quarta-feira, 29 de outubro de 2025

E o golpismo continua ...


E o golpismo continua ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Não dá para dissociar os fatos; pois, como já dizia Mahatma Gandhi, “Um homem não pode fazer o certo numa área da vida, enquanto está ocupado em fazer o errado em outra. A vida é um todo indivisível”. Por isso, apesar do calor das emoções, a reflexão atual demanda essa consciência para ser bem-sucedida.

Longe de qualquer surpresa, já era de conhecimento público que, mais uma vez na história brasileira, a bandeira da “segurança pública” figuraria com destaque durante a disputa eleitoral de 2026. Pena, que isso tenha ocorrido mediante profunda barbárie.  

Mas, se engana quem pensa que é só no Brasil. Na verdade, como é de costume da ultradireita, com ou sem o apoio dos demais matizes direitistas, a apropriação de pautas flagrantemente polêmicas, como é o caso da criminalidade e do tráfico de drogas e outros ilícitos, tem se disseminado mundo afora, frequentemente associada a uma postura antidemocrática e com risco de erosão das liberdades individuais.

Entretanto, a beligerância da operação policial, que ocorreu, ontem, no Rio de Janeiro, me parece ir além, como uma vertente do golpismo que tenta tomar de assalto o país. Sendo que uma das estratégias utilizadas pela ultradireita é se opor às leis vigentes de maneiras que desafiam os princípios democráticos e do Estado de Direito. De modo que essa oposição tem se manifestado em discursos, estratégias políticas e até em ações que questionam ou deslegitimam a ordem jurídica estabelecida.

Quando o país assiste estarrecido a uma megaoperação policial, como a realizada na cidade do Rio de Janeiro, ontem, e que ainda reverbera a dimensão do seu fracasso civilizatório, essa questão se aflora. Por quê? Vejam, até o momento, as estatísticas oficiais dão conta de 4 policiais e 117 suspeitos mortos, 113 indivíduos foram presos e 118 armas apreendidas.

Acontece que a proibição da pena de morte e de outras penas, tais como a prisão perpétua, é considerada uma cláusula pétrea da Constituição Federal de 1988. Além disso, o Brasil também é signatário de tratados internacionais que proíbem a pena de morte, ou que reforçam sua inconstitucionalidade em tempos de paz. Portanto, se a criminalidade viola a legislação nacional, a morte de 117 suspeitos também.

Bem, o estopim desses acontecimentos está na oposição da ultradireita, com ou sem o apoio dos demais matizes direitistas, às leis vigentes no país. É só recordar que, em novembro de 2024, governadores de diversos estados brasileiros manifestaram oposição à Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Segurança Pública apresentada pelo governo federal, argumentando que ela poderia invadir a competência e a autonomia dos estados na gestão da segurança pública.

Isso acontece porque a ultradireita busca subverter ou manipular as estruturas legais existentes para minar a democracia e consolidar seu poder. Tanto que, foi preciso uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental, conhecida como "ADPF das Favelas", para se discutir a política de segurança pública do Rio de Janeiro, buscando a redução da letalidade policial e a garantia de direitos fundamentais nas comunidades.

Embora ela não esteja completamente decidida ou encerrada, em 2025, o Supremo Tribunal Federal (STF) homologou parcialmente um plano do Estado do Rio de Janeiro para reduzir a letalidade policial. A decisão incluiu a adoção de medidas como o uso de câmeras corporais, a preservação de locais de mortes e a investigação de crimes pela Polícia Federal em casos de repercussão internacional; bem como, a criação de um comitê para fiscalizar o cumprimento das medidas.

No entanto, diante dos recentes acontecimentos, parece clara a disposição da ultradireita em afrontar e desafiar o Estado Democrático de Direito. Inclusive, não houve solicitação de apoio do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) antes da execução da referida operação policial, como estabelece uma decisão do STF, em 2020, decorrente da “ADPF das Favelas”.  O objetivo é permitir que o Ministério Público acompanhe e fiscalize as ações.

O curioso é que enquanto o governo federal rebateu críticas sobre falta de apoio, manifestas pelo governador do RJ, que cobrou maior cooperação, a referida proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, elaborada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), apesar de ter sido aprovada na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados, em julho desse ano, permanece aguardando para ser avaliada por uma comissão especial antes de ser encaminhado ao Plenário para votação. Como se o assunto não fosse, assim, tão importante!

Enquanto isso, a criminalidade e a segurança pública capturam o centro das atenções, diante da proximidade das eleições de 2026. E a ultradireita, com ou sem o apoio dos demais matizes direitistas, aproveita o momento para extravasar suas pautas punitivistas, as quais incluem projetos de lei que visam aumentar o tempo de prisão para crimes específicos, redução da maioridade penal, restrições a benefícios penais, aumento de prisões, e a criação de novas tipificações penais ou suporte de penas para determinados crimes.

Contudo, o que se comprova, pela enésima vez, com o episódio no RJ, é que o Brasil está diante de um modelo de segurança pública falido, e claramente indica que o foco de atenção deve ser a economia do crime, e não apenas o encarceramento em massa ou o aumento do efetivo policial. Pois medidas punitivistas, nesses pouco mais de 500 anos de história, não deram quaisquer resultados para a segurança pública nacional. Segundo diferentes especialistas no assunto, o país precisa de uma abordagem multifacetada e ajustada à realidade contemporânea, se quiser realmente desarticular as estruturas criminosas.

O que inclui, portanto, o fortalecimento da inteligência e integração entre forças de segurança, o aumento das ações de repressão e apreensão de drogas, o combate à lavagem de dinheiro, a desarticulação do financiamento do crime organizado, o desenvolvimento alternativo em áreas de cultivo, a prevenção ampliada nas escolas e a criação de políticas de redução de danos.

É isso ou continuar enxugando poças de sangue e de ira, por aí! Afinal, como dizia Benjamin Franklin, escritor, cientista e filósofo político estadunidense, “Tudo o que começa com raiva acaba em vergonha!”.


terça-feira, 28 de outubro de 2025

A terceira margem ... do Rio


A terceira margem ... do Rio  

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Não pude deixar de estabelecer uma conexão com o conto “A terceira margem do rio”, publicado em 1962, no livro Primeiras estórias, de João Guimarães Rosa.

Afinal de contas, o dia foi marcado pelos dilemas entre a vida e a morte, o concreto e o abstrato, e a busca por um sentido para uma existência que gostaria de transcender a realidade comum, como acontece no texto de Guimarães Rosa.  

