quinta-feira, 27 de novembro de 2025

A errática politização do Meio Ambiente


A errática politização do Meio Ambiente

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

É tudo muito simples, a errática politização do Meio Ambiente pelo Congresso Nacional destrói um pouco mais do seu capital político junto ao seu próprio eleitor. 

Ora, ao transformar questões ecológicas em disputas de poder, onde diferentes grupos manifestam suas perspectivas sob um enviesamento, muitas vezes, tendencioso à fundamentação científica a respeito, coloca-se em risco o próprio país.

E foi exatamente isso que aconteceu com o Congresso rejeitando 52 vetos ao Projeto de Lei n.º 2159, de 2021, conhecido como PL da Devastação. Ninguém discute ou questiona o direito constitucional do Congresso na derrubada de vetos.

O que causa espanto, indignação e discussão é o descompromisso em relação à importância de se considerar todos os aspectos técnico-científicos que embasam o assunto.

Nesse caso, por exemplo, a atitude do Congresso Nacional manifesta, sem sombra de dúvidas, que a decisão está compromissada com a mercantilização da natureza pelos setores capitalistas.

Portanto, houve uma priorização do lucro imediato sobre a sustentabilidade, a partir de disputas ideológicas que criam dicotomias do tipo “nós contra eles”.

O que houve, então, foi uma escolha por se abster em aceitar que o meio ambiente não é apenas um recurso físico, mas um espaço social dinâmico onde se expressam conflitos, valores e desigualdades, sendo um tema fundamental para o debate sobre sustentabilidade, desenvolvimento e o futuro das civilizações.

E como toda escolha ou decisão tem um preço para o capital político, essa não é diferente. Haja vista que desinteresse pela opinião pública, claramente manifestado por uma parcela significativa dos legisladores federais, tende a levar sim, à perda desse capital.

Na medida em que a dissonância entre ações e discursos parlamentares exibe tamanha desconexão com as demandas da sociedade, há uma flagrante redução da legitimidade e da confiança depositada no espectro político-partidário, tanto nacional quanto internacionalmente.

Por isso, ignorar a opinião pública é flertar com a perda de capital político, materializado na redução de votos e do apoio em futuras eleições. Sobretudo, quando o assunto afeta diretamente o bem-estar da população.

Diante de episódios diversos envolvendo mudanças no cenário ambiental brasileiro, não parece prudente ou sensato defender a tese de que as questões ambientais não são de interesse da população.

Seja por causar problemas de saúde, por impactar a segurança alimentar, por reduzir a disponibilidade de água, a verdade é que os desequilíbrios de ecossistemas e as deficiências de recursos naturais essenciais estão promovendo um desequilíbrio avassalador sobre a realidade de diferentes populações.

Além disso, de acordo com os dados mais recentes do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), divulgados em fevereiro de 2025, o número de eleitores no Brasil é de aproximadamente 158,6 milhões de pessoas.

Por essa razão, um alto capital político deve ser construído sobre uma base sólida de apoio eleitoral, o que significa que para manter esse apoio os pretensos representantes político-partidários precisam agir de forma responsável e transparente, ou seja, prestando contas de suas decisões e ações.

Mas, há um ponto fundamental nessa reflexão. A defesa do meio ambiente exerce papel fundamental para o comércio exterior, na contemporaneidade. Veja, ela não só garante a competitividade e o acesso a mercados internacionais, influenciando importantes acordos comerciais, como atrai investimentos e fortalece a imagem do país.

Algo fácil de entender, observando a crescente demanda de consumidores e governos por produtos sustentáveis ​​e a existência de legislações ambientais rigorosas, como a da União Europeia, que obriga as empresas que negociam com eles a adotarem práticas mais verdes, rastreabilidade e certificações.

Nesse contexto, a decisão do Congresso Nacional foi, como já disse anteriormente, errática. A derrubada dos vetos prejudica os eleitores e cidadãos brasileiros, as relações diplomáticas e de comércio exterior, a economia, a saúde pública, a produção de alimentos, ...

Vale lembrar que governos vêm e vão. O país fica. E a pergunta a se fazer é em que condições ambientais? Os eventos climáticos e extremos estão aí, se agravando devido ao aquecimento global, tornando-se mais frequentes e intensos; bem como, causando destruição generalizada, afetando a segurança alimentar e hídrica e representando sérios riscos à saúde humana.

Feitas essas breves considerações, a sugestão para o Congresso Nacional é começar a rever os seus conceitos, as suas práxis. A politicagem prejudica o capital político com efeitos nefastos, os quais incluem desde a corrosão da confiança pública até a destruição da reputação e da imagem dos políticos e das instituições a que pertencem.