quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Uma Nova Ordem ...

Uma Nova Ordem ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Não é novidade que a ultradireita venha se disseminando e ocupando espaços no cenário geopolítico global, trazendo à tona uma aura de medo e toxicidade. Contudo, essa primeira impressão não responde a todas as conjecturas que orbitam esse assunto. O extremismo da ultradireita não estabelece uma convergência ideológica suficientemente capaz de agregar as individualidades identitárias nacionais. Portanto, esse é o ponto de partida para se olhar além das aparências.

Bem, para início de conversa, a empreitada ultradireitista contemporânea esbarra em contextos muito diferentes daqueles vividos na metade do século XX, quando se pensa a luz da Segunda Guerra Mundial e suas reverberações. Passadas quase nove décadas, a reorganização das relações políticas, econômicas, sociais e diplomáticas se dá sob outros vieses e perspectivas. Aliás, nesse exato momento, a humanidade experencia o horror dos campos minados por guerras e conflitos em curso, sem uma definição clara e exata de quem são os aliados e os inimigos em disputa.

De modo que os planos da ultradireita enfrentam desafios reais para obter êxito. A começar pela dificuldade de coesão em torno de uma liderança maior. Cada voz da ultradireita contemporânea já se posiciona como herdeira desse lugar, o que demonstra a possibilidade de muitos atritos na busca por uma escolha de consenso. Depois, os cenários internos dessas nações também não se mostram coesos, o suficiente, nem para arrebanhar multidões em apoio às propostas ultradireitistas, tampouco, para se sujeitar às eventuais imposições arbitrárias e tirânicas.

Por fim, a tecnologização contemporânea marca uma desafiadora dicotomia. Se por um lado ela colabora para a disseminação das ideias, a agregação de apoiadores e simpatizantes independentemente da geografia, a manipulação discursiva e comportamental, ... por outro, ela oportuniza cenários de disputas internas que favorecem a fragmentação e o esfacelamento de forças e a manifestação de vulnerabilidades argumentativas e de propósitos. Em suma, o panorama da ultradireita global não é suficientemente consistente para sustentar as suas pretensões.  

Aqui, ali e acolá, por onde quer que esteja a ultradireita, é fácil detectar suas imperfeições e fraturas. Ávida pelo poder, em suas mais diferentes formas, ela se perde em si mesma, nas suas dissonâncias. Ora, a fogueira das vaidades sempre arde! Sobretudo, porque um projeto dessa envergadura, ou seja, global, demanda um alinhamento, quase perfeito, para que haja uma descentralização do poder e ele possa ser colocado em prática com reais chances de êxito. Situações, portanto, que não apenas afetam o processo e comprometem os resultados; mas, que podem inviabilizá-lo completamente.

Enquanto isso, o mundo não para de girar e, nem tampouco, de flertar com o imponderável. Entre construções e desconstruções conjunturais, as diferentes realidades ultradireitistas vão sendo impactadas pela dinâmica da contemporaneidade e seus desdobramentos. Eventos extremos do clima. Epidemias. Insegurança alimentar. Fracassos econômicos. Tensões e instabilidades sociais. Deslocamentos forçados. Interferências teocráticas. Reafirmações imperialistas. Enfim...    

De modo que, sendo bastante realista, não me parece que a Nova Ordem, a qual a ultradireita pretende implantar no mundo, irá se efetivar. Creio sim, que o planeta caminha para um novo status, mas por força da organização conjuntural de si mesmo. Algo além das vontades e quereres de quem quer que seja; mas, dos grandes e metamórficos Efeitos Borboleta que acontecem a todo instante entre nós. Algo sobre o qual não temos controle; mas, que se impõe sobre nós de maneira avassaladora.

Afinal, para quem não sabe, o princípio que rege o planeta e a vida é o equilíbrio. Das mais simples às mais complexas estruturas, tudo é guiado para alcançar o equilíbrio, evitando perdas e prejuízos desnecessários. Assim, até mesmo, as situações mais caóticas não fogem a essa realidade. Vira daqui mexe dali e o propósito é sempre a estabilidade, a constância, ainda que as aparências possam querer contrariar.  

Como diria Fernando Sabino, “No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim”. Concordo. Estamos em franca transformação. Tem muita história sendo passada a limpo. Velhos paradigmas sendo desconstruídos e substituídos. Muita gente chegando e muita gente saindo de cena. Novas descobertas. ... Mas, o fim não tarda a chegar, o equilíbrio não tarda a chegar. Porque, ele sempre chega. Queiramos aceitar isso ou não.