É uma pena que, certos veículos de comunicação e de informação nacionais, se coloquem na posição de simplesmente enviesar a questão da criminalidade, no Rio de Janeiro, para o campo da mera divergência político-ideológica.

As facções criminosas no Rio de Janeiro tiveram início na segunda metade dos anos 1970. Assim, entra governo e sai governo, desde então, e a situação parece insolúvel, requentando mais do mesmo, comprometendo a qualidade de vida da população e tornando cada vez mais distante o acesso ao direito fundamental à segurança.

Então, eis que, hoje, uma megaoperação policial foi deflagrada, por iniciativa do Governo do Estado, que contabilizou a morte de 60 criminosos e 4 policiais, sendo considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro.

Para os que pensam que esse é o caminho para erradicar a criminalidade, ledo engano! O terror de hoje já terá sido superado amanhã, dada a dimensão da organização existente nas facções criminosas contemporâneas há tantas décadas.

Acontece que a segurança pública, há muito, deixou de ser um direito social, como previsto no artigo 6º da Constituição Federal de 1988, para ser transformada em moeda de barganha político-ideológica.

Basta traçar uma linha do tempo para entender a dinâmica desse processo. O surgimento das facções criminosas está associado a uma resposta de sobrevivência ao sistema prisional, de natureza violenta e desumana, no Brasil. Assim, elas ao criarem um sistema de regras próprias dentro dos presídios, passaram a desafiar diretamente o poder do Estado.

Para tal, elas perceberam que organizando-se de forma hierárquica, com líderes, membros e funções específicas, teriam um poder de articulação e execução de atividades ilícitas, muito mais eficiente do que em relação aos indivíduos criminosos isolados.

Nesse cenário, ao longo do tempo, elas alcançaram a consolidação de um poder econômico gerado pelo tráfico de drogas e outros ilícitos, o que lhes permitiu se infiltrar em setores lícitos da economia e influenciar processos políticos e eleitorais para proteger seus interesses.

Haja vista o recente caso de lavagem de dinheiro por uma facção criminosa paulista, por meio de fundos de investimento na Avenida Faria Lima, em São Paulo, revelando a crescente sofisticação do crime organizado e a permeabilidade das instituições financeiras formais, o que expôs a fragilidade das fronteiras sociais e a íntima relação entre o mercado financeiro e as atividades ilícitas no Brasil.

Algo que evidencia o cinismo e a hipocrisia de uma sociedade que tolera a desigualdade social enquanto as elites financeiras e o crime organizado se encontram na mesma avenida. Além disso, a falácia do sucesso por esforço próprio, estereotipado através do "coração financeiro do país”, foi desmistificado quando se expôs que o dinheiro que circula ali pode ter origem criminosa. Afinal, o sucesso de alguns pode estar diretamente ligado à miséria e à violência gerada pelas atividades do crime organizado.

Mas, não para por aí. As recentes descobertas trazem à tona a suspeita de que exista nesse imbróglio o envolvimento de agentes públicos e políticos, permitindo que as facções se perpetuem e se fortaleçam, prejudicando a imagem e a confiança das instituições nacionais.

Portanto, esse é o ponto de reflexão. O interesse pelas facções criminosas se manifesta em múltiplas dimensões, incluindo a financeira, a política e a social. O sucesso de uma facção depende de sua capacidade em manter e expandir sua influência para gerar mais receita.

Desse modo, elas buscam áreas específicas, especialmente em periferias e presídios, para garantir o monopólio de suas operações criminosas e impor sua própria ordem social, conhecida como "estado paralelo"; bem como, utilizam a lavagem de dinheiro, muitas vezes por meio de empresas de fachada para dar uma aparência de legalidade aos seus ganhos ilegais.

Infelizmente, é dessa forma que o crime organizado se infiltrou em grandes setores da economia brasileira e encontrou a possibilidade de influenciar o sistema político e eleitoral, enviando seus representantes aos departamentos de contratos públicos e se aliando a partidos políticos, principalmente em nível local.

Diante disso torna-se óbvio o fato de que a criminalidade é uma manifestação que se autorreproduz, sendo um problema que se perpetua através das gerações e das interações sociais, na medida em que ela ultrapassa limites e desrespeita acordos e normas sociais. Daí ela se tornar um fenômeno complexo e cíclico, onde as causas estruturais e contextuais se entrelaçam e se retroalimentam, tornando-se um grande desafio social e político.

Sobretudo, quando se abstém de analisá-la pela perspectiva de que a segurança pública e o combate à corrupção, no Brasil, são elementos interligados e que não podem ser dissociados, quando se busca uma solução efetiva.

Desse modo, eles precisam de ações que vão desde a repressão criminal e a inteligência policial até as políticas de prevenção, transparência e controle social, com foco na cooperação entre os diferentes níveis de governo (federal, estadual e municipal) e na utilização de tecnologias, tais como inteligência artificial/big data e o aprimoramento da legislação e dos mecanismos de responsabilização.

Feitas essas breves considerações, resta a certeza de que a banalização da criminalidade, como vem se repetindo há décadas, no Brasil, tem permitido que os crimes e atos de violência se tornem corriqueiros e percam o seu impacto humano e social nefasto, sendo tratados como fatos normais do cotidiano.

Acontece que esse processo culmina tanto na criação de um clima de medo quanto na desvalorização dos direitos humanos. E essa atmosfera de violência estabelece uma incomunicabilidade que prejudica a organização social e a busca por soluções coletivas, impedindo os indivíduos de se apropriarem plenamente da sua realidade harmônica, humana e pacífica.  

terça-feira, 21 de outubro de 2025

De olho na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30)


De olho na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2025 (COP 30)

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Qual é o sentido da vida, sem considerar a importância do planeta que habitamos? Afinal de contas, está na relação entre os seres vivos e seu entorno, incluindo todos os elementos físicos, químicos e biológicos, o que permite e sustenta a existência da vida na Terra. O que significa que essa reflexão ultrapassa os próprios limites da Ciência, tornando pouco relevante a manifestação do negacionismo de quem quer que seja.  

Ora, o planeta Terra, casa de aproximadamente 8 bilhões de habitantes, em todos os seus aspectos geográficos e biológicos, é o que mantém vivos todos os indivíduos, persistindo e se reproduzindo frente a desafios, impactos e condições adversas. Portanto, algo que vai além da manutenção das necessidades básicas, tais como alimentação, água e abrigo, abrangendo a capacidade de resistência, adaptação, resiliência e continuidade cultural e social dos seres vivos.

