quinta-feira, 22 de maio de 2025

Projeto de Lei (PL) 2.159/2021


Projeto de Lei (PL) 2.159/2021

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

BRASIL. O país recebeu esse nome por conta da espécie vegetal Paubrasilia echinata (Pau-Brasil), uma árvore endêmica da Mata Atlântica brasileira, a qual despertou imenso interesse dos colonizadores portugueses, no século XVI, pela madeira vermelha utilizada para tingir tecidos. É dessa forma que teve início o processo de colonização de exploração, o qual foi submetido o nosso país.

Não só o Pau-Brasil, mas inúmeras outras madeiras-de-lei, tais como o ipê, o mogno, o cedro, o jatobá, o jacarandá, a cabreúva e a peroba, deram o pontapé inicial para o ganho econômico imediato da Metrópole portuguesa. Diante da ausência de legislação regulamentadora para a exploração, na época, o que se viu foi o rápido processo de extinção de inúmeros representantes da flora nacional e, por consequência, da fauna.

Daí a necessidade de recapitular a historicidade brasileira para compreender a realidade contemporânea. O Senado aprovou, ontem, 21 de maio de 2025, o desmonte do licenciamento ambiental no país. Trata-se não apenas do maior ataque à legislação ambiental das últimas quatro décadas; mas, da reafirmação das velhas práxis colonialistas do século XVI. Isso significa que o Brasil não aprendeu absolutamente nada, nesses pouco mais de 500 anos de história.

Com a diferença de que, durante o colonialismo, as decisões e escolhas foram tomadas à revelia da população e sem quaisquer bases técnicas e científicas de proteção ambiental; hoje, em pleno século XXI, a subserviência, a submissão, a subordinação, a irresistência aos interesses internacionais, ocorre de maneira voluntária, a fim de garantir a manutenção das regalias, dos privilégios, dos interesses e dos poderes das elites dominantes locais. Portanto, a exploração acontece de caso pensado, na expressão mais realista e abjeta do viralatismo nacional.

É certo que a exata compreensão dos impactos socioambientais negativos, oriundos das práxis exploratórias da colonização, só foram compreendidos alguns séculos depois, com o avanço das ciências naturais e ambientais. Mas, de posse de tamanho conhecimento já consolidado, é de se espantar a insistência e a persistência em se manter na contramão da evolução social.

Bastaria pensar que o planeta Terra possui aproximadamente 8,09 bilhões de pessoas e que o recrudescimento das ações antrópicas, incluindo a exploração dizimatória dos recursos naturais, inviabiliza a sobrevivência em condições minimamente favoráveis. Pois, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), “a interrupção do desmatamento em todo o mundo poderia evitar a emissão de cerca de 3,6 gigatoneladas (Gt) de dióxido de carbono equivalentes (CO2e) por ano entre 2020 e 2050, incluindo cerca de 14% do que é necessário até 2030 para manter o aquecimento global abaixo de 1,5°C. Já a restauração de 1,5 bilhão de hectares de terras degradadas e o aumento da cobertura arbórea poderia aumentar a produtividade agrícola em mais de 1 bilhão de hectares, retirando até 1,5 GtCO2e por ano até 2050. Além disso, a construção de cadeias de valor verde que apoiem a floresta em pé ajudaria a atender à demanda futura por materiais, além de viabilizar economias sustentáveis com mais oportunidades de emprego e meios de subsistência mais seguros” 1.

No início desse mês, durante a 20ª Sessão do Fórum de Florestas, realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), foi reafirmada a necessidade de reconhecimento das conexões entre desmatamento e pobreza, desenvolvimento industrial, demanda por alimentos, energia e mudanças climáticas, para que estratégias de reversão do desmatamento, do aumento de áreas manejadas de forma sustentável, e de fortalecimento das estruturas de governança florestal e de aplicação da lei, possam garantir a sobrevivência humana no planeta.

Há um provérbio do povo Cree (Nehiyaw), indígenas norte-americanos habitantes principalmente no Canadá, que diz: “Somente após a última árvore ser cortada, o último rio ser envenenado e o último peixe ser pescado. Somente então o homem descobrirá que o dinheiro não pode ser comido”. Essa é a conclusão óbvia diante do avanço das práxis de exploração dizimatória, na contemporaneidade.

Só se mantém o equilíbrio ecossistêmico quando os componentes bióticos - plantas, animais, fungos e bactérias - e abióticos - água, luz, solo, clima e temperatura - interagem e estão inseparavelmente relacionados. Diante da intensificação das ações antrópicas, a ruptura desse equilíbrio tende, inevitavelmente, a promover consequências e desdobramentos severos e irreparáveis às diferentes populações e objetivos econômicos. Como dizia Sêneca, filósofo estoico da Roma Antiga, “Para a ganância, toda a natureza é insuficiente”.

Assim, parafraseando as palavras de Bill Mollison, biólogo, agricultor e ambientalista australiano, o problema das práxis de desenvolvimento atual, é que não se trata de um sistema voltado para atender as demandas prioritárias dos seres humanos, e sim para a produção de dinheiro. Nesse sentido, cada dia a mais é um a menos na corrida pela sobrevivência. Está posto a prova se o instinto de sobrevivência humana existe ou não.