quarta-feira, 21 de maio de 2025

O mundo e seus lados

O mundo e seus lados

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Século XXI. A história do mundo parece redesenhar o velho ideário proposto pela ultradireita. Dessa vez, a expansão ultradireitista tem como objetivo primordial conter os avanços geopolíticos e econômicos da China. O que explica o enorme interesse estadunidense em fomentar sua ingerência sobre os países da América Latina, por exemplo. Algo que não parece tão complicado, tendo em vista o alinhamento histórico das elites latino-americanas aos EUA, como aconteceu no Brasil, em 1964.

O preço do colonialismo no mundo é alto, como pode se ver! As elites não entendem que a reprodução de antigos padrões pode significar o caminho da sua própria ruína. Elas próprias sabem muito bem que o exercício de dominação sobre outros, geralmente com o objetivo de controle político, econômico e cultural, leva ao descarte quando não se mostra mais necessário. Afinal, os interesses dominadores se sobrepõe aos interesses dos dominados.

E olhando para o contexto atual, há muito a perder. Enquanto os estadunidenses se voltaram para um modelo de enriquecimento estruturado sobre a especulação financeira, os mercados de ações, em detrimento do perfil histórico do desenvolvimento industrial e científico, consequências como a redução do comércio internacional, as crises econômicas e o desemprego, tornaram-se uma realidade amarga para conviver.

Na contramão desse panorama, a China tem se dedicado, há décadas, a um processo de hipervalorização do conhecimento técnico-científico para o aprimoramento, ampliação e diversificação da sua produção industrial, de modo a constituir um mercado competitivo dentro da geopolítica. Haja vista a nova rota da seda que pretende aproximar a China do mundo exterior com investimentos e projetos de infraestrutura. Portanto, a China atingiu um dos seus principais objetivos, ou seja, ampliar a sua influência.

Mesmo não tendo revertido a orientação ideológica para o Ocidente de muitos países, as suas conquistas, mundo afora, incomodam e desconfortam os representantes da ultradireita; sobretudo, os EUA. Seja objetiva ou subjetivamente, os governos estrangeiros tendem, de algum modo, a se sentirem pressionados a seguir a agenda de Pequim, a fim de evitar a retirada de investimentos chineses dos seus países.

Daí, valendo-se da política do caos, da instabilidade, das ameaças e do medo, verifica-se o recrudescimento ultradireitista, no cenário global. Ora, “Sabemos que os poderosos têm medo do pensamento, pois o poder é mais forte se ninguém pensar, se todo mundo aceitar as coisas como elas são, ou melhor, como nos dizem e nos fazem acreditar que elas são” (Marilena Chauí – filósofa e professora de Filosofia Moderna na Universidade de São Paulo - USP). Por isso, o discurso franco da ultradireita tem deixado evidente a sua disposição em jogar pesado, inclusive, interferindo nas escolhas eleitorais de muitos países.

Não é preciso ser nenhum expert, para entender, por exemplo, como a visita do governo brasileiro à China causou uma resposta estridente e raivosa, por parte dos ultradireitistas brasileiros, incluindo apoiadores e simpatizantes desse espectro político-partidário. Afinal de contas, esses indivíduos, historicamente, sempre estiveram alinhados e subservientes aos domínios do imperialismo ocidental. Sobretudo, o estadunidense.

O que significa que, apesar de toda a dinâmica de progresso e evolução social do mundo, eles insistem em permanecer trabalhando arduamente na manutenção da preservação desse status quo, mesmo diante de todos os rompantes histriônicos cometidos pelo governo dos EUA contra a economia global. Porque, “O discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar” (Michel Foucault - filósofo, teórico social, filólogo e crítico literário francês).

Feitas essas breves considerações, “Devemos não somente nos defender, mas também nos afirmar, e nos afirmar não somente enquanto identidades, mas enquanto força criativa” (Michel Foucault). Afinal, “Somos indivíduos livres e nossa liberdade nos condena a tomarmos decisões durante toda a nossa vida. Não existem valores ou regras eternas, a partir das quais podemos no guiar. E isto torna mais importantes nossas decisões, nossas escolhas” (Jean-Paul Sartre – filósofo e ativista político francês).

Esse é o ponto, “O que realmente importa na vida e no trabalho é se transformar em alguém diferente do que se era no começo” (Michel Foucault). Simplesmente, porque essa decisão nos impulsiona a ponderar sobre os prós e os contra, a tecer um retrospecto analítico profundo sobre a própria historicidade, com todas as suas perdas e ganhos. Uma compreensão que serve para pessoas, para coisas e para países, também.