Dezembros...
Por Alessandra
Leles Rocha
Todo Dezembro é assim, muitas
promessas de amor, de paz, de união, de fraternidade, ... Acontece que palavras
sem atitude, sem transformação íntima, se perdem no vento.
Vejam, são onze meses de
preparação até a chegada de Dezembro. Para muitos, pode parecer pouco. Mas, na
verdade, não é. Esse tempo é suficiente para transmutar nossas
arestas humanas e tornar-nos seres melhores, em diferentes sentidos.
Ainda que complexa e aparentemente
difícil, essa não é uma tarefa nova. Afinal de contas, evoluir é parte
integrante do desenvolvimento humano. Construir, desconstruir, ressignificar,
são movimentos intrínsecos à nossa existência eternamente inacabada.
Sim, temos que aprender a aceitar
que somos seres incompletos. Passamos uma vida inteira à procura de uma tal
perfeição e ela jamais é atingida. Nem mesmo os mártires, os santos, foram
perfeitos.
Daí a necessidade de fazer de
Dezembro o marco, o ponto de partida, das nossas metamorfoses. Um passo de cada
vez, de Dezembro a Dezembro, rumo a uma existência de luz, de novas práxis, de
novos paradigmas, de novos olhares sobre o mundo e sobre nós mesmos.
Não é à toa que Dezembro nos
conclama a renascer. Ora, para isso é preciso desapegar das velhas amarras, lançar
fora tudo o que não acrescenta mais às nossas vidas, reestabelecer uma ordem de
prioridades que seja efetivamente consciente, assumindo um compromisso real com
a nossa própria missão existencial.
Por isso, Dezembro é um tempo de
fé, o qual ultrapassa os limites da religiosidade. Independentemente da crença de
cada indivíduo, Jesus Cristo é sim, um símbolo do renascimento humano, o qual
cada pessoa pode se inspirar e abstrair grandes e valiosas lições.
A saga do menino Nazareno nos
transporta para um resgate de valores e de princípios, à revelia das nossas próprias
convicções. Em plena contemporaneidade, quando honestidade, respeito,
responsabilidade, tolerância, humildade, empatia, igualdade, solidariedade,
gratidão, diversidade, têm estado tão esquecidos e negligenciados, Ele
surge silenciosamente para nos relembrar.
Basta pensar Nele! Seja em
reflexão ou em prece. De repente, somos conduzidos a um processo de análise
quanto ao nosso papel no mundo. Quem somos? Que sementes temos plantado pelo caminho?
Que melhorias conseguimos apurar em
nossa evolução? Que valores têm preenchido os nossos dias? ...
Talvez, isso explique as razões
dos Dezembros terem um cenário, de algum modo, melancólico. Um céu nublado e
sisudo. Dias de chuva intensa. Um ar mais frio para rebater o calor tropical. Um
sentimento de introspecção nos olhos e na alma. Uma certa emotividade à flor da
pele.
Porque os Dezembros são convites
para o amanhã. Depois dele, um novo ciclo recomeça. E precisa vir embalado pela
transformação. Afinal, ninguém quer mais do mesmo! Mas, não se trata apenas de
uma mudança externa. É fundamental mudar por dentro, nas entranhas, no mais
profundo do (in)consciente.
Somente dessa forma, os Dezembros
valem a pena, fazem sentido. Essa é a verdadeira festa! Ela transborda a alma e
contagia o mundo ao redor. Dezembros são trinta e um dias para nos permitirmos
ofertar o melhor que existe em nós, pequenos gestos, palavras edificantes,
sorrisos genuínos, abraços fraternos, lágrimas de gratidão, ...
Portanto, antes que esse Dezembro se despeça, não deixe que ele escape sem que você tenha descoberto uma nova perspectiva de vivê-lo, uma nova face de si mesmo. No fundo, Dezembros marcantes são aqueles em que se consegue entender que “... a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade” (Martha Medeiros – Felicidade Realista).