Que
Brasil querem os (as) brasileiros (as)???
Por Alessandra
Leles Rocha
Brasil. 525 anos de história. Assim,
encerrado o tempo de viver preso ao passado. A realidade contemporânea do mundo
coloca a Terra Brasilis em xeque-mate. Sim, o movimento ultradireitista
global, que abriga também as demais faces da Direita, nos impõe uma decisão
crucial sobre o futuro.
Até aqui, pouco mais de meio
milênio, o Brasil se permitiu ser a reverberação do seu ranço colonial, em suas
mais diversas camadas. Pois é, nem a independência da Metrópole Portuguesa, nem
a chegada da República, foram suficientes para a construção de uma identidade
nacional alinhada ao espírito democrático, como seria de se esperar. Permanecemos
plutocráticos, conservadores, populistas, ... e; sobretudo, mantenedores de uma
organização social flagrantemente desigual. De modo que o país arrasta suas
mazelas sem grandes perspectivas de mudança.
E esse é o ponto. A grande massa
brasileira, que sustenta o topo da pirâmide social, foi alienada a viver de migalhas,
de raspas e de restos, por assim dizer. Nem mesmo, quando o voto, um direito
cidadão, tornou-se universalizado, o (a) brasileiro (a) não se apropriou do seu
protagonismo a respeito. Haja vista que em plena era tecnológica, com a urna
eletrônica à disposição para tornar o pleito eleitoral ágil e seguro, há quem se
permita condicionar a sua escolha a algum tipo de benesse.
Talvez, seja por isso, que a
escolha de uma figura representativa, do ponto de vista político-partidário,
seja o cerne da deseducação cidadã nacional. Ao depositar a simpatia e/ou o
apoio a um certo indivíduo, isso afasta a população de construir uma análise
crítica e reflexiva, em torno de todos os atributos necessários ao cargo; bem
como, da plataforma política em si.
É, o (a) brasileiro (a) não
escolhe propostas, ideias, projetos. Seu voto é distribuído a partir do
possível carisma do (a) candidato (a)! Algo que não é somente grave, do ponto
de vista cidadão; mas, da manifestação pública de desprezo ao país. O (a)
eleitor (a), no fundo, não sabe o que quer para o seu país. Ele (a) não tem uma
ideia preconcebida a respeito, ainda que consiga manifestar aspectos do seu
desagrado.
Além disso, se ele não sabe o que
quer, o que almeja, para o seu país, como esperar que ele entenda minimamente
as discussões políticas? Sequer sabem o significado dos termos Direita e
Esquerda ou Conservadores e Progressistas. Ou conhecem o trabalho de cada Poder
da República. Ou entendem como funciona o sistema de governo vigente no país, o
Presidencialismo. Ou percebem a importância de um governo democrático na sua
vida cotidiana. Ou reconhecem o grau de prejuízo de certas práxis, como a compra
de votos, por exemplo. Enfim...
A verdade é que durante séculos, na
historicidade brasileira, os poderes e a governança eram privilégios de
pouquíssimos, de modo que aos demais cabia somente aceitar as decisões. Sem ter
vez e voz, a dinâmica do exercício democrático lhes passava, literalmente, à
margem. Portanto, não houve uma construção do aprendizado cidadão. Ao receberem
o direito de voto, a grande maioria da população se viu importante socialmente;
mas, não entendeu o grau de responsabilidade que tal gesto significava.
Por essas e por outras, é que o
Brasil tem vivido entre aventuras e desventuras. Daí eu ter iniciado essa breve
reflexão manifestando que está “encerrado o tempo de viver preso ao
passado”. A expansão do neofascismo contemporâneo, ao redor do planeta, através
da ultradireita, com apoio das demais faces da Direita, torna urgente e
fundamental que as eleições sejam atos de escolhas, verdadeiramente, conscientes
e fundamentadas em uma proposta de país. A pergunta a se fazer, então, é: Que
Brasil eu quero?
Se for um país que pretende desprezar
as liberdades individuais e a democracia representativa, que rechaça os valores
coletivos, que cultua a expansão imperialista baseada na ideia de domínio de
povos mais vulneráveis, que realiza perseguição e morte daqueles tidos como inimigos,
que são incapazes de combater as crises e de levar a nação à prosperidade, que
utilizam as massas para exaltar “valores tradicionais” em detrimento de valores
considerados “modernos”, você terá um Brasil de viés fascista.
Por outro lado, se for um país que
pretende valorizar as liberdades individuais e a democracia representativa, que
exalta os valores coletivos, que discorda da expansão imperialista baseada na
ideia de domínio de povos mais vulneráveis, que não atua na perseguição e morte
de eventuais inimigos, que busca combater as crises e levar a nação à uma
condição de igualdade social, que entende o progresso como avanço científico,
tecnológico, econômico e comunitário para o aperfeiçoamento da condição humana,
você terá um Brasil de viés democrático
e progressista.
Portanto, não é sobre pessoas que temos que discutir. Aliás, porque elas vem e vão, dada a transitoriedade da vida. É sobre que país querem os (as) brasileiros (as) e quais representantes podem efetivamente se ajustar a esse perfil imaginado. Dizia Oscar Wilde que “O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação”. Se não gostamos disso ou daquilo temos que ter em mente uma proposta capaz de substituir o nosso descontentamento e buscar por alguém que esteja o mais próximo de tais projeções. Só assim, haverá uma oportunidade de futuro para o Brasil e para seus cidadãos.