Então, se ainda reside algum instinto de sobrevivência à espécie humana é preciso ativá-lo rapidamente. Dia após dia o planeta dá sinais claros de que os conflitos e divergências sobre o uso dos recursos naturais, a forma como diferentes grupos sociais percebem e afetam o meio ambiente, estão afastando a humanidade da sua preservação, sustentável e harmônica.

Simplesmente, porque cada problema ambiental é moldado por fatores sociais, culturais e políticos; por isso, a sustentabilidade ambiental se conecta à sustentabilidade social a fim de garantir que as práticas sustentáveis ​​promovam a justiça social, a inclusão e a redução das desigualdades.

Mas, apesar disso, a falta de monitoramento e avaliação crítica das ações e das práticas sociais por parte dos indivíduos está comprometendo a vida no planeta.  O aquecimento global, causado pela emissão de gases de efeito estufa, vem aumentando, por exemplo, a frequência e a intensidade de eventos como secas, inundações, ondas de calor e tempestades.

Como consequência direta desse fenômeno, a indisponibilidade de água, prejudica a produção de alimentos, causando perdas econômicas e forçando a migração de populações. Além disso, o descarte inadequado de resíduos e o desmatamento tem contribuído para a manipulação do solo, da água e do ar, intensificando os problemas ambientais e climáticos.

É, a Terra não é mais a mesma! Por quê? Porque há um flagrante imediatismo na sociedade contemporânea. Há uma cultura da gratificação instantânea e da aversão ao amanhã, impulsionada pela tecnologia e pelo capitalismo, que hipervaloriza o "agora" em detrimento do passado e do futuro, levando a uma busca por resultados rápidos, à superficialidade e à dificuldade em construir relações e projetos desafiadores. E essa prosperidade constante leva a um esvaziamento da experiência, onde a reflexão e a confiança/credulidade são pseudoprolongadas pela busca constante por novidades.

Haja vista, como o consumismo contemporâneo, enquanto manifestação da sociedade de consumo capitalista, transcende a satisfação de necessidades, para se tornar um estilo de vida baseado na aquisição excessiva de bens, produtos e serviços.

O que nos coloca diante de um ciclo de manipulação de desejos, via publicidade e mídia, que, por sua vez, gera alienação e impactos ambientais devastadores e comprometedores à própria sobrevivência humana.

Se precisamos nos perguntar qual é o sentido da vida, então, é porque chegamos a um nível dramático de desimportância em relação a ela.  Ao que tudo indica, a percepção de falta de sentido e de propósito em uma sociedade cada vez mais focada em produtividade, consumo e padrões estereotipados, consolidou o que se conhece por "vazio existencial".

Milhões de seres humanos passam a ter a nítida sensação de que tudo é substituível ou irrelevante em um mundo que valoriza prioritariamente a fama e o sucesso material, desvalorizando o ser individual em prol de padrões coletivos.

Quem já leu o poema "Eu, Etiqueta" 1, de Carlos Drummond de Andrade, publicado em 1984, se depara com os modos desse viver e funcionar da sociedade contemporânea. Como os apelos materialistas são hipervalorizados, influenciando os aspetos mais triviais do dia a dia. Assim, em nome de futilidades e das convenções sociais, limitadas às aparências, o ser humano vai se desligando do seu jeito de ser, da sua alma.

Enquanto isso, o planeta se deteriora. A vida se deteriora. Portanto, algo (ou alguém) precisa resolver esse dilema do "ser" e do "ter", exemplificado pelo sociólogo Erich Fromm, o qual trata do conflito entre a existência focada no desenvolvimento interior, nas habilidades e nas relações (Ser) e a existência voltada para a posse de bens materiais, status e consumo (Ter).

Porque a sociedade contemporânea, influenciada por todo esse movimento essencialmente materialista, impulsionado pelo “ter", apesar da insatisfação, da insegurança e dos conflitos sociais, não consegue discernir entre uma busca por segurança baseada em posses materiais e uma vida que valorize o desenvolvimento pessoal e a qualidade das relações.

Desse modo, é chegada a hora de colocar em prática o equilíbrio sustentável. Buscar efetivamente um estado de existência onde o desenvolvimento social, o crescimento econômico e a preservação ambiental coexistam em harmonia, garantindo as necessidades atuais sem comprometer as futuras gerações.

E para que ele se consolide é essencial a disposição humana em promover uma mudança nas atitudes e na cultura da sociedade a fim de que individual e coletivamente se repense os hábitos de consumo e se produza de forma mais responsável.

sexta-feira, 17 de outubro de 2025

SOBERANIA SOBRE RIQUEZAS NATURAIS


SOBERANIA SOBRE RIQUEZAS NATURAIS

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Nada é por acaso. A repentina aproximação dos EUA em relação ao Brasil, após o tarifaço imposto por eles a uma lista diversa de produtos brasileiros, merece atenção. Aliás, como diz o próprio ditado popular "quando a esmola é demais, o santo desconfia". O que, considerando o histórico colonial de exploração brasileiro, já deveria ser espontâneo.

Vamos e convenhamos, em pleno século XXI, as exportações brasileiras são marcadas pela preponderância de produtos primários, como petróleo, soja e minérios de ferro, o que reflete um padrão primário-exportador, com o agronegócio impulsionado pela modernização tecnológica e a indústria extrativa impulsionada pela demanda por commodities.

O que a maioria dos cidadãos brasileiros não consegue perceber ainda é que essa participação de produtos menos complexos e de baixo valor agregado limita o potencial de desenvolvimento econômico nacional. Fato que abre as portas e fortalece o imperialismo econômico, o qual diz respeito ao domínio de uma nação através de controles financeiros, como a exploração de recursos naturais e a busca por novos mercados para mercadorias e investimentos.

E nesse contexto, a riqueza extrativista brasileira contemporânea se manifesta principalmente na extração de minerais (petróleo, ferro, minerais de ferro), o qual é impulsionado pela demanda global e gera lucros significativos. E olhando para a crescente demanda da indústria tecnológica, sabe-se que Brasil tem a segunda maior reserva de terras raras do mundo, um grupo de 17 elementos químicos com alto valor estratégico para a tecnologia moderna, a transição energética e a defesa.

Acontece que a maior reserva é chinesa e a disputa tecnológica entre China e EUA significa uma batalha pelo domínio da hegemonia econômica e tecnológica global nos setores do século XXI, como semicondutores, inteligência artificial (IA), energia limpa e biotecnologia.  E diante desse cenário, uma guerra comercial resultou em um aumento do protecionismo por parte de ambos os países, com a imposição de tarifas e restrições à exportação de produtos estratégicos.

