(In)
Justiça Social na terra dos Homens
Por
Alessandra Leles Rocha
Segundo a Organização das Nações
Unidas ontem foi comemorado o Dia Mundial da Justiça Social. Mas será que temos o que celebrar? Ao
contrário de uma coexistência harmônica e pacifica entre os seres humanos, cada
um parece mais preocupado consigo do que com os demais; fazendo com que a fome
e a sede de poder vertam a miséria e a indigência pelos quatro cantos do
planeta.
Vejo pouco ou quase nenhum sinal de
desenvolvimento e progresso nesse século XXI; na medida em que os responsáveis
pela dinâmica desse processo estão cada vez mais abandonados e limitados na sua
cidadania e direitos humanos. Estamos em meio às guerras declaradas e
conflagradas, que visivelmente expõem o terror e a barbárie aos julgamentos dos
homens. Mas, talvez pior do que isso sejam as guerras invisíveis, sutis e
perversas que acontecem sob os discursos inconsistentes e demagógicos, imbuídos
totalmente do extermínio dos sonhos e da dignidade cidadã; permitindo
silenciosamente que a penúria e o desespero se instalem e corroam as entranhas
da sociedade.
Sei que em momentos solenes de
reflexão profunda é legítimo um minuto de silêncio; mas, em nome da realidade
que traduz a mais plena Injustiça Social, omitir as palavras pelo tempo que for
pode ser mais danoso. É preciso falar. É preciso cobrar a responsabilidade, a
lisura, o comprometimento, a ética, e tudo mais que componha o fardo de quem
assume governar. Muitos culpam os modelos econômicos vigentes, como os grandes
responsáveis pela ausência de Justiça Social no mundo; mas, sem a coragem e a
ousadia dos seres humanos para colocá-los em prática, mesmo sabendo dos
terríveis impactos sociais que eles poderiam causar, eles não resistiriam.
Na verdade, ao ser humano cabe
bater no peito e acusar a máxima culpa. Há um germe defensor da ‘lei do mais
forte’ dentro de cada um. Oprimir, subjugar, condenar, escravizar... parece
fazer parte do manual de etiqueta da humanidade. Inclusive, há quem sinta
prazer nisso; em sentir-se superior aos demais. O fogo do poder cega e
enlouquece alguns, enquanto arde forte sobre o restante. Nada parece conter os
avanços dessa práxis absurda; daí, uma sensação terrível de abandono à própria sorte.
Cada dia mais é difícil se deparar
com as notícias nem um pouco promissoras. É só violência de toda natureza em
exposição pública. A vida sendo colocada no fim da fila das prioridades, valendo
bem menos que um vintém. Às vezes, chego a pensar se não estamos diante dos
tais ‘cavaleiros do Apocalipse’ 1, tamanho
o horror. Como se a Justiça só encontrasse obstáculos para transpor esse
caminho de trevas e lágrimas, na tentativa de trazer alento a tantos
desafortunados.
É! Porque para alcançar o mínimo
dessa Justiça Social almejada e, garantida no papel por tantos governos, o Poder
Judiciário tem interferido mais e mais na defesa dos direitos do cidadão. Essa ‘judicialização
do poder’ se por um lado é um fiapo de esperança que nos resta; por outro, é a manifestação
explícita do fracasso das práticas de governança sejam elas democráticas ou
não. Entretanto, também não é adequado que essa conduta permaneça ad eternum; pois, isso significaria
legitimar o fomento de uma ‘esperteza’ tóxica que persiste institucionalizada
em alguns ramos da sociedade.
Já dizia Rui Barbosa 2, “A justiça atrasada não é justiça;
senão injustiça qualificada e manifesta”. Portanto, minguadas as expectativas
de júbilo por eventuais conquistas, resta-nos permanecer lutando por um
processo metamórfico da sociedade, o qual se traduza na edificação de uma
Justiça Social verdadeira, a partir de forças muito mais conjunturais do que
propriamente dos indivíduos. Às vezes, a preguiça humana de sair da zona de
conforto é tamanha que só mesmo o peso e a gravidade da situação são capazes de
demovê-lo da sua inércia repousante. Porém, quando a vida é quem dá as cartas,
esteja certo que o nível de exigência é muito maior; e isso, pode até tardar,
mas não falha jamais.
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