O mundo e
seus lados
Por Alessandra
Leles Rocha
Século XXI. A história do mundo
parece redesenhar o velho ideário proposto pela ultradireita. Dessa vez, a
expansão ultradireitista tem como objetivo primordial conter os avanços geopolíticos
e econômicos da China. O que explica o enorme interesse estadunidense em fomentar
sua ingerência sobre os países da América Latina, por exemplo. Algo que não
parece tão complicado, tendo em vista o alinhamento histórico das elites latino-americanas
aos EUA, como aconteceu no Brasil, em 1964.
O preço do colonialismo no mundo
é alto, como pode se ver! As elites não entendem que a reprodução de antigos
padrões pode significar o caminho da sua própria ruína. Elas próprias sabem
muito bem que o exercício de dominação sobre outros, geralmente com o objetivo
de controle político, econômico e cultural, leva ao descarte quando não se
mostra mais necessário. Afinal, os interesses dominadores se sobrepõe aos
interesses dos dominados.
E olhando para o contexto atual, há
muito a perder. Enquanto os estadunidenses se voltaram para um modelo de
enriquecimento estruturado sobre a especulação financeira, os mercados de
ações, em detrimento do perfil histórico do desenvolvimento industrial e científico,
consequências como a redução do comércio internacional, as crises econômicas e
o desemprego, tornaram-se uma realidade amarga para conviver.
Na contramão desse panorama, a
China tem se dedicado, há décadas, a um processo de hipervalorização do
conhecimento técnico-científico para o aprimoramento, ampliação e
diversificação da sua produção industrial, de modo a constituir um mercado
competitivo dentro da geopolítica. Haja vista a nova rota da seda que pretende
aproximar a China do mundo exterior com investimentos e projetos de
infraestrutura. Portanto, a China atingiu um dos seus principais objetivos, ou
seja, ampliar a sua influência.
Mesmo não tendo revertido a
orientação ideológica para o Ocidente de muitos países, as suas conquistas,
mundo afora, incomodam e desconfortam os representantes da ultradireita;
sobretudo, os EUA. Seja objetiva ou subjetivamente, os governos estrangeiros tendem,
de algum modo, a se sentirem pressionados a seguir a agenda de Pequim, a fim de
evitar a retirada de investimentos chineses dos seus países.
Daí, valendo-se da política do
caos, da instabilidade, das ameaças e do medo, verifica-se o recrudescimento ultradireitista,
no cenário global. Ora, “Sabemos que os poderosos têm medo do pensamento,
pois o poder é mais forte se ninguém pensar, se todo mundo aceitar as coisas
como elas são, ou melhor, como nos dizem e nos fazem acreditar que elas são” (Marilena
Chauí – filósofa e professora de Filosofia Moderna na Universidade de São Paulo
- USP). Por isso, o discurso franco da ultradireita tem deixado evidente a
sua disposição em jogar pesado, inclusive, interferindo nas escolhas eleitorais
de muitos países.
Não é preciso ser nenhum expert,
para entender, por exemplo, como a visita do governo brasileiro à China causou
uma resposta estridente e raivosa, por parte dos ultradireitistas brasileiros,
incluindo apoiadores e simpatizantes desse espectro político-partidário. Afinal
de contas, esses indivíduos, historicamente, sempre estiveram alinhados e
subservientes aos domínios do imperialismo ocidental. Sobretudo, o
estadunidense.
O que significa que, apesar de
toda a dinâmica de progresso e evolução social do mundo, eles insistem em permanecer
trabalhando arduamente na manutenção da preservação desse status quo,
mesmo diante de todos os rompantes histriônicos cometidos pelo governo dos EUA
contra a economia global. Porque, “O discurso não é simplesmente aquilo que
traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo por que, pelo que se
luta, o poder do qual nos queremos apoderar” (Michel Foucault - filósofo,
teórico social, filólogo e crítico literário francês).
Feitas essas breves
considerações, “Devemos não somente nos defender, mas também nos afirmar, e
nos afirmar não somente enquanto identidades, mas enquanto força criativa” (Michel
Foucault). Afinal, “Somos indivíduos livres e nossa liberdade nos
condena a tomarmos decisões durante toda a nossa vida. Não existem valores ou
regras eternas, a partir das quais podemos no guiar. E isto torna mais
importantes nossas decisões, nossas escolhas” (Jean-Paul Sartre – filósofo e ativista
político francês).
Esse é o ponto, “O que
realmente importa na vida e no trabalho é se transformar em alguém diferente do
que se era no começo” (Michel Foucault). Simplesmente, porque essa decisão nos
impulsiona a ponderar sobre os prós e os contra, a tecer um retrospecto
analítico profundo sobre a própria historicidade, com todas as suas perdas e
ganhos. Uma compreensão que serve para pessoas, para coisas e para
países, também.