domingo, 3 de setembro de 2023

Bem, todos os dias deveriam ser dias do (a) Biólogo (a) ...


Bem, todos os dias deveriam ser dias do (a) Biólogo (a) ...

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Uma das descobertas mais fabulosas que o curso de Biologia me proporcionou, enquanto ser humano, foi a compreensão de que há sempre mais por aprender. A maioria das pessoas, talvez, não entenda; mas, ser biólogo (a) é algo que pesa sobre os ombros, dada a imensidão e a complexidade dos assuntos estudados.

E nem poderia ser diferente, a Biologia estuda a vida! Animais. Vegetais. Fungos. Protistas. Monera. Vírus. Rochas. Fósseis. E dentro de cada espaço desses, milhões de caminhos a serem percorridos pelo saber científico, de modo que somos incapazes de nos dedicar a todos eles na profundidade que, certamente, o nosso encantamento se satisfaria.

Sério! A Biologia traz sempre um gosto de quero mais, mesmo que a impossibilidade para tal se faça presente. Tudo porque o (a) biólogo (a) se sente como um gatinho mergulhado num balaio de lãs coloridas. Puxa um fiozinho daqui outro dali, e vai puxando e se maravilhando com as informações que se conectam e se desdobram em outras milhares.

Devo admitir que eu teimei e tentei mudar essa lógica; mas, não obtive êxito. Fiz o máximo de matérias optativas que os horários me permitiram, participei de eventos científicos diversos, enfim... Mas o céu da Biologia é grande demais! É preciso foco e concentração para não se perder nos devaneios científicos, os quais insistem em capturar as atenções e levar o cérebro para uma jornada sem fim.

Afinal de contas, o território da Biologia também faz fronteiras com outras áreas extraordinárias do conhecimento. Geografia. Sociologia. História. Filosofia. Geologia. Paleontologia. Economia. ... Aliás, parafraseando o professor Milton Santos, do mesmo modo que o geógrafo (a) é um (a) filósofo, o (a) biólogo (a) também, porque os filósofos são otimistas em razão de que diante deles está a infinidade.

Por isso, a Biologia é uma área essencial. Essa capacidade extraordinária de dialogar, de compartilhar e de complementar, com outros pares, o conhecimento, faz dela uma mola propulsora sutil de progresso e de desenvolvimento. Algo que me faz recordar as palavras de Rubem Alves, quando escreveu que “Todo conhecimento começa com o sonho. O sonho nada mais é que a aventura pelo mar desconhecido, em busca da terra sonhada. Mas sonhar é coisa que não se ensina, brota das profundezas do corpo, como a alegria brota das profundezas da terra. Como mestre só posso então lhe dizer uma coisa. Contem-me os seus sonhos para que sonhemos juntos” [1].

Biólogos (as) são sonhadores, por excelência! Dormindo ou acordados, suas mentes são incansáveis na arte de traduzir curiosidade em resposta. Como se disso necessitasse a sua própria existência, enquanto indivíduos. Explorar, desbravar, percorrer, superar, dominar, são as fontes do oxigênio que alimenta a combustão do seu pensamento, da sua criatividade, da sua inventividade.

Até a página dois da história, um (a) biólogo (a) é sim, um ser humano comum. Adiante, entretanto, fica simplesmente irreconhecível. Seu modo de olhar, de pensar, de refletir, de analisar, de explicar, não é nada trivial. A começar na riqueza dos detalhes que o (a) conduzem a uma fala prolixa, a qual ele (a) não quer deixar escapar nada daquilo que lhe arrebata os sentidos.

Ah! E como ele (a) queria que o mundo inteiro fosse assim! Talvez, por isso, ele se empenhe tanto na missão de persuadir os outros com seu excesso de euforia e de entusiasmo.  Às vezes, chego a pensar que o (a) biólogo (a) nasce desprovido de meio termo, de equilíbrio; pois, sua emoção corre à flor da pele e salta pelo brilho do olhar.

Ah, se o mundo fosse mais assim! Não necessariamente povoado só por biólogos (as); mas, por gente talhada por esse espírito! Certamente que a vida faria mais sentido. Que tudo pareceria no seu devido lugar, fosse a razão ou a sensibilidade. Que cada sopro de existência soubesse reconhecer o seu papel, a sua importância, na dinâmica do cotidiano. Nem precisaríamos viver esperando por “Dias melhores / Dias de paz, dias a mais / Dias que não deixaríamos para trás” 2.

Mas, enquanto não chega esse dia, vale agradecer e parabenizar a todos os (as) biólogos (as), aqueles de vocação e/ou de coração, pelos seus esforços, pela sua presença, pela sua contribuição em favor da vida. Afinal, como manifestou Charles Darwin, “O amor por todas as criaturas viventes é o mais nobre atributo do homem”.



[1] ALVES, R. A alegria de ensinar. São Paulo: Ars Poética Editora LTDA., 1994.

2 Dias melhores (Jota Quest) - https://www.youtube.com/watch?v=9dsUVU7ERK4