A
sugestionabilidade social
Por
Alessandra Leles Rocha
Temos visto inúmeras tentativas
de resgate de velhas práxis, pela Direita e seus matizes; sobretudo, a
ultradireita, mundo afora. Embora, uma visão limitada a respeito da dinâmica social,
a esperança desses indivíduos é trazer à tona um desfecho diferente e
totalmente favorável aos seus interesses.
Nesse sentido, venho acompanhando
o que acontece no Brasil. Bem, me parece que só aqueles que jamais estudaram a
história nacional para não perceber aquilo que vem sendo desenhado no
horizonte. Mais uma vez, o ponto de partida é o inconformismo, por parte de membros,
apoiadores e simpatizantes das alas conservadoras nacionais, com a presença de elementos
progressistas, no centro do poder nacional.
Nada surpreendente! Afinal, pela
configuração da historicidade brasileira, essas pessoas são herdeiras diretas da
monarquia e das elites burguesas que se firmaram aqui. De modo que a sua
formação ideológica se pauta nos mesmos valores, crenças e princípios, não
havendo qualquer disposição e/ou interesse de reavaliação e transformação deles.
Então, uma vez sentindo-se, de
alguma forma, ameaçados pelo progressismo, a figurar no poder, a primeira
iniciativa é a manipulação enviesada da população quanto ao governo. Com base
em fatos sensíveis à opinião pública, veículos de comunicação e de informação alinhados
aos interesses conservadores passam a desenvolver suas notícias sob um viés sugestionável,
contrário à governança vigente.
E dentre os instrumentos
utilizados estão as pesquisas de opinião. Acontece que a estatística pode ser sim,
afetada por diversos fatores alheios à matemática. Pensando na polarização
político-partidária existente no país, a aleatoriedade, por exemplo, é um fator
crucial.
Vamos supor uma pesquisa
realizada por telefone. Se estabelece um número de ligações para a amostragem. Entretanto,
os números selecionados podem traduzir uma predominância geográfica de um dos
polos. O que significa que o resultado vai beneficiar um lado em detrimento de
outro. Isso quer dizer que a metodologia necessita de isenção para refletir exatamente
a realidade dos fatos.
Além disso, não se pode
desconsiderar o poder de influência das mídias sociais na construção do
inconsciente coletivo. De certa forma, as pesquisas tendem a sofrer a interferência
de um pensamento preconcebido, disseminado através do mundo virtual, de maneira
maciça. O pensamento já foi tão cooptado por certas ideias que as respostas
acabam sendo fruto de um efeito manada.
Conseguido algum tipo de apoio ou
simpatia da opinião pública, a seara político-partidária contrária ao governo
parte, então, para outras estratégias. Uma delas é a proposição de um novo
regime de governo, o qual retire do atual a força do seu poder. Como já
aconteceu no passado, com a instituição do parlamentarismo. Uma manobra
malsucedida e que, em 1993, foi definitivamente rechaçada através do plebiscito
que demandava escolher entre monarquia ou república (forma de governo) e
parlamentarismo ou presidencialismo (sistema de governo).
Outra questão, trazida à tona, é promover
alterações na Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar 135, de 04/06/2010). Fruto
de uma iniciativa popular, ela tem por propósito “incluir hipóteses de
inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade
no exercício do mandato”.
O que significa flexibilizar ou
relativizar a moralidade político-partidária, no país, para que elementos da Direita
e seus matizes; sobretudo, a ultradireita, atualmente impedidos, possam
retornar ao poder. Uma forma de fortalecer a ala conservadora nos espaços do
poder nacional.
Sem contar, todo empenho dedicado
a anistiar os envolvidos nos atos antidemocráticos, que culminaram na
depredação do patrimônio público e dos prédios dos 3 Poderes, em Brasília, em
08 de janeiro de 2023. Nada mais do que uma tentativa de reproduzir à
relativização da gravidade dos atos ocorridos, como no caso da Lei da Anistia
(lei n.º 6.683, de 28/08/1979).
Dizia o filósofo grego, Platão, “Não
espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida”. Diante
dessas breves considerações, vê-se que a sugestionabilidade social não pode ser
menosprezada. Ela é o ponto de partida para a legitimação de atos profundamente
danosos à Democracia, ao Estado de Direito, às instituições e à cidadania. Porque, “Não são as nossas ideias que nos
fazem otimistas ou pessimistas, mas o otimismo e o pessimismo de origem
fisiológica que fazem as nossas ideias” (Miguel Unamuno).
Portanto, lembre-se das palavras de Confúcio, “Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo”. Só assim, sabendo discernir é que nos tornamos capazes de nos posicionar autonomamente, sem nos submeter a quaisquer sugestões alheias. Afinal, “A democracia é atividade criadora dos cidadãos e aparece em sua essência quando existe igualdade, liberdade e participação” (Marilena Chaui).