sábado, 28 de dezembro de 2024

Entre chegadas e partidas ... Assim, nos ensina o tempo!

Entre chegadas e partidas ... Assim, nos ensina o tempo!

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Tudo é movimento, é transformação. Os corpos. A vida. Os caminhos. As emoções. Os sentimentos. A criatividade. Enfim... De modo que a dinâmica temporal não poderia ser diferente. Nenhum dia é igual ao outro. Nenhum ano é igual ao outro. Todos deixam seus rastros, suas marcas, seus aprendizados, suas lições, ...

Assim, 2024, com suas 8784 horas não poderia ser diferente, sob essa perspectiva de análise. Entretanto, concordem ou não com as minhas considerações, ele me pareceu bem mais do que um simples ano; mas, um verdadeiro ponto de inflexão para a humanidade.  

Seus 366 dias foram atravessados por acontecimentos metamórficos importantes e significativos. Tudo de uma maneira muito intensa, muito impactante. Não falo apenas de fenômenos ligados aos eventos extremos do clima, os quais foram muitos e diversamente distribuídos pelo planeta; mas, de um conjunto de outros fatos engenhosamente organizados pelas conjunturas da vida.

Daqui e dali fomos sim, surpreendidos pelo inimaginável, pelo insólito. Como se o roteiro da saga humana sobre a Terra fosse revisado a cada instante e trouxesse reviravoltas de deixar qualquer um de queixo caído. Não foram raras as vezes em que tive a sensação de olhar para o mundo sob constante aparo de velhas arestas. O baú da história foi revirado pelo avesso. O que nos permitiu ver e sentir a partir de novos pontos de vista.  

Quem diria, até os indivíduos mais blasé, experenciaram o desconforto de se ver à flor da pele! Afinal, descobrimos pelos fatos e acontecimentos as fragilidades e as vulnerabilidades de uma historicidade mal contada. Todo o verniz empregado para garantir uma pseudoperfeição às imagens, não resistiu ao tempo. Esfacelou, craquelou, desnudou as imperfeições, camada por camada. Nos obrigando a um movimento de análise crítico-discursiva capaz de promover um verdadeiro resgate histórico.

O que não é pouca coisa! As personagens, as máscaras, o teatro, de repente, se desfizeram! A vida como ela é, de fato, apareceu sem retoques. Com todas as suas faces, suas virtudes e seus defeitos. E até mesmo, antes de considerarmos esse processo digerível ou não, fomos subitamente questionados sobre o nosso papel, a nossa participação, a respeito. Fomos retirados de nossas pseudo zonas de conforto!

Distante de acasos ou coincidências, fato é que 2024, o ano em que se relembra as duas décadas do fatídico deslocamento de placas tectônicas debaixo do Oceano Índico, que atingiu a Indonésia, a Tailândia e a Índia, dada a formação de uma Tsunami que matou mais de 227 mil pessoas na Ásia, a humanidade teve que lidar com questões ligadas à sua sobrevivência. De diferentes maneiras foi sim, um ano catártico!

Uma breve retrospectiva para se perceber a convergência dos assuntos para o desequilíbrio vigente entre o Ser e o Ter. A dinâmica social da raça humana foi colocada em xeque, a partir de pontos de vista bastante coletivos. O consumo. O empobrecimento. O adoecimento. O envelhecimento. O meio ambiente. O clima. A desigualdade. A violência. Os preconceitos. ...

E se não me engano, a apatia, os silêncios, as omissões, em torno desses cenários desapareceu. Como se o jogo tivesse mudado de lado, o instinto de sobrevivência voltou a pulsar. A mobilização social esteve presente em diversos momentos e lugares, fazendo pressão para as mudanças, as transformações, a defesa dos direitos humanos. Milhares de pessoas fizeram valer o seu protagonismo cidadão e humanitário.

Então, não me parece equivocado pensar que 2024 foi o primeiro ano do resto de nossas vidas.  Um aceno alvissareiro para novos tempos. Tudo bem, que não me iludo em pensar que o futuro será em mares de calmaria! Há muito por fazer, por transformar, por construir; mas, as possibilidades apontam para novas bases, novos fundamentos, novos valores, a guiar e a embalar a humanidade.  

Afinal, como escreveu Heráclito de Éfeso, “Nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio ... pois na segunda vez o rio já não é o mesmo, nem tão pouco o homem! ...”. A metamorfose da humanidade está em curso, não pode parar, não há como parar. O que vimos, vivemos, experenciamos, evoluímos, desconstruímos, ..., em 2024, segue conosco pela estrada da vida, em todos os próximos anos que estão reservados a nós.

Desse modo, quando olhar para 2025, lembre-se: “Diz-se que, momentos antes de um rio cair no oceano ele treme de medo. Olha para trás, para toda a jornada, os cumes, as montanhas, o longo caminho sinuoso através das florestas, através dos povoados, e vê à sua frente um oceano tão vasto que entrar nele nada mais é do que desaparecer para sempre. Mas não há outra maneira. O rio não pode voltar. Ninguém pode voltar. Voltar é impossível na existência. Podemos apenas ir em frente. O rio precisa se arriscar e entrar no oceano. E somente quando ele entra no oceano é que o medo desaparece. Porque apenas então o rio compreende que não se trata de desaparecer no oceano, mas tornar-se oceano. Por um lado é desaparecimento e por outro lado é renascimento” (Gibran Khalil Gibran). Feliz Ano Novo!!!