quinta-feira, 20 de abril de 2023

Até quando vamos nos permitir girar nessa espiral insana???


Até quando vamos nos permitir girar nessa espiral insana???

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

Nada mais representativo para o mundo contemporâneo do que a herança da Segunda Guerra Mundial; sobretudo, em termos estatísticos da mortandade de pessoas, de todo o processo de reconstrução geopolítico e de responsabilização e de punição dos culpados. Afinal, imagina se o cenário de terra arrasada tivesse intimidado o avanço das nações, prendendo-as a uma espiral insana que gira repetindo e reverberando os infortúnios sem conseguir sair do lugar?

Mas, ao que parece, nem todos os países do mundo extraíram algum aprendizado disso. Haja vista o Brasil. Respeitadas as devidas proporções e o fato de o 8 de janeiro de 2023, na capital federal, ser um episódio de convulsão e beligerância social relativamente recente, aparenta-se clara a existência de uma corrente social que defende a ideia do país se prender a essa espiral insana 1, girando a repetição e a reverberação dos infortúnios, para resguardar sua inação.

Observe, como os pequenos avanços já alcançados pela atual gestão, ao longo desse limitado recorte de tempo, são obrigados a disputar espaço com constates reinterpretações do fatídico acontecimento, por grupos que tentam construir novas perspectivas à luz de seus interesses e inconformismos. Apesar de todo o ímpeto convicto que colocou em curso o processo de reconstrução nacional e de responsabilização e punição dos culpados, desde a flagrância dos acontecimentos, eles insistem em chafurdar na lama. O que soa como um disco arranhado, cansando ouvidos e mentes.

De modo que tamanha insistência acaba descortinando a verdadeira intenção desse modus operandi defendido pela direita brasileira e seus matizes simpatizantes. Não foi a perda eleitoral, em si, que lhes tomou de raiva e de fúria ao ponto de ostentar toda a sua incivilidade criminosa pelos espaços de poder da capital federal. Foi perder para aqueles que julgam inferiores, incapazes, desimportantes, e que historicamente foram colocados à margem de qualquer possibilidade de ascensão e poder. Portanto, gente que, na concepção deles, não poderia em hipótese alguma lograr êxito na governança do país.  

Daí as inúmeras tentativas em ofuscar e apagar o curso dos acontecimentos cotidianos, que possam trazer eventualmente alguma boa nova, por mínima que seja. Isso seria admitir que eles não são inferiores, ou incapazes, ou desimportantes. Muito pelo contrário! Apenas dispõem de uma outra visão de mundo, de cidadania, de governança, de futuro, de progresso e de desenvolvimento. Não são nem mais e nem menos, são apenas diferentes na expressão de seus talentos, habilidades e/ou competências.

Entretanto, isso desconstrói a ideologia do medo e do ódio que a direita com seus matizes simpatizantes, especialmente, a ultradireita, tenta reafirmar constantemente contra o atual governo. Algo tão raso, tão provinciano, que não traduz nada! Eles não conseguem apontar fragilidades e vulnerabilidades efetivamente consistentes e convincentes, tendo em vista que seus argumentos infactíveis são incapazes de promover uma marca de distinção e especificidade para os seus oponentes. De modo que seus discursos e narrativas, inflamadas por aversão e irracionalidade, tornam-se espelhos para eles mesmos.

Talvez, isso explique a extensão do cansaço social que se abateu sobre o país. Levada por uma tempestade de delírios e absurdos narcísicos, a direita e seus matizes simpatizantes, mais ou menos radicais, parece ter se esquecido de que o Brasil ainda está preso ao globo terrestre e não pode, simplesmente, se dar ao luxo de olhar apenas para si mesmo. A realidade contemporânea coloca-se cada vez mais hostil e desafiadora, enfatizando, de algum modo, o velho dilema do porco-espinho 2, ou seja, a sobrevivência individual dependerá da habilidade e da competência para manter o equilíbrio da convivência coletiva.

O planeta não para de girar e de impor conjunturas, bastante complexas, que afetam diretamente a sobrevivência e o desenvolvimento brasileiro. É preciso entender, então, o que é ou não prioridade para poder elencá-la e mover suas engrenagens. A síntese dessa compreensão me parece as palavras de Steve Jobs, em seu discurso na Universidade de Stanford, em 2005, ou seja, “Seu tempo é limitado, então, não percam tempo vivendo a vida de outro. Não sejam aprisionados pelo dogma – que é viver com os resultados do pensamento de outras pessoas. Não deixe o barulho da opinião dos outros abafar sua voz interior. E mais importante, tenha coragem de seguir seu coração e sua intuição. Eles de alguma forma já sabem o que você realmente quer se tornar. Tudo o mais é secundário”.


2 Metáfora criada pelo filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) para ilustrar o problema da convivência humana. 

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