quarta-feira, 1 de janeiro de 2025

Dia 1...

Dia 1...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

O primeiro dia de cada ano é como atravessar um portal. Não sabemos exatamente quais serão as experiências, os acontecimentos, a dinâmica que irá nos conduzir através do tempo. Ainda que se tenha planos, metas, projetos, aspirações, o componente do imprevisível não pode ser desprezado.  O que é muito bom, porque traz uma pitada de emoção à nossa essência!

Apesar de ser um dia geralmente quieto e silencioso, visto que muita gente está se refazendo da festança até as altas horas da madrugada, essa característica traz em si uma sabedoria importante, ou seja, pensar.  Pois é, sem grandes coisas para fazer, colocar o corpo, a mente e o espírito em comunhão para o pensamento é fundamental.

Hora de alinhar e alinhavar nossas expectativas e projeções a partir de um cenário mais factível e menos idealizante a fim de se evitar decepções e frustrações desnecessárias. Algo que só a serenidade e o bom senso são capazes de promover! Daí não se poder desperdiçar a oportunidade tão valiosa.

Afinal, ainda que muitos não percebam ou se deem conta, o olhar que lançamos sobre o primeiro dia do ano tem sim, um encanto de uma primeira vez. Por dentro e fora é como se estivéssemos diante da mais pura novidade, porque somos sutilmente instigados pelas emoções e sentimentos a dissecar a vida em outras camadas.

O tempo, sob a força enigmática de uma preguiça quase infantil, não foi tomado pelos impactos comuns do cotidiano. Não foi tensionado, nem ferido, nem desgastado, ... Está na condição sublime de desabrochar lentamente as suas pétalas. Minuto a minuto. Hora a hora. Deixando-se encantar por cada movimento.

E não há melhor remédio para alma do que esse! Porque não podemos ceder à ilusão de que o ano será assim, na sua inteireza. Antes de tudo, ele tem o compromisso basilar de proporcionar uma diversidade de lições, que nem sempre estarão ao nosso gosto. De modo que abastecer-nos desse breve sopro pacificador é fundamental para ter forças suficientes ao cumprimento da jornada a seguir.

O primeiro dia do ano, então, precisa resgatar a nossa pureza de alma. Os caminhos trilhados até ali são armazenados em memórias. Voltamos, então, a ser páginas em branco. Livres, leves, soltas, prontas para novas histórias, novos encontros, novas conquistas, novas realizações, ... Os quais poderão ou não dar um sentido maior e mais completo ao que já foi, em algum tempo, vivido.

Esse processo de modelagem entre o tempo, as conjunturas da vida e todas as nuances da nossa identidade é que estabelece a construção do nosso desenvolvimento, da nossa evolução. O que explica o motivo de jamais sermos os mesmos ano após ano. Esse fenômeno é algo que está acima das nossas vontades e quereres. Simplesmente é assim.

Feita essa breve reflexão, creio que um bom conselho para esse primeiro dia de 2025 seja “Termine cada dia e esteja contente com ele. Você fez o que pode. Alguns enganos e tolices se infiltraram indubitavelmente; esqueça-os tão logo você consiga. Amanhã é um novo dia; comece-o bem e serenamente com um espírito elevado demais para ser incomodado pelas tolices do passado” (Ralph Waldo Emerson). Pois, como escreveu Martha Medeiros, “Hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar” 1.



1 MEDEIROS, M. Aprendendo a desaprender. In: Montanha-russa. Porto Alegre: L&PM Editores, 2003.