segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

A sugestionabilidade social


A sugestionabilidade social

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Temos visto inúmeras tentativas de resgate de velhas práxis, pela Direita e seus matizes; sobretudo, a ultradireita, mundo afora. Embora, uma visão limitada a respeito da dinâmica social, a esperança desses indivíduos é trazer à tona um desfecho diferente e totalmente favorável aos seus interesses.

Nesse sentido, venho acompanhando o que acontece no Brasil. Bem, me parece que só aqueles que jamais estudaram a história nacional para não perceber aquilo que vem sendo desenhado no horizonte. Mais uma vez, o ponto de partida é o inconformismo, por parte de membros, apoiadores e simpatizantes das alas conservadoras nacionais, com a presença de elementos progressistas, no centro do poder nacional.   

Nada surpreendente! Afinal, pela configuração da historicidade brasileira, essas pessoas são herdeiras diretas da monarquia e das elites burguesas que se firmaram aqui. De modo que a sua formação ideológica se pauta nos mesmos valores, crenças e princípios, não havendo qualquer disposição e/ou interesse de reavaliação e transformação deles.

Então, uma vez sentindo-se, de alguma forma, ameaçados pelo progressismo, a figurar no poder, a primeira iniciativa é a manipulação enviesada da população quanto ao governo. Com base em fatos sensíveis à opinião pública, veículos de comunicação e de informação alinhados aos interesses conservadores passam a desenvolver suas notícias sob um viés sugestionável, contrário à governança vigente.

E dentre os instrumentos utilizados estão as pesquisas de opinião. Acontece que a estatística pode ser sim, afetada por diversos fatores alheios à matemática. Pensando na polarização político-partidária existente no país, a aleatoriedade, por exemplo, é um fator crucial.

Vamos supor uma pesquisa realizada por telefone. Se estabelece um número de ligações para a amostragem. Entretanto, os números selecionados podem traduzir uma predominância geográfica de um dos polos. O que significa que o resultado vai beneficiar um lado em detrimento de outro. Isso quer dizer que a metodologia necessita de isenção para refletir exatamente a realidade dos fatos.

Além disso, não se pode desconsiderar o poder de influência das mídias sociais na construção do inconsciente coletivo. De certa forma, as pesquisas tendem a sofrer a interferência de um pensamento preconcebido, disseminado através do mundo virtual, de maneira maciça. O pensamento já foi tão cooptado por certas ideias que as respostas acabam sendo fruto de um efeito manada.

Conseguido algum tipo de apoio ou simpatia da opinião pública, a seara político-partidária contrária ao governo parte, então, para outras estratégias. Uma delas é a proposição de um novo regime de governo, o qual retire do atual a força do seu poder. Como já aconteceu no passado, com a instituição do parlamentarismo. Uma manobra malsucedida e que, em 1993, foi definitivamente rechaçada através do plebiscito que demandava escolher entre monarquia ou república (forma de governo) e parlamentarismo ou presidencialismo (sistema de governo).

Outra questão, trazida à tona, é promover alterações na Lei da Ficha Limpa (Lei Complementar 135, de 04/06/2010). Fruto de uma iniciativa popular, ela tem por propósito “incluir hipóteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato”.

O que significa flexibilizar ou relativizar a moralidade político-partidária, no país, para que elementos da Direita e seus matizes; sobretudo, a ultradireita, atualmente impedidos, possam retornar ao poder. Uma forma de fortalecer a ala conservadora nos espaços do poder nacional.

Sem contar, todo empenho dedicado a anistiar os envolvidos nos atos antidemocráticos, que culminaram na depredação do patrimônio público e dos prédios dos 3 Poderes, em Brasília, em 08 de janeiro de 2023. Nada mais do que uma tentativa de reproduzir à relativização da gravidade dos atos ocorridos, como no caso da Lei da Anistia (lei n.º 6.683, de 28/08/1979).

Dizia o filósofo grego, Platão, “Não espere por uma crise para descobrir o que é importante em sua vida”. Diante dessas breves considerações, vê-se que a sugestionabilidade social não pode ser menosprezada. Ela é o ponto de partida para a legitimação de atos profundamente danosos à Democracia, ao Estado de Direito, às instituições e à cidadania.  Porque, “Não são as nossas ideias que nos fazem otimistas ou pessimistas, mas o otimismo e o pessimismo de origem fisiológica que fazem as nossas ideias” (Miguel Unamuno).

Portanto, lembre-se das palavras de Confúcio, “Há três métodos para ganhar sabedoria: primeiro, por reflexão, que é o mais nobre; segundo, por imitação, que é o mais fácil; e terceiro, por experiência, que é o mais amargo”. Só assim, sabendo discernir é que nos tornamos capazes de nos posicionar autonomamente, sem nos submeter a quaisquer sugestões alheias. Afinal, “A democracia é atividade criadora dos cidadãos e aparece em sua essência quando existe igualdade, liberdade e participação” (Marilena Chaui).