Uma Nova
Ordem ...
Por Alessandra
Leles Rocha
Não é novidade que a ultradireita
venha se disseminando e ocupando espaços no cenário geopolítico global, trazendo
à tona uma aura de medo e toxicidade. Contudo, essa primeira impressão não
responde a todas as conjecturas que orbitam esse assunto. O extremismo da
ultradireita não estabelece uma convergência ideológica suficientemente capaz
de agregar as individualidades identitárias nacionais. Portanto, esse é o ponto
de partida para se olhar além das aparências.
Bem, para início de conversa, a empreitada
ultradireitista contemporânea esbarra em contextos muito diferentes daqueles
vividos na metade do século XX, quando se pensa a luz da Segunda Guerra Mundial
e suas reverberações. Passadas quase nove décadas, a reorganização das relações
políticas, econômicas, sociais e diplomáticas se dá sob outros vieses e
perspectivas. Aliás, nesse exato momento, a humanidade experencia o horror dos
campos minados por guerras e conflitos em curso, sem uma definição clara e exata
de quem são os aliados e os inimigos em disputa.
De modo que os planos da
ultradireita enfrentam desafios reais para obter êxito. A começar pela
dificuldade de coesão em torno de uma liderança maior. Cada voz da ultradireita
contemporânea já se posiciona como herdeira desse lugar, o que demonstra a
possibilidade de muitos atritos na busca por uma escolha de consenso. Depois,
os cenários internos dessas nações também não se mostram coesos, o suficiente, nem
para arrebanhar multidões em apoio às propostas ultradireitistas, tampouco,
para se sujeitar às eventuais imposições arbitrárias e tirânicas.
Por fim, a tecnologização contemporânea
marca uma desafiadora dicotomia. Se por um lado ela colabora para a
disseminação das ideias, a agregação de apoiadores e simpatizantes independentemente
da geografia, a manipulação discursiva e comportamental, ... por outro, ela oportuniza
cenários de disputas internas que favorecem a fragmentação e o esfacelamento de
forças e a manifestação de vulnerabilidades argumentativas e de propósitos. Em suma,
o panorama da ultradireita global não é suficientemente consistente para
sustentar as suas pretensões.
Aqui, ali e acolá, por onde quer
que esteja a ultradireita, é fácil detectar suas imperfeições e fraturas. Ávida
pelo poder, em suas mais diferentes formas, ela se perde em si mesma, nas suas dissonâncias.
Ora, a fogueira das vaidades sempre arde! Sobretudo, porque um projeto dessa
envergadura, ou seja, global, demanda um alinhamento, quase perfeito, para que haja
uma descentralização do poder e ele possa ser colocado em prática com reais
chances de êxito. Situações, portanto, que não apenas afetam o processo e
comprometem os resultados; mas, que podem inviabilizá-lo completamente.
Enquanto isso, o mundo não para
de girar e, nem tampouco, de flertar com o imponderável. Entre construções e
desconstruções conjunturais, as diferentes realidades ultradireitistas vão
sendo impactadas pela dinâmica da contemporaneidade e seus desdobramentos. Eventos
extremos do clima. Epidemias. Insegurança alimentar. Fracassos econômicos. Tensões
e instabilidades sociais. Deslocamentos forçados. Interferências teocráticas. Reafirmações
imperialistas. Enfim...
De modo que, sendo bastante
realista, não me parece que a Nova Ordem, a qual a ultradireita pretende
implantar no mundo, irá se efetivar. Creio sim, que o planeta caminha para um
novo status, mas por força da organização conjuntural de si mesmo. Algo além
das vontades e quereres de quem quer que seja; mas, dos grandes e metamórficos
Efeitos Borboleta que acontecem a todo instante entre nós. Algo sobre o qual
não temos controle; mas, que se impõe sobre nós de maneira avassaladora.
Afinal, para quem não sabe, o
princípio que rege o planeta e a vida é o equilíbrio. Das mais simples às mais
complexas estruturas, tudo é guiado para alcançar o equilíbrio, evitando perdas
e prejuízos desnecessários. Assim, até mesmo, as situações mais caóticas não
fogem a essa realidade. Vira daqui mexe dali e o propósito é sempre a estabilidade,
a constância, ainda que as aparências possam querer contrariar.
Como diria Fernando Sabino, “No
fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim”. Concordo.
Estamos em franca transformação. Tem muita história sendo passada a limpo. Velhos
paradigmas sendo desconstruídos e substituídos. Muita gente chegando e muita gente
saindo de cena. Novas descobertas. ... Mas, o fim não tarda a chegar, o equilíbrio
não tarda a chegar. Porque, ele sempre chega. Queiramos aceitar isso ou não.