Assim, se tornam evidentes as razões do súbito interesse estadunidense em dialogar diplomaticamente com o Brasil. Vejam, a partir das terras raras, são fabricados produtos tecnológicos essenciais, tais como motores de carros elétricos, turbinas eólicas, componentes para telas de computadores e celulares, mísseis, drones, submarinos, agentes de contraste para exames e marcadores biológicos.

Em tempos em que o termo soberania anda em alta no país, essa retomada dialógica com os EUA pede cautela e reflexão. Afinal de contas, o que parece estar em jogo é a soberania sobre as riquezas minerais; sobretudo, as terras raras - lantânio, cério, praseodímio, neodímio, promécio, samário, európio, gadolínio, térbio, disprósio, hólmio, érbio, escândio, túlio, itérbio, lutécio e ítrio. Trata-se do direito que um país tem de controlar, explorar e administrar seus próprios recursos naturais de acordo com suas leis e políticas, promovendo o desenvolvimento nacional e o bem-estar de sua população.

Aliás, a Constituição Federal de 1988 estabelece em seu artigo 20, inciso IX, que a União tem a titularidade sobre o subsolo e seus recursos minerais. No entanto, por conta de fatos recentes ocorridos em relação à Petrobrás, a defesa dessa soberania tornou-se motivo de debate em relação às políticas de exploração e venda de ativos, por conta da privatização de setores essenciais que prejudicaram visivelmente o controle nacional sobre suas riquezas, atuando em desfavor do desenvolvimento do país.

Sem contar que, nesses pouco mais de 500 anos de história, as consequências nefastas do colonialismo de exploração no Brasil fizeram com que a estrutura econômica de padrão primário-exportador criasse uma dependência externa, que persiste até hoje. Tanto que as recentes "tarifas" dos EUA, impostas sobre produtos brasileiros, impactaram setores específicos e desencadearam variações no volume de exportações, expondo a vulnerabilidade de uma economia dependente do mercado externo para muitos bens.

A fim de incorrermos nos mesmos erros e equívocos de práxis retrógradas, é chegado o momento de o Brasil defender, com unhas e dentes, a soberania sobre as riquezas naturais, incluindo as suas reservas de “terras raras”. A exploração de recursos minerais não deve sofrer interferências externas que possam comprometer a soberania nacional ou o desenvolvimento independente do país.

De modo que cabe ao Brasil exercer o direito de decidir como, quando e se os recursos naturais serão explorados e comercializados, priorizando os interesses e o desenvolvimento nacional; bem como, respeitando e não prejudicando o meio ambiente dentro e fora da jurisdição nacional.


terça-feira, 14 de outubro de 2025

DOCÊNCIA ... (15 DE OUTUBRO - DIA DO PROFESSOR)


DOCÊNCIA ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Dizia Darcy Ribeiro, antropólogo, educador, escritor e político brasileiro, “A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um projeto”. Daí a complexidade que orbita a compreensão em torno dos (des)caminhos que tem trilhado a Educação, no país. Assim, decidi destacar alguns aspectos que considero relevantes para uma reflexão a respeito.

A precarização da docência. Bem, esse não é um fenômeno que se resume ao olhar contemporâneo, pelo simples fato de que a baixa remuneração, a ausência de planos de carreira atraentes, o aumento de contratos temporários e instáveis, a falta de garantias trabalhistas e a desvalorização da formação profissional, ... já figuram, há décadas, no cenário docente nacional.

Acontece que a contemporaneidade expôs o problema a um contexto de hiperdesvalorização social e escassez de recursos, visivelmente agravada pelas reformas neoliberais, pelo crescimento da Educação a Distância (EaD) e pelos modelos de gestão escolar que impõem um controle excessivo sobre o trabalho do professor.

Portanto, a carreira docente perdeu sua reputação social devido ao desgaste e às condições de trabalho precárias, levando à alienação e à desmotivação dos profissionais. Sob esse aspecto é fundamental salientar que a precarização docente e o desrespeito da sociedade estão interligados.

A desvalorização social da profissão se reflete no desprestígio público, que por sua vez pode se manifestar em violência e desrespeito na sala de aula. Infelizmente, a violência contra docentes é um problema grave e que não prejudica só os professores, mas também o ambiente educacional e a liberdade de ensino.

Trata-se de um fenômeno crescente que se apresenta desde agressões físicas e verbais até casos de ameaças e morte, as quais são causadas por fatores sociais, familiares e institucionais. As consequências para os professores incluem sérios danos físicos e emocionais, levando ao esgotamento e problemas de saúde mental; bem como, a desistência da própria carreira docente.

Homeschooling. Hasteada como uma bandeira de viés político-ideológico, a ideia de uma educação domiciliar emergiu como uma prática a desafiar a ideia de que a escola é o único espaço legítimo para a educação, levantando questões sobre o papel do Estado na educação, a autonomia familiar, a socialização, e a formação para a cidadania.

Do ponto de vista docente, muitos especialistas apontam que a prática pode minar a importância do papel do professor na sociedade e o valor da profissão, reforçando a ideia de que o magistério é apenas uma "vocação" ou "dom", e não uma profissão que exige formação e qualificação.

Além disso, o homeschooling reforça o desmonte da educação pública, priorizando uma educação para poucos e desviando a atenção de problemas sociais graves, como a violência doméstica e a evasão escolar, que afetam a vida de crianças e adolescentes, e que precisam de políticas públicas mais eficazes para serem combatidos.

A tecnologização da educação. Ao contrário do que muitos possam pensar, o novo cenário educacional é na maioria das vezes orientado pelas necessidades do mercado e pela pressão por "eficiência", ao invés de considerar as reais necessidades pedagógicas do educador e do próprio processo de aprendizagem.

No entanto, a velocidade das mudanças tecnológicas exige que os professores se atualizem constantemente. E diante da pressão para se adaptar às novas ferramentas, da instabilidade profissional já presente e do aumento da carga de trabalho, o docente não se depara com uma contrapartida que se traduza em melhores condições ou salários, afetando a sua autonomia e a sua qualidade de vida.

Além disso, a desigualdade de acesso à tecnologia e à infraestrutura inadequada pode agravar a precarização, pois nem todos os professores ou escolas dispõem dos mesmos recursos para implementar uma tecnologia de forma eficaz. Especialmente, tendo em vista a questão da Inteligência Artificial (IA) que apesar de representar uma ferramenta poderosa para aprimorar o processo educacional, levanta desafios como a necessidade de integração ética, proteção de dados e garantia de acesso, e a importância de não substituir a interação humana.

