Dia 1...
Por Alessandra
Leles Rocha
O primeiro dia de cada ano é como
atravessar um portal. Não sabemos exatamente quais serão as experiências, os
acontecimentos, a dinâmica que irá nos conduzir através do tempo. Ainda que se
tenha planos, metas, projetos, aspirações, o componente do imprevisível não
pode ser desprezado. O que é muito bom,
porque traz uma pitada de emoção à nossa essência!
Apesar de ser um dia geralmente
quieto e silencioso, visto que muita gente está se refazendo da festança até as
altas horas da madrugada, essa característica traz em si uma sabedoria
importante, ou seja, pensar. Pois é, sem
grandes coisas para fazer, colocar o corpo, a mente e o espírito em comunhão
para o pensamento é fundamental.
Hora de alinhar e alinhavar
nossas expectativas e projeções a partir de um cenário mais factível e menos
idealizante a fim de se evitar decepções e frustrações desnecessárias. Algo que
só a serenidade e o bom senso são capazes de promover! Daí não se poder
desperdiçar a oportunidade tão valiosa.
Afinal, ainda que muitos não
percebam ou se deem conta, o olhar que lançamos sobre o primeiro dia do ano tem
sim, um encanto de uma primeira vez. Por dentro e fora é como se estivéssemos diante
da mais pura novidade, porque somos sutilmente instigados pelas emoções e sentimentos
a dissecar a vida em outras camadas.
O tempo, sob a força enigmática de
uma preguiça quase infantil, não foi tomado pelos impactos comuns do cotidiano.
Não foi tensionado, nem ferido, nem desgastado, ... Está na condição sublime de
desabrochar lentamente as suas pétalas. Minuto a minuto. Hora a hora. Deixando-se
encantar por cada movimento.
E não há melhor remédio para alma
do que esse! Porque não podemos ceder à ilusão de que o ano será assim, na sua
inteireza. Antes de tudo, ele tem o compromisso basilar de proporcionar uma
diversidade de lições, que nem sempre estarão ao nosso gosto. De modo que abastecer-nos
desse breve sopro pacificador é fundamental para ter forças suficientes ao
cumprimento da jornada a seguir.
O primeiro dia do ano, então, precisa
resgatar a nossa pureza de alma. Os caminhos trilhados até ali são armazenados
em memórias. Voltamos, então, a ser páginas em branco. Livres, leves, soltas, prontas
para novas histórias, novos encontros, novas conquistas, novas realizações, ...
Os quais poderão ou não dar um sentido maior e mais completo ao que já foi, em
algum tempo, vivido.
Esse processo de modelagem entre
o tempo, as conjunturas da vida e todas as nuances da nossa identidade é que estabelece
a construção do nosso desenvolvimento, da nossa evolução. O que explica o motivo
de jamais sermos os mesmos ano após ano. Esse fenômeno é algo que está acima
das nossas vontades e quereres. Simplesmente é assim.
Feita essa breve reflexão, creio
que um bom conselho para esse primeiro dia de 2025 seja “Termine cada dia e
esteja contente com ele. Você fez o que pode. Alguns enganos e tolices se
infiltraram indubitavelmente; esqueça-os tão logo você consiga. Amanhã é um
novo dia; comece-o bem e serenamente com um espírito elevado demais para ser
incomodado pelas tolices do passado” (Ralph Waldo Emerson). Pois, como
escreveu Martha Medeiros, “Hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta
mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar” 1.