Bem,
todos os dias deveriam ser dias do (a) Biólogo (a) ...
Por Alessandra
Leles Rocha
Uma das descobertas mais
fabulosas que o curso de Biologia me proporcionou, enquanto ser humano, foi a
compreensão de que há sempre mais por aprender. A maioria das pessoas, talvez,
não entenda; mas, ser biólogo (a) é algo que pesa sobre os ombros, dada a
imensidão e a complexidade dos assuntos estudados.
E nem poderia ser diferente, a
Biologia estuda a vida! Animais. Vegetais. Fungos. Protistas. Monera. Vírus.
Rochas. Fósseis. E dentro de cada espaço desses, milhões de caminhos a serem
percorridos pelo saber científico, de modo que somos incapazes de nos dedicar a
todos eles na profundidade que, certamente, o nosso encantamento se satisfaria.
Sério! A Biologia traz sempre um
gosto de quero mais, mesmo que a impossibilidade para tal se faça presente. Tudo
porque o (a) biólogo (a) se sente como um gatinho mergulhado num balaio de lãs
coloridas. Puxa um fiozinho daqui outro dali, e vai puxando e se maravilhando
com as informações que se conectam e se desdobram em outras milhares.
Devo admitir que eu teimei e
tentei mudar essa lógica; mas, não obtive êxito. Fiz o máximo de matérias optativas
que os horários me permitiram, participei de eventos científicos diversos,
enfim... Mas o céu da Biologia é grande demais! É preciso foco e concentração
para não se perder nos devaneios científicos, os quais insistem em capturar as
atenções e levar o cérebro para uma jornada sem fim.
Afinal de contas, o território da
Biologia também faz fronteiras com outras áreas extraordinárias do
conhecimento. Geografia. Sociologia. História. Filosofia. Geologia.
Paleontologia. Economia. ... Aliás, parafraseando o professor Milton Santos, do
mesmo modo que o geógrafo (a) é um (a) filósofo, o (a) biólogo (a) também, porque
os filósofos são otimistas em razão de que diante deles está a infinidade.
Por isso, a Biologia é uma área
essencial. Essa capacidade extraordinária de dialogar, de compartilhar e de
complementar, com outros pares, o conhecimento, faz dela uma mola propulsora sutil
de progresso e de desenvolvimento. Algo que me faz recordar as palavras de
Rubem Alves, quando escreveu que “Todo conhecimento começa com o sonho. O sonho
nada mais é que a aventura pelo mar desconhecido, em busca da terra sonhada. Mas
sonhar é coisa que não se ensina, brota das profundezas do corpo, como a alegria
brota das profundezas da terra. Como mestre só posso então lhe dizer uma coisa.
Contem-me os seus sonhos para que sonhemos juntos” [1].
Biólogos (as) são sonhadores, por
excelência! Dormindo ou acordados, suas mentes são incansáveis na arte de
traduzir curiosidade em resposta. Como se disso necessitasse a sua própria existência,
enquanto indivíduos. Explorar, desbravar, percorrer, superar, dominar, são as
fontes do oxigênio que alimenta a combustão do seu pensamento, da sua
criatividade, da sua inventividade.
Até a página dois da história, um
(a) biólogo (a) é sim, um ser humano comum. Adiante, entretanto, fica
simplesmente irreconhecível. Seu modo de olhar, de pensar, de refletir, de
analisar, de explicar, não é nada trivial. A começar na riqueza dos detalhes
que o (a) conduzem a uma fala prolixa, a qual ele (a) não quer deixar escapar
nada daquilo que lhe arrebata os sentidos.
Ah! E como ele (a) queria que o
mundo inteiro fosse assim! Talvez, por isso, ele se empenhe tanto na missão de
persuadir os outros com seu excesso de euforia e de entusiasmo. Às vezes, chego a pensar que o (a) biólogo (a)
nasce desprovido de meio termo, de equilíbrio; pois, sua emoção corre à flor da
pele e salta pelo brilho do olhar.
Ah, se o mundo fosse mais assim! Não
necessariamente povoado só por biólogos (as); mas, por gente talhada por esse
espírito! Certamente que a vida faria mais sentido. Que tudo pareceria no seu
devido lugar, fosse a razão ou a sensibilidade. Que cada sopro de existência soubesse
reconhecer o seu papel, a sua importância, na dinâmica do cotidiano. Nem precisaríamos
viver esperando por “Dias melhores / Dias de paz, dias a mais / Dias que não
deixaríamos para trás” 2.
Mas, enquanto não chega esse dia,
vale agradecer e parabenizar a todos os (as) biólogos (as), aqueles de vocação e/ou
de coração, pelos seus esforços, pela sua presença, pela sua contribuição em
favor da vida. Afinal, como manifestou Charles Darwin, “O amor por todas as
criaturas viventes é o mais nobre atributo do homem”.
[1] ALVES,
R. A alegria de ensinar. São Paulo: Ars Poética Editora LTDA., 1994.
2 Dias melhores (Jota Quest) - https://www.youtube.com/watch?v=9dsUVU7ERK4