Por essas e por outras é que não se pode banalizar o fenômeno da desistência docente, como se fosse um mero abandono, ou renúncia, ou interrupção de algo que estava em andamento. Não. A desistência docente trata de inúmeros fatores que levam ao sentimento de frustração, de desânimo e de exaustão, resultando em um número crescente de professores que consideram abandonar a profissão ou sair dela definitivamente. 

Um desses fatores é justamente a falta de reconhecimento social da docência pelas autoridades. Afinal de contas, a exposição do professor, pelo Estado brasileiro, à falta de valorização econômica e social, às condições de trabalho precárias e à falta de políticas públicas eficazes, sinaliza para a sociedade, como um todo, que o papel do professor é menos importante do que outras profissões, ainda que a função docente seja fundamental para a construção da própria sociedade.

Portanto, a precarização da docência reflete e contribui para a precarização da mão de obra do país. Simplesmente, porque a desvalorização dos professores e das condições de trabalho na educação têm consequências diretas na formação de mão de obra qualificada e comprometida, impactando os diversos níveis do desenvolvimento do país e da qualidade de vida de seus cidadãos.

Segundo Rubem Alves, teólogo, pedagogo, poeta e filósofo brasileiro, “Pessoas que sabem as soluções já dadas são mendigos permanentes. Pessoas que aprendem a inventar soluções novas são aquelas que abrem portas até então fechadas e descobrem novas trilhas. A questão não é saber uma solução já dada, mas ser capaz de aprender maneiras novas de sobreviver”.

Por isso, “O principal objetivo da educação é criar pessoas capazes de fazer coisas novas e não simplesmente repetir o que outras gerações fizeram” (Jean Piaget - psicólogo suíço); posto que, “O ideal da educação não é aprender ao máximo, maximizar os resultados, mas é antes de tudo aprender a aprender, é aprender a se desenvolver e aprender a continuar a se desenvolver depois da escola”. Mas, para isso são necessários PROFESSORES (AS)!!!

quarta-feira, 8 de outubro de 2025

BOICOTE CONTRA O BRASIL


BOICOTE CONTRA O BRASIL

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Sim, é exatamente isso! A ala da Direita e seus matizes, na Câmara dos Deputados, acaba de exigir a retirada da pauta da Medida Provisória (MP) 1303/25 com alternativas ao aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). A equipe econômica do governo estima que tal atitude provocará um rombo de R$ 42,3 bilhões nas contas públicas até 2026. E não sendo posta em votação, a matéria perde a validade nesta quarta-feira.

Estamos, portanto, diante do boicote da Direita brasileira e seus matizes contra o país. Tal estratégia empregada por essa gente afeta diretamente a grande massa da população, aqueles tais 99% que carregam o piano diariamente. Porque para compensar a perda de arrecadação, com essa MP, o governo irá precisar criar formas de aumentar a receita, o que inclui, por exemplo, contingenciar recursos, bloqueando temporariamente certas despesas orçamentárias, para ajustar os gastos à realidade da arrecadação.

A grande verdade é que a ala da Direita e seus matizes não consegue engolir os pedidos exaustivos de cassação de mandato de dois deputados que foragiram da Justiça brasileira para o exterior, o arquivamento da PEC da Blindagem, o sonoro NÃO À ANISTIA, a aprovação unânime da isenção do imposto de renda, o clamor pelo fim da jornada de trabalho 6x1, ... e quaisquer outras propostas que atendam verdadeiramente aos interesses da grande massa populacional brasileira.

Nesses pouco mais de 500 anos de história, eles se acostumaram muito mal, diante da ideia de que o protagonismo do poder lhes era um direito adquirido, enquanto participes da elite brasileira.  Do tipo “Venha a nós, vosso reino, nada”. Mas, se esqueceram de que o tempo é fluido, dinâmico, indomável. Ele muda. Ele transforma.

Então, agora, a Direita brasileira e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas, querem se vingar daquilo que consideram uma afronta ao seu poder histórico. Acontece que o seu boicote, na verdade, não atinge o governo ou país. Ele atinge os interesses de cerca de 213,4 milhões de cidadãos brasileiros. E esse boicote tem método.

A tentativa de golpe de Estado, que reverbera sobre o país desde 8 de janeiro de 2023, é a chama que nutre o estabelecimento de diversos cenários de crise econômica, idealizados por elementos da Direita brasileira e seus matizes, com o apoio de seus eleitores, simpatizantes e financiadores. Afinal de contas, uma crise econômica é uma situação de desarticulação social e de confiança, que abala o sentimento da opinião pública.

Nesse contexto, o país estaria diante de um quadro de instabilidade que se expressa por várias situações, tais como períodos de retração econômica, ou seja, queda do Produto Interno Bruto (PIB), que seria capaz de desencadear desemprego, aumento da desigualdade, de menor consumo e produção, e diversos outros impactos na vida das pessoas. De modo que uma interpretação equivocada e manipulada tendenciosamente sobre o desempenho do governo em curso, o tornaria susceptível a eventuais insatisfações populares.

Por isso, a Direita brasileira e seus matizes; sobretudo, os mais radicais e extremistas, presente na Câmara dos Deputados, em Brasília, resolveu BOICOTAR o povo brasileiro. De que forma? Abstendo-se do seu compromisso parlamentar determinado pela Constituição Federal de 1988, o que significa que estão cometendo abuso de poder. Estão prevalecendo de cargos para fazer valer vontades particulares em detrimento dos interesses da população e do país. Trata-se, então, de uma ação coletiva e organizada, buscando causar uma perda financeira, reputacional ou de outra natureza ao alvo.

Entretanto, um "boicote parlamentar" pode ser considerado inconstitucional, dependendo do caso e da intenção; sobretudo, quando viola os princípios éticos e de decoro exigidos de um parlamentar, conforme previsto na Constituição Federal. E o que está acontecendo na Câmara dos Deputados pode sim, ser compreendido como uma flagrante tentativa de desrespeitar princípios constitucionais, tais como a eficiência na administração pública e a impessoalidade, na qual a atuação do agente público não pode ter um viés pessoal.

Portanto, parece claro quem são os inimigos do Brasil e de que lado da história político-partidária eles estão. Daí a necessidade de compreender que uma representatividade político-partidária, quando se abstém de assegurar a diversidade de vozes e demandas de diferentes parcelas da população, acaba por desenvolver um coletivo de "cidadãos de papel", no qual a cidadania formal é reconhecida, mas sem acesso efetivo aos seus direitos e sem a capacidade de fazer sua voz ser ouvida. DIGA NÃO AO BOICOTE, DA DIREITA BRASILEIRA E SEUS MATIZES, CONTRA O BRASIL!


terça-feira, 7 de outubro de 2025

O caminho da deterioração democrática


O caminho da deterioração democrática

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Não, não basta dizer que é inaceitável qualquer proposta de anistia ou de redução da dosimetria para golpistas envolvidos em crimes contra a democracia e o Estado de direito.

