quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Nenhum progresso acontece sem mudança


Nenhum progresso acontece sem mudança

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Já dizia Eduardo Galeano, “Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos”. Lembrei-me dessa citação, olhando atentamente para o momento atual da sociedade brasileira, o qual está permeado por idiotice, por idolatria, por ignorância, por anticidadania, por antidemocracia, por radicalismo.

Bem, qualquer mudança está fundamentada em vários aspectos. É preciso disposição, racionalidade e despojamento, tanto do ponto de vista individual quanto coletivo e circunstancial, para se colocar a mão na massa e mudar. Afinal de contas, mudar é um exercício e, como tal, impõe tempo, cansaço, desgaste, trabalho, ...

Razão pela qual, muita gente, por aí, acaba permanecendo inerte, imóvel, na mais absoluta zona de conforto, desfrutando das conveniências que o seu imobilismo proporciona, apesar dos pesares.

Uma pena, porque o ideal seria “Desaprender para aprender. Deletar para escrever em cima. Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar” (Martha Medeiros 1).

Mas, como a realidade nem sempre se coaduna com o ideal, as mudanças, na maioria das vezes, passam despercebidas, negligenciadas, postergadas, esquecidas. Acontece que, apesar do não fazer ser uma escolha, ele não deixa de ser uma decisão e, por isso, tem consequências, desdobramentos, reverberações, os quais, nem sempre, são positivos.  

Nesse contexto, a historicidade social brasileira tem muito a contar. Basta olhar para a assimétrica estratificação da sociedade, para compreender o papel das estruturas militares na manutenção e na garantia dos poderes e dos interesses das elites dominantes.

Tanto que a relação entre o militarismo e a política no Brasil é marcada por intervenções e apoio civil-militar, em diferentes momentos da história, os quais, muitas delas culminaram em golpes de Estado e ditaduras.  

No entanto, apesar dos processos de retirada dos militares da política, com o respaldo de setores da sociedade civil e militar, a grande verdade é que desde a Primeira República, a politização de militares foi incentivada, e a atuação militar na política sempre envolveu coalizões com civis, fossem eles governistas ou de oposição.

De modo que, nas últimas décadas, especialmente após a Lei da Anistia (lei n° 6.683, de 28 de agosto de 1979), que deixou um rastro de insatisfação entre certos segmentos da sociedade, especialmente entre os elementos das elites dominantes, a politização dos militares voltou a ser alimentada por setores civis.

O resultado disso foi uma nova tentativa de Golpe de Estado, no Brasil, que se desenrolou ao longo do governo anterior, com participação direta de militares, dos mais diversos escalões das forças armadas.  

Embora os fatos tenham sido apurados e estejam sendo julgados, agora, pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em ação de grande ineditismo na história nacional, a politização de militares permanece uma questão de suma importância a ser resolvida.

Haja vista, o fato noticiado pela imprensa nacional, em que o governador do Estado de São Paulo, aliado de primeira ordem do ex-Presidente da República e réu na Ação Penal (AP) 2.668, que trata da tentativa de golpe de Estado, esteve presente em uma cerimônia de promoção de 16 generais, da sua turma de formação na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN), em um quartel do Exército, e depois se dirigiu para a residência do ex-Presidente 2.

Considerando que há uma clara tensão existente, por conta da polarização político-partidária, que envolve também o julgamento da Ação Penal (AP) 2.668, no país, a postura do governador do Estado de São Paulo, nessa e em outras recentes situações, tem deixado claro a sua intenção em demonstrar algum tipo de força e articulação política, entre civis e militares.

O que significa que, apesar dos gravíssimos acontecimentos recentes na República Federativa do Brasil, as crenças, os valores, os princípios e as convicções, dos apoiadores e simpatizantes dos espectros políticos de Direita, parecem refratárias às mudanças. Portanto, um sinal de flagrante risco e ameaça à Democracia, ao Estado de Direito e ao Brasil.

Razão pela qual, hoje, em Genebra, o relator da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Memória, Verdade e Justiça, fará um alerta sobre a necessidade de o Brasil rever a Lei da Anistia, relativa à Ditadura Militar entre 1964 e 1985; bem como, de promover uma reforma estrutural nas Forças Armadas brasileiras a fim de acabar com o grave déficit democrático presente nelas 3.

Por isso, traçando-se uma linha temporal a respeito desse assunto, o papel do Ministério da Defesa, enquanto responsável por assegurar a soberania e os interesses nacionais, reunir as forças militares e o componente civil sob uma visão estratégica única, torna-se fundamental uma postura mais enfática e incisiva em prol das mudanças urgentes e necessárias no setor.   

Relembrando as palavras de Paulo Coelho, escritor brasileiro, “As pessoas reclamam muito, mas se acovardam na hora de tomar providências. Querem que tudo mude, mas elas mesmas se recusam a mudar”. Por isso, quando se fala tanto em soberania, o Brasil deve enfrentar o seu passado de ditaduras nefastas a fim de aspirar pela concretização de um futuro verdadeiramente democrático e cidadão.

Afinal, “Não é triste mudar de ideias, triste é não ter ideias para mudar” (Barão de Itararé - jornalista, escritor e humorista político brasileiro). Não dá mais para continuar negando, fingindo, esquivando de reconhecer que “O progresso é impossível sem mudança; e aqueles que não conseguem mudar as suas mentes não conseguem mudar nada” (George Bernard Shaw – dramaturgo, romancista irlandês, Prêmio Nobel de Literatura em 1925).