FRANCISCO
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Por
Alessandra Leles Rocha
O homem do diálogo
faz o mundo ficar em silêncio. Esse é o dia da reflexão, da oração e do
respeito. O Papa Francisco se despede aos 88 anos, depois de pavimentar seu
legado à frente da Santa Sé, em pouco mais de uma década.
Como acontece na
historicidade humana, há sempre alguém que assuma a representatividade de
certas ideias. No século XII, São Francisco de Assis se apresenta como a figura
mais alinhada aos ensinamentos do Cristo. No século XXI, Jorge Mario Bergoglio,
escolhe o nome de Francisco para marcar o seu pontificado, por conta do mesmo
alinhamento.
Nesses 12 anos, Francisco
se posicionou de maneira firme em favor das liberdades individuais, da
democracia, dos valores coletivos e ambientais, da igualdade social, do
progresso como avanço científico, tecnológico, econômico e comunitário para o
aperfeiçoamento da condição humana. O que significa que o seu papel mais
importante foi resgatar os pobres de espírito, os quais ainda insistem e
persistem se debatendo contra essas ideias.
E para tal, Francisco
não poupou esforços. Ele soube, como poucos, o valor de saber ouvir para poder
falar. Jamais se furtou a emitir suas opiniões e a abrir espaços ao diálogo interreligioso
e junto às populações. Daí suas palavras serem repletas de franqueza, de
sinceridade, de objetividade. Francisco não se permitiu ficar em cima do muro,
mesmo em situações extremamente polêmicas e sensíveis à Igreja.
Razão pela qual, ele
acabou se tornando um exímio pastor de homens e de almas, pela qualidade que
conseguiu empregar ao cuidado, à proteção e à liderança ofertada aos seus seguidores.
Ele, verdadeiramente, buscou aproximar a diversidade do mundo e a sua Igreja, para
que o ideário de Cristo pudesse prosperar de maneira justa, fraterna e
solidária. Francisco extrapolou o limite das palavras para se fazer compreender
pela autenticidade das suas ações. Como um lembrete: “Tome cuidado com a sua
vida, talvez ela seja o único evangelho que as pessoas leiam” (São Francisco de
Assis).
É claro que, nesse
primeiro momento, a sensação de orfandade parece inevitável. Mas, por tudo que
Francisco representou, ele não nos deixa sós. Como Jesus Cristo e São Francisco
de Assis, seu legado permanecerá atemporal, vivo. Ainda que susceptível às
contestações mundanas, às incompreensões materialistas e às resistências egóicas.
Porque nada é capaz de abalar os alicerces que sustentam as obras do Sagrado.
Afinal, essa é a
missão dos discípulos e seguidores, dar continuidade ao trabalho da fé,
independentemente, de ventos contra ou a favor. Já dizia São Francisco de Assis,
“Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente
você estará fazendo o impossível. Ninguém é suficientemente perfeito, que não
possa aprender com o outro e, ninguém é totalmente estruído de valores que não
possa ensinar algo ao seu irmão”.
Daí a necessidade de permanecer honrando a trajetória de Francisco ao contrário de apenas sentir a sua ausência física ou lamentar sua partida. Certamente, ele conta com isso. Porque, só assim, faremos jus à consciência da lição de que “Todos somos candidatos à tranquilidade imperturbável, mas, para tanto, temos de lutar e vencer a mais dura das batalhas, na guerra com nós mesmos, que carece de vigilância permanente para eliminar os inimigos que muito conhecemos: o ódio, a inveja, o ciúme, a discórdia, a maledicência, a vingança, o orgulho, o egoísmo... São frentes de lutas que devemos travar para vencer a nós mesmos e conhecer o terreno sagrado do nosso coração” (São Francisco de Assis).