Os recentes acontecimentos a esse respeito pedem uma reflexão mais profunda, que implica no entendimento basilar das razões que levam o país a manter de prontidão uma horda não só antidemocrática; mas, sobretudo, antiprogressista.

Infelizmente, o inconsciente coletivo nacional foi historicamente moldado por princípios e valores sociais baseados na hierarquia, na escravidão, no patriarcado e no elitismo, com a religião cristã e o eurocentrismo, ou seja, servindo como importantes instrumentos de controle social e imposição de normas e comportamentos.

Nesse contexto, então, as classes dominantes no Brasil se organizaram a partir dos donos de grandes latifúndios de açúcar e de escravos, dos comerciantes e das autoridades civis, militares e religiosas. De modo que a riqueza e as diversas faces do poder se concentraram nas mãos dessa elite, ao longo das gerações.

Acontece que é desse cenário que emerge a Direita brasileira e seus matizes, como uma orientação política conservadora, que defende a ordem social, a tradição, a liberdade econômica e, historicamente, a manutenção de hierarquias.

Assim, todas as vezes em que esses indivíduos se sentiram, de algum modo, ameaçados na sua ideologia, eles se agregaram para tentar um Golpe de Estado a fim de manter o seu protagonismo de poder.

Como bem escreveu Steven Levitsky, professor de ciência política de Harvard e um dos autores do livro "Como as democracias morrem", de 2018, “Em quase todos os casos de colapso democrático que nós estudamos, autoritários potenciais – de Franco, Hitler, Mussolini na Europa entre guerras a Marcos, Castro e Pinochet, durante a Guerra Fria, e Putin, Chávez e Erdogan mais recentemente – justificaram a sua consolidação de poder rotulando os oponentes como uma ameaça à sua existência”.

Mas, para se alcançar esse propósito, aparentemente político-partidário, esse amálgama social construído a partir do ideário direitista, envolve a presença de eleitores, apoiadores e financiadores.

O que significa que essa estrutura, apesar da aplicação de todas as medidas judiciais cabíveis em relação aos crimes contra a ordem constitucional e a democracia, pela força do capital movimentando, a partir de certos segmentos, e a reafirmação ideológica, através das mídias sociais, se mantêm como ameaça constante ao país. Especialmente, porque muitos coparticipantes da tentativa de Golpe de Estado agiram de forma obscura no processo, por diferentes razões.

Daí o risco para a manutenção da democracia e do Estado de direito, no Brasil. Como muitos tipos de crime precisam de recursos financeiros para serem planejados e executados, esse também é o caso daqueles contra a ordem constitucional e a democracia que necessitam de dinheiro para cobrir custos operacionais, tais como transporte, armamento ou até mesmo para "comprar" informações.

De modo que elucidar esse caminho entre os crimes contra a ordem constitucional e a democracia e os recursos financeiros empregados nas suas práxis é fundamental.

As próprias mídias sociais revelaram através de posts e mensagens a participação direta e/ou indireta de pessoas ligadas a diferentes espectros sociais.

Fato que possibilita às autoridades brasileiras reconstruir a trajetória de envolvimento desses indivíduos nos crimes contra a ordem constitucional e a democracia, para que as medidas judiciais cabíveis possam ser aplicadas e se constituírem como instrumentos de prevenção e desmotivação para a reincidência em crimes dessa natureza. 

Enquanto nada disso está posto em prática, as ações que atentam contra a democracia e o Estado de direito, no Brasil, continuam figurando nos veículos de comunicação e informação; bem como, nas mídias sociais.

Mesmo através de uma análise discursiva superficial é possível sim, identificar como a linguagem continua sendo empregada para construir e manter uma realidade social desejada por certos indivíduos, as relações de poder envolvidas, a ideologia padrão e a identidade social dos participantes.

Por isso, é tão importante ler as linhas e as entrelinhas dos acontecimentos, pois elas mostram que o que se diz e como se diz não é neutro, mas está intrinsecamente ligado à construção da realidade e ao exercício do poder.

Aliás, isso evitaria que muitos indivíduos, por aí, utilizassem da dissimulação, escondendo-se em peles de cordeiro para manter seus privilégios, enquanto agem na surdina para destruir os valores e princípios democráticos nacionais.

Inclusive, cabendo aí uma importante reflexão, no que diz respeito ao modo como os benefícios fiscais, no país, tendem não só a enfraquecer as instituições; mas, contribuir para a construção de uma sociedade menos justa e equitativa. Algo que, na verdade, se alinha bem ao ideário da Direita brasileira e seus matizes, mais ou menos radicais e extremistas.


segunda-feira, 6 de outubro de 2025

5 de Outubro - um dia importantíssimo para a historicidade brasileira!


5 de Outubro - um dia importantíssimo para a historicidade brasileira!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Ontem, 5 de outubro, foi um dia importantíssimo para a historicidade brasileira. Há exatos 37 anos, a Constituição Federal (CF) vigente, era promulgada. A partir daquele momento entendia-se o fim do regime militar no Brasil e o início do processo de redemocratização do país. Conhecida como “Constituição Cidadã”, ela desponta como um marco para a ampliação da cidadania através da garantia de direitos civis, políticos e sociais, na participação popular da sua elaboração e na promoção de uma sociedade mais inclusiva e democrática.

Ela foi, então, o primeiro passo importante dado em direção ao conjunto de reparações sociais decorrentes do próprio processo de construção histórica secular nacional. O Brasil estava funcionando sob o ditame das velhas práxis coloniais, de um arraigamento ideológico, o qual fora fundamentado pelo mercantilismo e a exploração das riquezas naturais, defendido por uma sociedade estratificada, patriarcal e escravista, mediante forte influência eurocêntrica, mesmo sendo uma sociedade racialmente miscigenada.

Daí a dificuldade de promover uma absorção do texto constitucional, ainda que em pleno século XX e XXI. O Brasil contemporâneo é um país que resiste as transformações e evoluções do mundo, porque não conseguiu romper as amarras seculares da desigualdade social persistente, do extermínio e do genocídio de populações indígenas, do estabelecimento de uma estrutura agrária concentradora de terras, no modelo latifundiário, na exploração da mão de obra, inclusive mantendo práticas de trabalho análogo à escravidão, do racismo estrutural e da imposição de um modelo cultural, econômico e religioso eurocêntrico.

