terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

Que Brasil querem os (as) brasileiros (as)???


Que Brasil querem os (as) brasileiros (as)???

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Brasil. 525 anos de história. Assim, encerrado o tempo de viver preso ao passado. A realidade contemporânea do mundo coloca a Terra Brasilis em xeque-mate. Sim, o movimento ultradireitista global, que abriga também as demais faces da Direita, nos impõe uma decisão crucial sobre o futuro.

Até aqui, pouco mais de meio milênio, o Brasil se permitiu ser a reverberação do seu ranço colonial, em suas mais diversas camadas. Pois é, nem a independência da Metrópole Portuguesa, nem a chegada da República, foram suficientes para a construção de uma identidade nacional alinhada ao espírito democrático, como seria de se esperar. Permanecemos plutocráticos, conservadores, populistas, ... e; sobretudo, mantenedores de uma organização social flagrantemente desigual. De modo que o país arrasta suas mazelas sem grandes perspectivas de mudança.

E esse é o ponto. A grande massa brasileira, que sustenta o topo da pirâmide social, foi alienada a viver de migalhas, de raspas e de restos, por assim dizer. Nem mesmo, quando o voto, um direito cidadão, tornou-se universalizado, o (a) brasileiro (a) não se apropriou do seu protagonismo a respeito. Haja vista que em plena era tecnológica, com a urna eletrônica à disposição para tornar o pleito eleitoral ágil e seguro, há quem se permita condicionar a sua escolha a algum tipo de benesse.

Talvez, seja por isso, que a escolha de uma figura representativa, do ponto de vista político-partidário, seja o cerne da deseducação cidadã nacional. Ao depositar a simpatia e/ou o apoio a um certo indivíduo, isso afasta a população de construir uma análise crítica e reflexiva, em torno de todos os atributos necessários ao cargo; bem como, da plataforma política em si.

É, o (a) brasileiro (a) não escolhe propostas, ideias, projetos. Seu voto é distribuído a partir do possível carisma do (a) candidato (a)! Algo que não é somente grave, do ponto de vista cidadão; mas, da manifestação pública de desprezo ao país. O (a) eleitor (a), no fundo, não sabe o que quer para o seu país. Ele (a) não tem uma ideia preconcebida a respeito, ainda que consiga manifestar aspectos do seu desagrado.

Além disso, se ele não sabe o que quer, o que almeja, para o seu país, como esperar que ele entenda minimamente as discussões políticas? Sequer sabem o significado dos termos Direita e Esquerda ou Conservadores e Progressistas. Ou conhecem o trabalho de cada Poder da República. Ou entendem como funciona o sistema de governo vigente no país, o Presidencialismo. Ou percebem a importância de um governo democrático na sua vida cotidiana. Ou reconhecem o grau de prejuízo de certas práxis, como a compra de votos, por exemplo. Enfim...

A verdade é que durante séculos, na historicidade brasileira, os poderes e a governança eram privilégios de pouquíssimos, de modo que aos demais cabia somente aceitar as decisões. Sem ter vez e voz, a dinâmica do exercício democrático lhes passava, literalmente, à margem. Portanto, não houve uma construção do aprendizado cidadão. Ao receberem o direito de voto, a grande maioria da população se viu importante socialmente; mas, não entendeu o grau de responsabilidade que tal gesto significava.

Por essas e por outras, é que o Brasil tem vivido entre aventuras e desventuras. Daí eu ter iniciado essa breve reflexão manifestando que está “encerrado o tempo de viver preso ao passado”. A expansão do neofascismo contemporâneo, ao redor do planeta, através da ultradireita, com apoio das demais faces da Direita, torna urgente e fundamental que as eleições sejam atos de escolhas, verdadeiramente, conscientes e fundamentadas em uma proposta de país. A pergunta a se fazer, então, é: Que Brasil eu quero?

Se for um país que pretende desprezar as liberdades individuais e a democracia representativa, que rechaça os valores coletivos, que cultua a expansão imperialista baseada na ideia de domínio de povos mais vulneráveis, que realiza perseguição e morte daqueles tidos como inimigos, que são incapazes de combater as crises e de levar a nação à prosperidade, que utilizam as massas para exaltar “valores tradicionais” em detrimento de valores considerados “modernos”, você terá um Brasil de viés fascista.

Por outro lado, se for um país que pretende valorizar as liberdades individuais e a democracia representativa, que exalta os valores coletivos, que discorda da expansão imperialista baseada na ideia de domínio de povos mais vulneráveis, que não atua na perseguição e morte de eventuais inimigos, que busca combater as crises e levar a nação à uma condição de igualdade social, que entende o progresso como avanço científico, tecnológico, econômico e comunitário para o aperfeiçoamento da condição humana, você terá  um Brasil de viés democrático e progressista.

Portanto, não é sobre pessoas que temos que discutir. Aliás, porque elas vem e vão, dada a transitoriedade da vida. É sobre que país querem os (as) brasileiros (as) e quais representantes podem efetivamente se ajustar a esse perfil imaginado. Dizia Oscar Wilde que “O descontentamento é o primeiro passo na evolução de um homem ou de uma nação”. Se não gostamos disso ou daquilo temos que ter em mente uma proposta capaz de substituir o nosso descontentamento e buscar por alguém que esteja o mais próximo de tais projeções. Só assim, haverá uma oportunidade de futuro para o Brasil e para seus cidadãos.