quarta-feira, 26 de novembro de 2025

A semiótica e o Poder


A semiótica e o Poder

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Hoje é dia de refletir sobre capital político, ou seja, uma forma de capital, um recurso, que os indivíduos e grupos utilizam para influenciar e agir dentro do campo político. Não se trata apenas de dinheiro, que é o capital econômico; mas, todo tipo de reconhecimento, popularidade, prestígio social e a legitimidade, que resumem o chamado capital simbólico.

Bom, muitos já devem saber que hoje, o Presidente da República sancionou a lei que amplia a faixa de isenção do Imposto de Renda Pessoa Física para quem ganha até R$ 5 mil por mês e estabelece descontos para rendas de até R$ 7.350 mensais, em cerimônia que contou com a presença de diversos membros do Executivo e Legislativo, exceto os Presidentes da Câmara e do Senado federal.

Daí a importância dessa reflexão. Desde a ideia estapafúrdia da chamada PEC da Blindagem, que não só gerou uma gigantesca mobilização nacional em sua oposição; mas, também engrossou o coro contra a Anistia aos que atentaram recentemente contra a Democracia, a simpatia e o apoio da opinião pública em relação ao Congresso Nacional; sobretudo, a Câmara dos Deputados, foi negativamente afetada.

Bem, 2026 é logo ali! Ano de eleição. Em suma, ano de conquistar votos. E não é novidade para ninguém, que uma parcela significativa do Congresso Nacional trabalha arduamente em oposição ao Executivo progressista vigente.

O que significa que a lei sancionada, hoje, se pudesse ter sido obstaculizada e enterrada no fundo de uma gaveta, por essa gente, esse teria sido o desfecho da história.

Mas, diante do clamor popular, o que fazer, não é mesmo?! Tiveram que engolir seco e aprovaram. Fato que lhes rendeu um bocadinho de capital político, para não sair totalmente de mãos abanando.

A questão é que poderiam ter lucrado um pouco mais desse capital simbólico, tão importante às pretensões eleitoreiras! Se tivessem pensado melhor teriam ido ao evento.

Para a história tudo é registro, e na grande foto do dia, o grande protagonista da fotografia foi o Presidente da República, que naturalmente já desfruta de simpatia e de apoio, entre um espectro largo e em franco crescimento, da opinião pública, segundo apontam pesquisas.

Afinal, mesmo diante de movimentos contrários, de traições abjetas, de conspirações baixas e vulgares, tecidos dentro do Congresso Nacional por seus opositores, seu governo desafia as impossibilidades e reafirma diariamente os seus propósitos em nome de um país mais justo, solidário e democrático.  

O resultado disso é, nada mais nada menos, capital político junto ao seu eleitorado, opondo-se a realidade daqueles que insistem em atuar na contramão das suas obrigações constitucionais. Aliás, ultimamente, o que mais se viu e ouviu, no país, foi a expressão “Congresso inimigo do povo”.

Aí, lembrei-me das seguintes palavras do filósofo chinês Confúcio, "A palavra convence, mas o exemplo arrasta". Por isso, os Presidentes das respectivas casas legislativas nacionais, a fim de influenciar e moldar o potencial da suas lideranças político-partidárias não deveriam ter deixado de comparecer a um momento tão importante para o eleitorado brasileiro.

A lei sancionada afeta diretamente as classes C D e E, ou seja, 81% da população brasileira, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Então, essa seria uma excelente oportunidade, enquanto lideranças expoentes do Legislativo Federal, de desconstruírem os resultados de pesquisas recentes que sinalizaram uma maioria dos brasileiros desaprovando o trabalho do Congresso Nacional.

Na verdade, esse seria apenas um pontapé inicial para a transformação da percepção popular, tendo em vista de que todas as vezes em que o Congresso tenta boicotar ou sabotar o governo vigente, o que ele faz, e com maestria, é somente priorizar interesses próprios, incluindo questões orçamentárias e privilégios, em detrimento das dificuldades enfrentadas pela população.

Portanto, é hora de rever o timing da política, caros Deputados e Senadores da República! O seu compromisso constitucional demanda tomadas de decisões assertivas, as quais envolvem a expressão de interesses diversos dentro de uma atuação voltada para a construção de uma sociedade melhor e distante do autoritarismo.

Basta de politicagem! De objetivar a satisfação de interesses pessoais ou de grupos restritos, em detrimento do bem comum. Da trocas de favores, do clientelismo, da corrupção, das manobras e discursos vazios, focando no benefício individual e no uso indevido do poder público.

A politicagem prejudica o capital político! Desbota a foto, a imagem, o discurso!  Ao focar em manobras e interesses pessoais em vez de políticas públicas que visam o bem-estar social, há uma descredibilização da classe político-partidária.

E isso gera desconfiança e um sentimento de que a ação política se resume a um jogo de poder vazio, distante das necessidades reais da população, desgastando e arruinando, dessa forma, quaisquer possibilidades de garantir capital simbólico.

Segundo Anaïs Nin, escritora francesa, “A origem da mentira está na imagem idealizada que temos de nós próprios e que desejamos impor aos outros”. Portanto, não se esqueçam de que a semiótica e o poder estão intrinsecamente ligados; sobretudo, na contemporaneidade.  

Afinal de contas, enquanto a semiótica estuda o significado criado pelos signos - palavras, imagens, símbolos-, o poder se manifesta na forma como esses signos são usados ​​para moldar percepções, influenciar comportamentos e legitimar discursos e apresentações.