E observando com atenção aos recentes acontecimentos nacionais isso fica muito claro. A pirâmide social brasileira permanece exibindo a concentração de renda, recursos e poderes nas mãos de uma ínfima minoria, ou seja, 1% da população.

Isso significa que são esses indivíduos a se apropriarem do poder político, influenciando a criação de políticas públicas e leis que beneficiem seus próprios interesses. O que enfraquece, de maneira flagrante, a capacidade da população, em geral, de participar efetivamente do processo democrático.

Além disso, ao longo dos séculos, a relação das elites brasileiras com o poder judiciário se caracterizou por uma forte influência e reprodução social, na medida em que as elites econômica e política se entrelaçavam com as elites jurídicas, resultando em um sistema capaz de gerar certos privilégios.

Em linhas gerais, as elites brasileiras sempre se mostraram como uma casta acima da lei, sujeitas à condescendência e à flexibilização em caso de eventuais punições. Portanto, distantes de um comportamento cidadão pautado pela ética e pela moral.

Contudo, eis que os atos de profundo vandalismo e depredação, ocorridos em Brasília/DF, em 8 de janeiro de 2023, tornaram pública a intenção de um novo Golpe de Estado, incluindo, o assassinato de autoridades, tais como os recém eleitos Presidente da República e o Vice-Presidente, e o Presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), na ocasião.  

Fatos que, agora, estão sob julgamento na 1ª Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) e, por essa razão, têm movido certos parlamentares, ligados exatamente à Direita e seus matizes, a uma saga obstinada por aprovar uma anistia, travestida de redução de pena, para os respectivos envolvidos.

Vejam só, o que deseja essa gente é desrespeitar o Judiciário brasileiro, na figura da sua corte maior, o STF. Querem aprovar uma anistia como quem zomba de suas sentenças, declarando-as inaplicáveis, se arvorando da posição de tribunal da última instância, de legítimos revisores das decisões da justiça brasileira.

Algo que representa o mais absoluto desprezo e escárnio em relação ao Estado Democrático de Direito e afronta diretamente o clamor popular contrário, e recentemente expresso nas ruas, à deliberação de uma anistia.

Mas, não para por aí, o absurdo não fica restrito a certos elementos que compõem o Congresso Nacional. Eis que, de repente, o Ministro da Defesa, durante audiência na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, manifestou a necessidade de reajuste salarial para os generais.

O que causou indignação entre militares da base, tanto da ativa quanto da reserva, pelo fato de o ministro ter olhado apenas para o topo da pirâmide hierárquica, ignorando as dificuldades enfrentadas por eles.

Ora, mas, não bastasse isso, considerando o fato de que a recente tentativa de Golpe de Estado no Brasil, em julgamento no STF, envolveu a participação de militares, inclusive, de alta patente, falar em reajuste salarial para esse segmento, nessas alturas do campeonato, é simplesmente escandaloso.

Sobre as Forças Armadas brasileiras, paira uma atmosfera, no mínimo, constrangedora e desconfortável, diante do fato público de que alguns de seus integrantes, agiram no sentido de subverter o processo de transição do poder ao presidente eleito em 2022.

Justo eles que são uma categoria especial de agentes públicos, com regime jurídico próprio definido na Constituição Federal, inclusive, com um regime de proteção social que se diferencia dos servidores civis.

Viu só,?! Seja na figura dos representantes político-partidários, ou de seus financiadores, apoiadores e simpatizantes, o fato é que a Direita brasileira e seus matizes vivem em uma realidade à margem. Desconectada e distante dos fatos que compõem o Brasil, inclusive do que trata a sua própria Constituição vigente.  

Quer um exemplo? Dando continuidade ao ideário de ampliação da cidadania, iniciado em 1988, por que não aprovar a o fim da escala 6x1, ou seja, esse modelo de trabalho, o qual são exercidos seis dias de jornada para um de folga?

No mundo do século XXI, diversos países já executam um novo modelo, como a escala 4x3, ou seja, quatro dias de trabalho e três de descanso, por exemplo.  Esse tipo de mudança é defendida em razão de possibilitar a melhoria na qualidade de vida dos trabalhadores, permitindo mais tempo para a família, lazer e qualificação profissional.

Mas, por aqui, na Terra Brasilis, representantes político-partidários da Direita e seus matizes se unem as elites de diferentes setores empresariais para se opor. Os mesmos que vêm trabalhando arduamente em favor das práxis que precarizam o trabalho, incluindo a “Pejotização”.

Trata-se da prática de formalizar a contratação de um trabalhador como Pessoa Jurídica (PJ) para evitar as obrigações e direitos trabalhistas, como FGTS, 13º salário e férias, que garantiriam um vínculo empregatício pela CLT.  

O que é, então, publicizado como autonomia, independência, com o discurso de que o profissional é seu próprio empregador, na verdade, mascara uma fraude.

Sim, apesar de o trabalhador atuar como autônomo, na prática ele segue ordens, cumpre horários e utiliza recursos da empresa, configurando um vínculo empregatício disfarçado e a perda de direitos trabalhistas. A empresa reduz custos. O empregado é desprotegido dos seus direitos.

Portanto, é hora de refletir! Hora de debruçar sobre a Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de 1988, e encontrar em suas páginas a inspiração necessária para dar continuidade ao processo de ampliação da cidadania brasileira; sobretudo, no que diz respeito a promoção de uma sociedade mais justa, mais inclusiva, mais representativa e mais democrática.

Afinal, como reconheceu o próprio presidente da Assembleia Nacional Constituinte de 1987–1988, Dep. Ulysses Guimarães, “Todos os nossos problemas procedem da injustiça. O privilégio foi o estigma deixado pelas circunstâncias do povoamento e da colonização, e de sua perversidade não nos livraremos, sem a mobilização da consciência nacional”.


quarta-feira, 1 de outubro de 2025

01/10 – Dia Internacional das Pessoas Idosas e Dia Nacional do Idoso


Segundo Bertolt Brecht, dramaturgo e poeta alemão do século XX, “Nada é impossível de mudar”.


Segundo Bertolt Brecht, dramaturgo e poeta alemão do século XX, “Nada é impossível de mudar”.

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

O clamor popular afastou, temporariamente, a sombra da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) da Blindagem. No entanto, há elementos na Câmara dos Deputados, conspirando desesperadamente pela PEC da Anistia, pela não taxação dos super ricos, pela obstaculização da isenção do Imposto de Renda (IR) para quem recebe até R$ 5 mil por mês e com descontos para quem ganha até R$ 7 mil de forma escalonada a partir de 2026, pela manutenção da escala 6x1, enfim ...

