas e por outras, que estamos sempre dando um passo para a frente e dez passos para trás, quando o assunto é o processo civilizatório nacional. O Brasil ainda não encontrou o seu ponto de convergência cidadão; por isso, ele caminha sem coesão e sem coerência, na medida em que seus protagonistas não se sentem representantes de uma mesma identidade. Como tão bem explicou Darcy Ribeiro, “O Brasil, último país a acabar com a escravidão, tem uma perversidade intrínseca na sua herança, que torna a nossa classe dominante enferma de desigualdade, de descaso” 3; razão pela qual, “A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto”.

sexta-feira, 2 de maio de 2025

INSS ...


INSS...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Há 35 anos, o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) foi criado, a partir da fusão do Instituto de Administração Financeira da Previdência e Assistência Social (IAPAS) e do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS), para unificar a administração da previdência social no Brasil.

Seja em razão das inúmeras reclamações quanto à sua ineficiência e morosidade, ou em razão de escândalos gravíssimos sobre desvios de recursos, é uma pena que um órgão voltado a atender, principalmente, as parcelas mais frágeis e vulneráveis da população brasileira, tenha se tornado objeto da cobiça e da corrupção nacional.

Inclusive, a maior fraude ocorrida contra a Previdência Social, teve como responsável uma ex-advogada e procuradora previdenciária. Em 1992, ela foi condenada por organização criminosa de um esquema de desvio de verbas de aposentadorias estimado US$ 500 milhões, segundo a Procuradoria-Geral do INSS. Algo que foi retificado pela Advocacia-Geral da União, quando afirmou que a fraude foi de aproximadamente R$ 2 bilhões 1.

Em relação à ineficiência e morosidade, os casos são diversos e só fazem se proliferar. O próprio INSS admite a existência de um gargalo nos atendimentos; sobretudo, em razão de recorrentes greves do seu funcionalismo, as quais interrompem o fluxo dos processos junto à população. Aliás, em 2019, o governo brasileiro planejou contratar, temporariamente, cerca de 7.000 militares da reserva para auxiliar no atendimento do INSS com o objetivo de mitigar tais pendências, de modo que houvesse a liberação dos servidores de carreira para se concentrarem na análise dos pedidos de benefícios 2.

Como inúmeras outras situações no país, as fusões nem sempre correspondem a solução de problemas institucionais. O caso do INSS, por exemplo, há um flagrante desarranjo estrutural, o qual precisa ser enfrentado de maneira objetiva e não, utilizando-se medidas paliativas.  Trata-se de um órgão extremamente complexo e que precisa de funcionários qualificados e muito bem treinados para fazê-lo fluir na sua dinâmica. Caso contrário, tanto a ineficiência e a morosidade quanto os desvios de recursos persistirão ocorrendo.

O recente escândalo revelado por investigações da Polícia Federal (PF) é prova cabal a respeito 3. Segundo o relatório divulgado, o novo esquema de fraudes apontou que associações ofereciam serviços aos aposentados; no entanto, estavam cadastrando pessoas sem autorização, com assinaturas falsas, para descontar mensalidades dos benefícios pagos pelo INSS. A situação é tão grave que, em muitos casos, os beneficiados sequer sabiam que seus dados estavam sendo utilizados. Informações preliminares dão conta de que o prejuízo pode chegar a R$ 6,3 bilhões entre 2019 e 2024.

Mais uma vez, não há como negar a influência nefasta do ranço histórico colonial sobre o Brasil contemporâneo. Por conta de modelos e padrões burocráticos, os quais obstaculizam os processos de controle e de fiscalização necessários, que os atalhos para a corrupção se abrem. É nessa rota de enfrentamento que o governo precisa ser mais firme e objetivo, a fim de evitar que dissabores gravíssimos se arrastem por décadas, sob o silêncio de certos membros do funcionalismo dispostos a assegurar a perpetuação de tais práxis abjetas.

Aliás, é importantíssimo ressaltar, como os traços da fragilidade identitária cidadã são marcas constantes na historicidade dos episódios da corrupção nacional. Esse constante uso indevido do poder, com o objetivo de obter vantagens pessoais, denominado como corrupção, parece incorporado ao inconsciente coletivo. A tal ponto que certos indivíduos se abstêm, por completo, do exercício natural da compreensão de seus direitos e deveres como elemento fundamental na construção de um país mais justo e igualitário, da defesa dos direitos humanos e da responsabilidade social.