Custo
Amazônia: O início do fim
Por
Alessandra Leles Rocha
Infelizmente, caro (a) leitor
(a), a dimensão continental do Brasil não nos desobriga da responsabilidade em
relação à Amazônia. Não é porque possamos estar distantes da grande floresta
que os impactos ambientais negativos da devastação indiscriminada e das queimadas,
nos isentam da culpa que cairá sobre nossos ombros em um futuro breve.
Ontem mesmo, a notícia de que o
desmatamento na região Amazônica registrou recorde em setembro 1 não só demonstrou a gravidade do fato
em si; mas, apontou como esse movimento tem sido impulsionado pela reeleição do
atual Presidente da República, considerando que ele avança em popularidade e
intenção de votos nas cidades onde os processos de devastação se intensificam 2.
Daí a necessidade de se entender
o quanto esse assunto ultrapassa as fronteiras das discussões socioambientais e
reflete diretamente na política, inclusive, global. Ao contrário do que muitos
imaginam, além das consequências e desdobramentos diretos que cada brasileiro
sofrerá com a extinção da Amazônia, no que diz respeito, sobretudo, aos eventos
extremos do clima, as punições político-econômicas do restante do planeta, a esse
respeito, serão inevitáveis. Tendo em vista os inúmeros estudos, em diversas
áreas do conhecimento ligadas ao Meio Ambiente, a provar que a importância planetária
da Amazônia não é mero discurso ou narrativa.
Portanto, os (as) brasileiros
(as) que se preparem para arcar com o ônus da destruição! Pois ao que tudo
indica, até o apagar das luzes dessa administração federal, o bioma Amazônico
já terá perdido a sua capacidade de regeneração. No entanto, a perda em si da
floresta ficará pequena diante das outras perdas que se configuram no
horizonte. Cada desgraça que acontecer no planeta, sob o ponto de vista
ambiental e de saúde, terá, por mínimo que seja, um traço vestigial do que
aconteceu com a Amazônia e, por essa razão, o Brasil será implicado e
responsabilizado.
Aliás, um dos caminhos mais
evidentes, nesse sentido, serão as sanções e boicotes econômicos,
especialmente, em relação ao agronegócio. A insistente teimosia em não fazer
dessa prática, que há séculos representa o grande esteio da economia nacional,
uma atividade compatível aos preceitos de sustentabilidade socioambiental e,
por isso, ter contribuído de alguma forma com a destruição da Amazônia, pode fechar
definitivamente as portas para as boas relações de comércio exterior brasileiras.
Nenhum país comprometido com a
preservação do equilíbrio ambiental se permitirá continuar comprando produtos oriundos
de práticas degradantes. O desmatamento, as queimadas, as contaminações por
agentes químicos e a matança indiscriminada da fauna e dos povos originários,
não só reduz o valor de mercado dos produtos do agronegócio; mas, também, geram
uma resistência de consumo inestimável às marcas que atrelam seu nome a eles. Afinal
de contas, o mundo contemporâneo já não aceita que “os fins justifiquem os meios”.
Tudo
porque o desconhecimento científico e tecnológico não se sustenta como
justificativa para a não realização de um agronegócio ambientalmente
sustentável. A disponibilidade de estudos, de pesquisas, de artigos, por parte
de Universidades, Institutos Federais de Educação e a Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária (Embrapa), é gigantesca. Mas, parece existir uma
dificuldade de aceitar o desenvolvimento e o progresso que não só impede a
consolidação de uma dialogia profícua entre os produtores e a ciência; mas, a
reafirmação de práticas e condutas originárias dos tempos dos latifúndios
coloniais.
De modo
que esse movimento desalinhado das necessidades atuais acaba, também, abrindo
outros precedentes nocivos para o meio ambiente, como é o caso do extrativismo predatório
de fauna, flora e recursos minerais. O qual ajuda a impactar com mais severidade,
ainda, o bioma Amazônico, com uma contaminação elevada e diversificada das
águas e dos solos da região e se propagando por outros biomas.
No entanto,
o ponto nevrálgico dessa situação toda encontra-se mergulhado nos brados
retumbantes, que ecoaram em torno da narrativa da soberania nacional, em
relação à Amazônia. Pois é, na verdade, eles não passam de uma reprodução contemporânea
do que se viu durante o colonialismo brasileiro. Foi com esse mote, a defesa da
soberania da Metrópole sobre a Colônia, que fez o país quase extinguir a sua
madeira mais importante, o Pau-Brasil, por meio de um extrativismo predatório. Agora,
são outros interesses, outras razões (nada ortodoxas) que hasteiam a mesma
bandeira. Porém, nos colocando, talvez, em pior situação de vulnerabilidade
socioambiental do que há 500 anos.
E é nisso
que deveria residir a reflexão nacional. Nosso histórico de perdas sempre se
traduziu em prejuízos os quais o país jamais conseguiu recuperar. O que a Metrópole
levou de riquezas do Brasil para a Europa, jamais foi ressarcido. O que
perdemos depois, pela total ausência de responsabilidade, de visão
administrativa, de imediatismo, jamais foi ressarcido também. Portanto, estamos
sempre sendo confrontados por práticas insanas, inconsequentes, absurdas! Que,
nem de longe, cumprem minimamente a sua obrigação no contexto da defesa da
soberania nacional; pois, essa implica necessariamente à defesa dos interesses
nacionais.
Segundo a
ativista ambiental Greta Thunberg, durante a Cúpula do Clima, em 2019, “Estamos no início de uma extinção em massa
e tudo o que vocês falam gira em torno de dinheiro e um conto de fadas de
crescimento econômico eterno. Como ousam? ”, se referindo aos chefes de
estado e representações diplomáticas presentes, incluindo o Brasil.
Portanto,
caso não queiram pensar a respeito, aconselho prepararem os bolsos para pagar
ainda mais! No entanto, pagar não se significa reconstituir, recuperar,
restaurar. Pagaremos por um mundo artificial. Uma vida artificial. Nem de longe
parecida com aquela ideia de paraíso que nos concebeu. Mas, uma coisa é certa,
será uma estrutura que tenderá a acirrar mais e mais as desigualdades, as
mazelas, os sofrimentos. Por isso, as palavras de Greta fazerem enorme sentido.