Ah, isso sem contar, que já aprovaram uma flexibilização para a Lei da Ficha Limpa, uma instrução que amplia o fundo eleitoral e prevê R$ 4,9 bilhões para financiamento de campanhas em 2026, e um projeto que limita decisões monocráticas e restringe partidos que podem entrar com ações, ... Viu só?! Pois é, você deve estar se perguntando quem são esses (as) parlamentares?

Ora, são representantes político-partidários da Direita e seus matizes, que trabalham em favor de certos eleitores, simpatizantes, apoiadores e financiadores das suas ideias.

Gerações e gerações de indivíduos que se mantiveram reproduzindo o mesmo pensamento retrógrado e elitista de seus antepassados, representantes das classes dominantes dos tempos coloniais.  Gente contrária ao progresso, às transformações ou às reformas, seja no campo político, social e/ou econômico brasileiro.

São eles (as) que dizem, a torto e a direito, que o governo federal precisa conter os gastos, apertar os cintos da economia. Como se uma administração que prioriza a melhoria da condição humana da população; sobretudo, das parcelas mais frágeis e vulneráveis, sob os mais diversos aspectos, estivesse esbanjando o dinheiro público.

Um tipo de gente que teima em se esquecer, ou prefere se abster, de olhar para a historicidade nacional e admitir as desigualdades abissais e seculares que são as verdadeiras responsáveis por fazer emergir certas demandas fundamentais, no país.

Daí tantos discursos esfarrapados e abjetos proferidos por esse tipo de gente. Ora, é óbvio que eles (as) estão inconformados com a ideia de que brasileiros com renda acima de R$ 1 milhão por ano, paguem por uma alíquota de 10% de Imposto de Renda (IRPF), a fim de compensar a arrecadação. Apesar de não haver nada de anormal nessa proposta, considerando que o Brasil está entre os países mais desiguais do mundo.

Já passou da hora de corrigir distorções tão graves no sistema tributário nacional; posto que, os lucros e dividendos distribuídos são isentos e a tributação sobre a renda e o patrimônio é baixa. De modo que, sem essa taxação, tem-se um sistema que acaba concentrando mais ainda a renda nas mãos de uma ínfima parcela da população.

Mas, a mentalidade arcaica e limitada desse tipo de gente, ao invés disso, quer que o governo compense a arrecadação com cortes em áreas importantes de implantação de políticas sociais, tais como a Saúde e a Educação.

O que demonstra o seu total desprezo pelos direitos sociais previstos na Constituição Federal de 1988, em seu artigo 6º; sobretudo, no que diz respeito ao desenvolvimento do país. Sim, porque são esses direitos que garantem certas prerrogativas relacionadas com condições mínimas de bem-estar social e econômico, possibilitando aos cidadãos usufruírem plenamente da sua cidadania.

Aliás, não é à toa, que eles (as) também se opõem ao fim da escala 6x1. Infelizmente, um país como o Brasil, que conviveu por 388 anos com a mão de obra escrava sendo a força motriz de suas atividades econômicas, permanece incapaz de entender a dimensão da precarização do trabalho, enquanto um conjunto de ações que ferem os direitos e a dignidade da pessoa trabalhadora, como se apresenta o discurso de certos segmentos da sociedade.

Para esse tipo de gente, jornadas longas, remuneração indevida ou ausente, instabilidade e falta de proteção social e laboral, são questões consideradas menores ou desimportantes. Acontece que o trabalho precário não só produziu insegurança e volatilidade econômica para indivíduos e lares; mas, contribuiu para a crescente desigualdade econômica, no país.

Eles (as) se abstêm de compreender que a desigualdade econômica gera impactos que vão muito além do aumento da pobreza e da fome, da criminalidade e da violência, os quais, por si só, já estabelecem uma disparidade na qualidade de vida do trabalhador, afetando a sua saúde física e mental de maneira bastante severa, a tal ponto de prejudicá-lo quanto às suas oportunidades de desenvolvimento pessoal e social.

Sim, a desigualdade prejudica significativamente o desenvolvimento econômico das classes dominantes. Afinal de contas, a concentração de renda nas mãos de poucos e a limitação do poder de compra da maioria da população de baixa e média renda deprime o consumo e, por consequência, a demanda agregada, ou seja, isso freia o crescimento econômico do país.

Nesse sentido, uma alta desigualdade econômica não é um sinal de uma economia forte, mas sim um obstáculo ao desenvolvimento sustentável, pois afeta a base da pirâmide social e econômica, que são os consumidores e os trabalhadores que deveriam ter acesso às oportunidades.

Então, não se engane, caro (a) leitor (a)! O curso histórico de legislar em causa própria, por certos elementos do Congresso brasileiro permanece vivo, mesmo diante da recente e péssima repercussão nacional e internacional.

Eles (as) insistem nessa queda de braços com o eleitor, desvirtuando-se dos fins objetivados por lei, para o exercício da função parlamentar, para dedicarem-se a promover seus fins particulares ou de terceiros.

Algo que não se pode negar, margeia a ilicitude! Afinal, isso é sim, abuso de poder! Especialmente, considerando todos os encargos ou prerrogativas constitucionais recebidos por esse tipo de gente.

Assim, é preciso que o clamor popular fale mais alto, mais claro. Como disse Darcy Ribeiro, antropólogo, historiador, sociólogo, escritor e político brasileiro, “A coisa mais importante para os brasileiros é inventar o Brasil que nós queremos”.

E para tal é preciso soltar a voz, agir de uma forma disruptiva, interrompendo e revolucionando o curso vigente desse ideário da Direita brasileira e seus matizes, que os faz acreditar que são donos do Brasil.

O fato de serem deputados e senadores da República, essa pequena elite que ocupa posições de considerável poder, possibilitando-os influenciar e manipular a vida de indivíduos comuns, segundo seus próprios interesses, não os legitima a se apropriar desse pensamento retrógrado, colonialista, de propriedade.

O Brasil é bem mais do que o topo da pirâmide social. O Brasil é, na verdade, de todos os seus cidadãos; mas, particularmente, de 99% deles, que há pouco mais de 500 anos, pagam diariamente o preço da concentração desigual da renda, do abuso de poder, da discriminação sob diferentes formas, ..., enfim, do ranço colonial herdado.

Portanto, não nos esqueçamos as palavras de Bertolt Brecht, dramaturgo e poeta alemão do século XX, “Nada é impossível de mudar. Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar”.